Opinião
O Barão Negro de Sintra
A RTP2 tem transmitido diariamente uma série muito educativa sobre os meandros dos políticos, dos seus partidos e dos cargos que ocupam no Estado ou por indicação do Estado (também disponível no RTP Play). A série é francesa, chama-se "Barão Negro"
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"A melhor forma de prever o futuro é sermos nós próprios a criá-lo."
Abraham Lincoln
O Barão Negro de Sintra
A RTP2 tem transmitido diariamente uma série muito educativa sobre os meandros dos políticos, dos seus partidos e dos cargos que ocupam no Estado ou por indicação do Estado (também disponível no RTP Play). A série é francesa, chama-se "Barão Negro", passa-se entre Dunquerque e Paris, mas podia bem passar-se em Portugal. Abuso de poder, truques sujos na luta de bastidores dentro dos partidos, manobras de escroques em congressos e trafulhices várias na obtenção de fundos para campanhas eleitorais constituem o enredo. Em Portugal, há vários Barões Negros e ocorreu-me que Sintra tem tido a sina de ser governada por baronesas e barões de calibre - uma vila classificada em 1995 como Património da Humanidade pela Unesco merecia melhor sorte. Veja-se o que está a acontecer em pleno Centro Histórico de Sintra, na Gandarinha, com a construção de um hotel que tem tido um historial de atentado às regras de defesa do património e às características morfológicas, paisagísticas e arquitectónicas da vila. No início, a obra foi licenciada e avançou sem os estudos exigidos pelo então IPPAR, não teve acompanhamento arqueológico na fase de movimentação de terras e da destruição de pré-edificações e desconhece-se a realização de um estudo de impacte ambiental. O que aconteceu entretanto foi a impermeabilização quase total do terreno, a escavação de cerca de 10.500 m3 na encosta da serra, o que provocou uma acentuada alteração da morfologia do terreno e da paisagem. Pelo caminho foram arrancadas árvores, destruído o jardim existente e a volumetria inicial foi alterada. Inicialmente autorizado por Fernando Seara, Basílio Horta renovou o licenciamento, apesar de a Direcção Municipal de Planeamento e Urbanismo ter considerado que o projecto teria "um impacto significativo numa área de Paisagem Cultural classificada como património mundial". Mas, se a autorização inicial era polémica, são agora visíveis alterações ao projecto (que contemplou um aumento do número de quartos e da volumetria), alterações que já estão a ser feitas sem que se saiba como foram avaliadas e autorizadas pela autarquia. Este é um caso entre muitos - mas que revela de forma clara como um autarca pode abusar do poder e privilegiar interesses particulares acima do património que devia defender. Mas, que mais se poderia esperar de Basílio Horta, um homem que é campeão nacional de salto à vara político?
Semanada
• Para sublinhar a sua guerra com o Governo, Mário Nogueira prometeu um ano desgraçado aos alunos • a Ordem dos Médicos pede um "apuramento rápido" das causas do aumento da mortalidade infantil • os inspetores da Polícia Judiciária vão estar em greve sete dias no início de Fevereiro, juntamente com os restantes funcionários da PJ • a greve dos enfermeiros na região de Lisboa e Vale do Tejo registou esta terça-feira uma adesão de 68% • os crimes de que Vale e Azevedo era acusado, de desvio de verbas do Benfica no final dos anos 90 do século passado, prescreveram sem o respectivo julgamento se ter iniciado • em 2018, foram vendidas 500 casas por dia • o preço das habitações em Portugal aumentou 15,6% no espaço de um ano • em 2019, Portugal terá mais 86 novos hotéis com um total de 7.700 quartos • Portugal mantém-se na terceira posição na lista dos países da União Europeia com maior dívida pública • a Segurança Social mandou encerrar 109 lares de idosos por falta de condições • no ano passado, foram detectadas falhas graves, num total de 64 milhões de embalagens, no fornecimento de medicamentos para a doença de Parkinson, diabetes, hipertensão, asma, epilepsia e doenças cardíacas • os estudantes que vêm para Lisboa seguir os seus cursos e vivem em hostels pagam taxa turística - assim como os habitantes da cidade que por qualquer razão tenham de pernoitar num hotel.
Dixit
"Nas Finanças, há um profundo convencimento de que a saúde é sobretudo uma fonte de despesa e que o controlo apertado vai limitar essa despesa."
Manuel Pizarro
Médico e actual alto comissário da Convenção Nacional de Saúde
Olhó robot
Nos idos dos anos 1980, os Salada de Frutas cantavam, pela voz de Lena d'Água, uma canção que rapidamente se tornou êxito: "Olhó Robot. É pró menino e prá menina olhó - trabalha muito e gasta pouco." Nos quase 40 anos desde que essa canção surgiu, a robotização começou a invadir todas as áreas, da fabril à criativa. Cada vez se fala de forma mais insistente sobre os efeitos da proliferação da inteligência artificial e dos robôs nas mais diversas actividades. "Hello, Robot. Design Between Human and Machine", a exposição vinda do Vitra Design Museum, inaugurou esta semana no MAAT, onde ficará até 22 de Abril, inclui mais de 200 peças das áreas de design e arte e contém robôs utilizados no nosso quotidiano, na medicina e na indústria, bem como em jogos de computador, instalações de media, e evocações da presença de robôs no cinema, na literatura e na banda desenhada. Ali se podem ver algumas das primeiras consolas de jogos, protótipos de robôs antigos e contemporâneos, que podem ser usados desde regar plantas até ronronar como um gato ou ajudar ao desenvolvimento de crianças. Como afirma o catálogo, "Hello, Robot aborda o modo como o design molda a interação e relação não só entre os humanos e as máquinas, mas também entre os próprios humanos."
A arte da carpintaria
Artes Visuais, Música, Teatro, Dança, Cinema e Gastronomia são as principais áreas de actuação das Carpintarias de São Lázaro, agora inauguradas após uma profunda remodelação das antigas oficinas de marcenaria ali existentes. Situadas na Rua de São Lázaro 72, junto ao Martim Moniz, estas Carpintarias ocupam 1.800 m2, divididos entre dois pisos e um "rooftop". O espaço, além da sua utilização como infraestrutura cultural, quer desenvolver parcerias com entidades, públicas e privadas. Na sexta-feira, 25 de Janeiro, é a inauguração do espaço, em simultâneo com a inauguração da exposição "Jeu de 54 cartes", a mais recente série de trabalhos de Jorge Molder (na imagem), apresentada pela primeira vez no Museu Internacional de Escultura Contemporânea em Santo Tirso, e agora em Lisboa, nas Carpintarias de São Lázaro. Durante todo o fim-de-semana, a Cozinha dos Vizinhos poderá ser provada, resultado da colaboração com a Cozinha Popular da Mouraria e, no fim-de-semana seguinte, decorrerá a Mostra dos Premiados do Concurso Gastronómico Lisboa à Prova. Uma performance de Joana Runa, o oitavo aniversário do canal de vídeos A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria, cinema ao vivo e um "open studio" pela artista residente, Miriam Simun, completam o programa dos primeiros dias de funcionamento da nova carpintaria.
Arco da velha
Descobriu-se agora que vários gestores da Caixa Geral de Depósitos receberam bónus de desempenho, apesar de nos seus mandatos o banco ter concedido créditos ruinosos à revelia dos processos de avaliação de risco e por pressão do conselho de administração.
Uma catedral de papelão
O papelão é o futuro da indústria do papel - foi pelo menos o que eu li há tempos. A explicação é simples: enquanto se assiste à diminuição da utilização de papel nos escritórios das empresas, constata-se que o incremento do comércio electrónico faz aumentar a procura de embalagens de papelão, que garantam a robustez necessária para que os livros, roupas ou máquinas que encomendamos nos cheguem em perfeitas condições. De material pouco considerado, o papelão passou a centro de atenções e cuidados. A sua utilização na arte contemporânea tem vários exemplos, desde que Andy Warhol se lembrou de replicar as caixas de detergente Brillo. Mas talvez ninguém tenha ido tão longe como Carlos Bunga que, dentro do MAAT, construiu a alegoria de uma catedral, unicamente utilizando papelão. Carlos Bunga "The Architecture of Life. Environments, Sculptures, Paintings and Films" é a primeira exposição retrospectiva da obra de Carlos Bunga, em Portugal - ele foi o vencedor do Prémio Novos Artistas Fundação EDP, em 2003. Reunindo obras dos últimos 15 anos, a exposição documenta as construções de grande escala que o artista cria e destrói como performance, e é animada por vídeos das suas interações com o mundo material. "O meu projeto é uma espécie de arquitectura; não é um espaço real, mas uma ideia mental", afirma Carlos Bunga (na imagem, no meio de uma das suas instalações). Em paralelo, na Fundação Carmona e Costa, está a exposição "Where I am free", onde Bunga apresenta uma seleção de trabalhos em papel com várias obras recentes concebidas especificamente para a Fundação.
O que conta é o cacau
Já houve uma altura em que era capaz de sair de casa a meio da noite a correr à procura de uma loja de conveniência próxima que tivesse chocolate negro. Entretanto, a coisa mudou - mas percebo que o chocolate se torne num vício. Ora acontece que um recente estudo da Marktest indica que nos últimos 12 meses, neste nosso cantinho, 5,3 milhões de pessoas consumiram chocolate nas suas várias formas, o que quer dizer que cerca de 60% dos portugueses se entregaram a este vício. Outro alimento que, segundo o mesmo estudo, está em alta é o iogurte grego que, no mesmo espaço de tempo, foi consumido por 2,5 milhões de pessoas, o que representa cerca de 30% dos portugueses - é já a segunda variedade de iogurte mais consumida no nosso mercado.