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14 de Setembro de 2018 às 11:00

Portugal é um reality show

Caso ainda não tenham reparado estamos no meio de um reality show: Rui Rio dá o braço a Mariana Mortágua enquanto dispara para dentro do seu partido; António Costa sacode Catarina Martins e fica mudo com as denúncias sobre Manuel Salgado

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Back to basics
Um conservador é um homem que tem duas pernas em excelentes condições, mas que no entanto nunca aprendeu a andar.
Franklin D. Roosevelt

Portugal é um reality show
Caso ainda não tenham reparado estamos no meio de um reality show: Rui Rio dá o braço a Mariana Mortágua enquanto dispara para dentro do seu partido; António Costa sacode Catarina Martins e fica mudo com as denúncias sobre Manuel Salgado; Assunção Cristas reivindica a liderança da oposição; Jerónimo de Sousa introduz as galinhas poedeiras na discussão do Orçamento do Estado e o ministro da Defesa faz-se sempre de distraído quando se fala do desaparecimento das armas de Tancos. Como se não chegasse o futebol está atolado em suspeitas e as investigações judiciais são palco de números de ilusionismo. Nem mesmo o argumentista mais brilhante se lembraria de um naipe destes. É coisa de arromba. Relações que azedam, acusações pelo ar, ressabiamentos, infidelidades e armadilhas. Ao pé disto "Pesadelo na Cozinha" é coisa de meninos. A política, a justiça e o futebol são os maiores reality shows portugueses. Todas as semanas há novos episódios, as revelações são surpreendentes, as personagens são conhecidas de todos. Têm audiências imbatíveis, situações surpreendentes, nunca se sabe o fim. Todos andam paredes-meias com escândalos, a corrupção é coisa corriqueira, a falta de princípios é a linha condutora. É isto: temos um país que parece o palco de uma comédia bufa com péssimos actores.

Dixit
"É preciso não contar com o ovo no dito cujo da galinha."
Jerónimo de Sousa
Sobre a posição do PCP em relação ao próximo Orçamento do Estado.

Semanada
 Todos os dias há cinco queixas de crimes sexuais contra crianças  o emprego em Portugal caiu 0,3 % no segundo trimestre deste ano, em comparação com o trimestre anterior  Nunes da Silva ex-vereador do PS na Câmara Municipal de Lisboa diz que o anterior proprietário do terreno da nova torre das Picoas foi vítima de uma fraude que favoreceu o BES e responsabiliza Manuel Salgado, num caso de que Fernando Medina e António Costa terão tido conhecimento  o primeiro-ministro António Costa veio a público defender o presidente da Câmara de Pedrógão, autarquia acusada de irregularidades no processo de reconstrução de casas destruídas pelos incêndios do ano passado e que foi alvo de buscas da Polícia Judiciária esta semana  Rui Rio alinhou com Mariana Mortágua em medidas adicionais de taxação de negócios imobiliários  a CP admitiu não ter material suficiente para cumprir os horários por si afixados quanto à circulação de comboios na linha de Cascais • dados de Agosto indicam que 75% das consultas hospitalares do Serviço Nacional de Saúde têm esperas superiores a um ano e cerca de 20% superam os dois anos  um doente com cancro, do centro hospitalar de Setúbal, esperou quase meio ano pelo início do tratamento com radioterapia  é oficial, segundo a Marktest, em Portugal, pela primeira vez a utilização da internet via telemóvel (57,9%) ultrapassou a utilização por PC (55,2%)  o Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas lançou uma pós-graduação dedicada ao estudo da Igualdade de Género.

O homem do pinhal
Portugal provavelmente não teria sido o primeiro país globalizador se D. Dinis não tivesse mandado plantar o pinhal de Leiria, que deu a matéria-prima para fabricar as caravelas que fizeram os Descobrimentos. Mesmo que esta relação entre o pinhal e os Descobrimentos seja um pouco forçada, a verdade é que D. Dinis deixou marca na nossa História. O seu pinhal ardeu em grande parte no ano passado - mais um sinal da nossa decadência -, mas a sua memória continua a ser uma referência da História de Portugal. Da sua vida fazem parte a Rainha Santa Isabel, as suas poesias e também uma tendência para escapadelas amorosas. Mas o seu papel é muito mais do que aquele que se revela nas lendas: instituiu o português como língua oficial em todo o território, fez a delimitação da fronteira nacional, traçou uma estratégia para fazer crescer o país por dentro, apostou na educação e no desenvolvimento, derrotou inimigos internos, reinou durante quatro décadas. "D.Dinis - Um Destino Português" é a sua biografia, factual onde é preciso, romanceada onde valia a pena. Foi escrita por José Jorge Letria e editada por estes dias. É um belo livro sobre a nossa História, num tempo onde tudo parece estar fadado ao esquecimento.

Gosto
O Parlamento Europeu adoptou a directiva que reforma os direitos de autor e os adapta à era digital, uma medida importante para os criadores culturais, para o jornalismo e para qualquer ideia de cidadania activa.  

Não gosto
As queimadas foram responsáveis por 60% dos incêndios florestais registados este ano. 

A memória do tempo
Quando o Lux abriu há 20 anos não nasceu do zero - era o segundo capítulo do Frágil, o bar do Bairro Alto fundado em 1982 por Manuel Reis, que morreu este ano. Manuel Reis adivinhou que o Bairro Alto estava a começar a sua fase descendente, queria um espaço diferente e com outro potencial, e soube ver as possibilidades que se abriam com a renovação da parte oriental de Lisboa, quando a Expo 98 começou a ser preparada. E assim o Lux, nascido num velho armazém daquele lado do porto de Lisboa, frente à estação de comboios de Santa Apolónia, mudou a forma de ver a noite - já não era só bar, nem só discoteca, acolhia concertos, juntava tudo, tinha varandas e terraço, estava frente ao rio e criou uma legião de fiéis. Como sempre fazia, Manuel Reis foi de uma coerência absoluta no projecto, na criação do espaço, na sua identidade gráfica e visual. Esta semana abriu no Hub Criativo do Beato uma exposição que permite não só recordar a actividade do Lux nestes 20 anos, com os seus programas, cartazes, peças de decoração e fotografias, mas sobretudo perceber como foi o processo de criação do local - o que está exposto da memória descritiva do projecto entregue por Manuel Reis é uma peça deliciosa, assim como os primeiros esboços e planos dos arquitectos Fernando Sanchez Salvador e Margarida Grácio Nunes, que, como já tinham feito várias vezes antes, trabalharam com Reis. A exposição tem uma montagem fabulosa, concebida pelo designer Fernando Brízio, ainda escolhido por Manuel Reis. Chama-se Paradisaea e faz uma revisão da comunicação visual e sonora do Lux nestas duas décadas, dividido em três áreas: a primeira mostra o projecto do Lux, as suas constantes mutações e a identidade visual; a segunda mostra uso do vídeo como espaço de experimentação; e a terceira faz ouvir a música, apresenta o Lux como espaço performativo e mostra os objectos que andaram por entre o público e foram usados ao longo dos anos. Até 11 de Novembro podemos sorrir de frente para a nossa história.

Arco da velha
No Parlamento Europeu, o PCP votou contra um relatório que acusa o governo da Hungria de violação grave dos valores europeus, nomeadamente em matéria de direitos humanos e liberdade.  

Paul Simon diz adeus
À beira de fazer 77 anos, Paul Simon vai pôr fim à sua carreira no próximo dia 22, com um derradeiro concerto em Queens, o bairro de Nova Iorque onde cresceu. Há dias lançou o seu 14.º álbum de originais, "In The Blue Light". Este disco é o contrário do que costuma acontecer a músicos com esta idade. Em vez de pegar nos grandes êxitos da sua carreira e dar-lhes um toque diferente, Paul Simon escolheu dez canções que considera terem sido injustamente esquecidas no meio da sua obra e reinterpretou-as, com a colaboração de nomes como Jack DeJohnette, Bill Frisell, Steve Gadd, Wynton Marsalis e da orquestra de câmara yMusic. Aqui não há êxitos, nada de "Graceland", mas há quatro temas de "You're The One", o álbum de 2000 que Simon entende ter sido subavaliado. É o próprio Paul Simon que diz, em relação às dez canções aqui retomadas, que se limitou a dar uma nova camada de pintura numa velha casa de família pouco usada. Destaque para a forma como a orquestra de câmara yMusic refez "Can't Run But" (do álbum The Rhythm of the Saints) e o injustamente pouco conhecido "René and Georgette Magritte With Their Dog After the War"(que apareceu em Hearts And Bones). Destaque ainda para a participação de Wynton Marsalis em "How the Heart Approaches What It Yearns" da banda sonora do filme "One Trick Pony", de Bill Frisell em "Darling Lorraine" e de Jack DeJohnette em "Some Folks' Lives Roll Easy". "In The Blue Light", editado no p assado dia 7, já está disponível no Spotify.

O molho da estação
Como estamos na época das uvas deixo aqui um desafio: experimentem fazer um molho de uvas para acompanhar pratos de carne. Comecem por cortar as uvas em pedaços, e deixem-nas cozer (e desfazer) em um pouco de água, um pouco de vinho tinto de boa qualidade e um pouco de farinha de milho. Mexam bem no processo de cozedura, até ficar consistente, e no fim temperem com sumo de limão a gosto. Adicionem mais algumas uvas cortadas em quartos, mesmo antes de servir. O ideal para isto é, obviamente, usar uvas vermelhas sem grainha. Ao princípio era um bocado desconfiado quando apareceram as uvas sem grainha, mas aos poucos comecei a descobrir que o seu sabor e as suas características não ficavam a dever nada às, digamos, uvas originais. Hoje em dia elas são vulgares e estão por todo o lado. A uva sem grainha é 100% natural e surge do não desenvolvimento do embrião em algumas variedade, existe há séculos e reza a história que era muito apreciada pelos imperadores turcos - a variedade sultanas ganhou o nome por essas paragens. Hoje em dia a Herdade Vale da Rosa tornou-se no maior produtor nacional de uvas destas e cultiva sete variedades de uva sem grainha em cerca de 100 hectares do total de 250 onde tem vinha. A maior parte destas uvas sem grainha é exportada para o Norte da Europa.


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