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15 de Janeiro de 2021 às 11:14

Para que servem estas eleições?

Não sei bem se chame eleições ou referendo ao que se vai passar a partir do próximo domingo, dia de voto antecipado.

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"Quando a imprensa não fala, o povo é que não fala. Não se cala a imprensa. Cala-se o povo"
William Blake

Para que servem estas eleições?
Não sei bem se chame eleições ou referendo ao que se vai passar a partir do próximo domingo, dia de voto antecipado. Todas as sondagens apontam para uma confirmação de Marcelo Rebelo de Sousa como Presidente da República - resta saber qual a abstenção e com quantos votos contará o Presidente no final. O risco que corre, se a abstenção for grande, é ficar politicamente fragilizado, o que qualquer Governo não deixará de aproveitar. Marcelo é verdadeiramente o único candidato que corre pela vitória, os outros estão nestas eleições apenas para afirmação dos seus projectos políticos ou pessoais, num exercício de propaganda. Estas eleições, cuja campanha decorre numa situação restritiva devido à pandemia, serão certamente objecto de estudo futuro. Esta é uma campanha sem rua, assente na televisão e nos outros meios de comunicação. Os afectos, agora, são virtuais. E como funcionaram os debates? O que se sabe, para já, é que o acumulado de espectadores que seguiram os debates em todos os canais ultrapassou os seis milhões e meio. O debate mais visto foi o de Marcelo Rebelo de Sousa com André Ventura, transmitido na SIC e SIC Notícias, e que ultrapassou os dois milhões de espectadores. O debate com todos os candidatos na RTP1 na noite de terça-feira ficou-se pelos 450 mil espectadores, enquanto na SIC e TVI, no mesmo horário, uma telenovela e a transmissão do Benfica-Estrela da Amadora tiveram bem mais que um milhão de espectadores cada. Mas nesta campanha houve surpresas - desde o desempenho de Vitorino Silva (Tino de Rans), que chegou até a corrigir uma pergunta mal feita por Miguel Sousa Tavares, até à forma como Tiago Mayan Gonçalves conseguiu posicionar e explicar o que de facto são as ideias liberais que defende, surpreendendo muita gente e tendo um comportamento elogiado pela maioria dos comentadores. Isto traz-nos à questão dos candidatos. À excepção de Marcelo, que corre para a reeleição, os outros correm para se posicionarem. Não serão presidentes, mas há ideias que merecem aplauso. Para mim, as que foram defendidas por Tiago Mayan Gonçalves são aquelas de que me sinto mais próximo e por isso o meu voto irá para ele. Estas eleições também podem servir para mostrar que há alternativas a considerar fora do quadro partidário anquilosado que nos governa. E é isso que farei.

Semanada

n Dois jornalistas foram vigiados, com recolha de imagens, por uma equipa da PSP ao longo de cerca de dois meses e as contas bancárias de um deles foram passadas a pente fino por ordem de uma procuradora do Ministério Público que os investigava por violação de segredo de justiça n a magistrada pretendia saber quais as fontes dos jornalistas n pela primeira vez em democracia, jornalistas foram vigiados e fotografados pela polícia, as suas mensagens vasculhadas sem cobertura legal, violando o direito ao sigilo profissional, com o sigilo bancário levantado de forma completamente ilegal n estas acções foram ordenadas pela procuradora do Ministério Público Andrea Marques, com conhecimento da directora do DIAP de Lisboa, Fernanda Pêgo n o despacho da procuradora Andrea Marques sobre a vigilância efectuada viola o direito do jornalista à protecção das fontes e ao sigilo profissional, nos termos dos artigos 8.º e 11.º da Lei n.º 64/2007 n as acções ordenadas violam ainda o direito à intimidade e reserva pessoal e o direito de imagem dos visados, podendo configurar a autoria moral do crime de devassa da vida privada, de acordo com o que prescreve o artigo 192 do Código Penal n até à data em que escrevo, quarta-feira, ainda não se conhece nenhum comentário do primeiro-ministro ou da ministra da Justiça sobre o assunto n também nenhum dos candidatos à Presidência se manifestou em defesa da lei que protege o sigilo profissional dos jornalistas n o Presidente da República também ainda não disse nada, até à data, sobre este atentado à liberdade de informação.

Dixit
"Na verdade, quem não resistiu a fazer uma oferta natalícia de quatro dias de congelamento do distanciamento social foram os dirigentes políticos e não a pressão das famílias. E são as suas políticas e decisões que devem ser escrutinadas."
Eduardo Dâmaso, director da Sábado

Livros de companhia
Gosto de almanaques. Costumo comprar o do Borda d’Água e mais recentemente tornei-me fiel leitor do Almanaque Bertrand. O primeiro Almanaque Bertrand data de 1899 e o que está agora à venda, abrangendo os anos de 2020 e 2021, é o n.º 80. São 180 páginas com capa cartonada, ao preço de cinco euros. Uma pechincha. A coordenação editorial é de João Pombeiro e aqui há de tudo - recomendações para cuidar do jardim, pequenas histórias, palavras cruzadas, calendários, páginas para tomar notas, efemérides de cada mês, fases da Lua, poemas de autores tão diversos como Ricardo Reis, António Nobre, Cesário Verde, Olavo Bilac, Mário de Sá Carneiro ou Natália Correia, textos de Raul Brandão, de Eça de Queiroz, Clarice Lispector ou Machado de Assis, entre outros. Tem também diversas informações úteis, a lista dos Domingos de Páscoa até 2060, curiosidades, adivinhas, citações de vários autores, provérbios e passatempos. Este é um daqueles livros que gosto de ter em cima da minha mesa de trabalho para ir folheando à procura de uma ideia, de uma inspiração. E raramente falha. É um belo livro de companhia. Está aqui ao meu lado.

Fotografia de rua
Eu hoje tinha uma exposição para recomendar, com inauguração agendada para este fim de semana. Mas não vai acontecer. A exposição de que falo estava prevista para o Centro Cultural de Cascais, por iniciativa da Fundação D. Luís I. Iria estar em exibição até ao dia 16 de Maio. Esperemos que, findo o confinamento, ainda a possamos ver. Vale a pena, e a história da fotógrafa é fantástica. Vivian Maier era uma ama que nos tempos livres passeava e fotografava as ruas das cidades dos Estados Unidos, onde viveu. Através dos seus retratos de desconhecidos nas décadas de 1950 e 1980, a maior parte a preto e branco, Maier documentou, registou e interpretou o mundo ao seu redor, sobretudo na América urbana na segunda metade do século XX. Com a sua Rolleiflex, fotografava cenas da vida quotidiana, observando pessoas de todas as idades e classes sociais. O resultado dessas excursões fotográficas é uma obra impressionante que compreende mais de 100 mil imagens, descobertas em 2007, quando o historiador John Maloof comprou em leilão o conteúdo abandonado de dois contentores de armazém e se viu na posse de milhares de negativos, diapositivos e fotografias impressas. A exposição "Vivian Maier Street Photographer", que já está montada no Centro Cultural de Cascais e que poderemos ver daqui a algumas semanas, mostra imagens captadas entre 1953 e 1984. Esperemos então que o confinamento passe…

Arco da Velha
Apesar da grande quantidade de testes realizados por famílias antes do Natal e do Ano Novo, os casos positivos que foram identificados não tiveram controlo epidemiológico adequado e a larga maioria dos infectados, 87%, não foi contactada pelas autoridades de saúde para ser feito o habitual rastreio, de forma a tentar determinar a cadeia de contágio.

Swift amadurecida
Poucos meses depois de ter lançado o álbum "Folklore", Taylor Swift regressa com mais um trabalho fruto da quarentena e do isolamento em que tem estado. Assim de repente, sem aviso prévio, como já tinha feito com "Folklore", Swift juntou 17 canções em "Evermore". Os dois álbuns são quase gémeos, têm uma relação próxima um com o outro. As canções funcionam como "short stories" que se articulam entre si, mas este "Evermore" é mais variado e ousado em termos de sonoridade do que "Folklore", e é também mais maduro. Há aqui momentos surpreendentes como "No Body, No Crime", uma balada claramente inspirada no country, que contrasta com o pop de "Gold Rush" ou de "Dorothea" ou, num salto noutra direcção, com a forma como Swift canta em "Closure", alterando a sua voz com filtros electrónicos. No geral, a produção é mais cuidada, como se depois de "Folklore" ela tivesse decidido limar arestas, melhorar a produção, por forma a fazer ressaltar as letras que escreveu e as histórias que quis contar. O melhor exemplo disso é "Marjorie", uma jóia de composição e de escrita, em que Swift se empenha na interpretação de forma especial. Numa outra canção, "Happiness", gravada apenas uma semana antes de lançar este disco, ela resume o seu estado de espírito: "I was dancing when the music stopped/And in the disbelief/I can’t face reinvention/I haven’t met the new me yet." Disponível em streaming.

Os sabores que ficam
Aí vem mais uma época terrível para os restaurantes, o novo confinamento vai ser outra rude machadada. Há dias, o responsável de um dos meus restaurantes preferidos dizia-me que agora, quando se estava a recuperar um bocadinho da crise anterior, é que tudo se complicava de novo. Não encaro nenhum dos restaurantes onde vou com maior frequência como um mero local para comer. Claro que pretendo que a comida seja bem confecionada, que me proponham pratos que não sei confeccionar ou que não tenho paciência para fazer em casa. Mas sobretudo gosto de um certo ar familiar, que o serviço seja atento sem ser subserviente, que tenha poucas modas, que seja consistente na cozinha e coerente na relação qualidade-preço. Gosto de locais onde revejo clientela habitual, onde tanto se pode conversar tranquilamente como ficar sozinho a petiscar e a observar. Não gosto de alguns sítios recentes, muito em moda, algo artificiais, que mais parecem montras de comensais exibicionistas que outra coisa qualquer. Espero que os meus restaurantes favoritos saiam vivos desta maldita pandemia, que o Duarte continue a guiar bem o Salsa & Coentros, que o Albano continue a garantir os petiscos do Apuradinho, que no Casa Nostra, um sobrevivente do Bairro Alto, a cozinha continue a ser sempre uma boa surpresa, que o Mariano e a restante equipa de sala continuem a criar um ambiente especial, e que na Primavera do Jerónimo os panados da Dona Helena permaneçam sem rival. Há mais sítios, mas estes são aqueles de que mais me vou lembrar ao longo deste novo confinamento. 


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