Opinião
Antiguidades modernas
O que é o PS? O partido que primeiro nega a palavra aos deputados eleitos pelos partidos estreantes no Parlamento?
"Nunca andes pelo caminho traçado. Ele conduz apenas até onde os outros já foram."
Alexander Graham Bell
Antiguidades modernas
O que é o PS? O partido que primeiro nega a palavra aos deputados eleitos pelos partidos estreantes no Parlamento? O partido que depois lhes quer dar apenas um minuto como tempo para interpelarem António Costa nos debates quinzenais? Ou o partido que defende que uma autarquia que governa (Lisboa) tenha acesso aos dados privados das viaturas particulares que nela circulam? Ana Catarina Mendes, a líder parlamentar do PS, foi a voz que defendeu o silenciamento dos novos partidos no Parlamento e depois lhes quis dar um minuto de esmola, e Vasco Móra, assessor do vereador da Mobilidade, Segurança, Economia e Inovação da Câmara Municipal de Lisboa, foi quem defendeu que a autarquia possa ter acesso a dados sobre circulação na cidade dos sistemas digitais de automóveis particulares. O PS é cada vez mais um paradoxo entre uma organização que se afirma progressista e um feudo conservador, fechado sobre si mesmo, disposto a tudo para segurar o poder e controlar o que se diz e se faz. Quer queira, quer não queira, com pessoas como Mendes ou Móra, António Costa faz o papel de guardião do Big Brother, ou, mais prosaicamente, o papel de feirante moderno que negoceia em "gadgets" já desactualizados nas novas feiras de velharias. António Costa é um mestre de ilusionismo - no sentido de pretender fazer passar a ilusão pela realidade. Como se tem visto desde que é primeiro-ministro, o país que ele tem na cabeça faz o que ele quer, como ele quer, quando ele quer. As atitudes destes seus dois serventuários são um reflexo da cultura política vigente sob a batuta de Costa.
"A própria existência humana tem impacto ambiental."
João Galamba
Afirmação do secretário de Estado a propósito dos receios de problemas ambientais causados pela exploração de minas de lítio em Boticas.
Semanada
• As queixas dos utilizadores do novo passe Navegantes resumem-se assim: os transportes públicos não estavam preparados para receber mais utilizadores, estão cheios, os atrasos são constantes e os equipamentos são velhos • as autoridades detectam uma média de 20 pessoas por dia a conduzir sem carta • três em cada quatro portugueses usam o telemóvel enquanto conduzem • 10% dos portugueses não têm qualquer dente e mais de 30% dos portugueses não vão ao dentista ou só vão em caso de urgência, alegando não ter capacidade financeira • a pneumonia é a segunda causa de morte em Portugal • entre janeiro e junho deste ano, foram trocadas mais 246 mil seringas para drogas do que em igual período do ano passado • até final de outubro, foram concedidas cerca de 11 mil autorizações de residência a estrangeiros, mais 18% do que em igual período do ano passado • entre 2005 e 2013, a Câmara Municipal de Santa Comba Dão pagou cerca de 700 mil euros por obras que não foram feitas • as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto concentravam, em 2017, mais de metade (52%) do poder de compra do país e representam 44% da população portuguesa • o PAN quer estender a taxa de carbono à produção de carne • quase 600 médicos ficaram sem acesso à especialidade este ano • cerca de 53 mil toneladas de matérias perigosas, entre as quais amianto, foram importadas para Portugal entre 2016 e 2017.
A história da marquesa futurista
A mais recente edição da revista Electra reflecte sobre o crescimento dos movimentos em defesa dos animais, contando com várias colaborações, em que se destaca o ensaio sobre a divisão entre o Humano e o Animal realizado pelo professor de neurologia Massimo Filippi. Outro dos temas deste 7.º número da revista editada pela Fundação EDP, e que a partir de agora passa também a ser distribuída no Brasil, tem que ver com o culto do património e o seu uso político, tendo por base a destruição parcial da catedral de Notre-Dame, através das visões de Salvatore Settis, arqueólogo e historiador, Carlo Pùlisci, historiador de arte, e Pedro Levi Bismarck, arquitecto e investigador, cujos três ensaios convivem com imagens da Catedral, do fotógrafo André Cepeda. A figura em destaque nesta edição é Luisa Casati, a "marquesa futurista" - como lhe chamou o poeta italiano Marinetti -, que adivinhou as atitudes artísticas e culturais do século XX e XXI e cuja fascinante história José Manuel dos Santos conta num belíssimo texto. O portefólio é da autoria da artista holandesa Magali Reus, conhecida sobretudo pelo seu trabalho na área da escultura e que aqui apresenta a sua primeira incursão pela fotografia, com mais de uma dezena de imagens sobre o percurso das flores. A entrevista que abre este número é com Hisham Mayet, cineasta, músico, investigador e fundador da editora Sublime Frequencies, em conversa com André Príncipe e José Pedro Cortes, que acompanham a narrativa com um ensaio visual, fruto de uma semana em Tânger. Finalmente, destaque para um bom texto da historiadora de arte Helena de Freitas sobre duas mulheres artistas, Dora Maar e Berthe Morrison.
Arte ao fim-de-semana
De 15 a 17 decorre a primeira edição do Lisbon Art Weekend em duas dezenas de galerias privadas e espaços públicos de exposição, que estarão abertos todo o fim-de-semana e centrados na arte contemporânea. Nalguns casos há programas especiais (como uma visita guiada por Filomena Molder na exposição de Rui Sanches, na Cordoaria, sábado pelas 17h00). O programa pode ser consultado no Facebook e em lisbonartweekend.com. Os espaços aderentes são Balcony Gallery, Carlos Carvalho Contemporary Art, Carpintarias de São Lázaro, 3+1 Arte Contemporânea, AZAN, Bruno Múrias, Casa dell’Arte Lisbon, Galeria 111, Galeria Belo-Galsterer, Galeria Cristina Guerra, Galeria Foco, Galeria Francisco Fino, Galeria Graça Brandão, Galeria Vera Cortês, Galerias Municipais/Galeria do Torreão Nascente da Cordoaria, Madragoa, MONITOR Lisbon, Pedro Cera e Underdogs Gallery. Outros destaques: na Fundação Gulbenkian, duas novas exposições merecem visita. "Art On Display, Formas de Expor 1949-1969" assinala os 50 anos do Museu Gulbenkian e tem como ponto de partida as soluções expositivas pensadas para a sua abertura em 1969 e permite percorrer diversas formas de olhar e de apresentar obras de arte. A outra exposição da Gulbenkian é "Call To Action - Abril em Portugal", que reúne peças desenhadas por Robin Fior entre as décadas de 1960 e 1980 para projectos social e politicamente comprometidos. Fior chegou a Portugal em 1973 e por cá se manteve, desenvolvendo uma obra de designer gráfico que agora é mostrada pela primeira vez.
Arco da velha
Nas Forças Armadas há mais índios que setas: segundo o Ministério da Defesa, em 2018, havia 11.369 praças para 8.738 sargentos e 6.905 oficiais (num total de 15.643).
Roubados e bem cantados
No ano em que celebra 25 anos de carreira, Aldina Duarte foi buscar repertório alheio - vários fados, mas nenhum dos fados tradicionais, nenhum escrito por si ou para si, ao contrário do que tem sido hábito. Aqui estão 12 temas, do "Vendaval", de Tony de Matos, a "Rosa Enjeitada" (em dueto com António Zambujo), passando por "Senhora da Nazaré" (de João Nobre), "Porta Maldita" (de Maria da Fé), "Ouça Lá Ó Senhor Vinho" (de Alberto Janes), "Veio A Saudade" (de Beatriz da Conceição) ou "Arraial" (de João Ferreira Rosa). Por isso mesmo, deu a este novo álbum o título de "Roubados" e, para a capa, foi buscar ao baú uma fotografia sua com 21 anos, idade em que se encantou pelo fado. Aldina Duarte assegurou arranjos e produção musical. As doze músicas que escolheu estão entre as que considera das mais belas de sempre na história da música portuguesa e do fado, e a opção foi fazer versões bem diferentes dos originais - muitas vezes, levando a sua voz até ao limite, como acontece logo em "Vendaval", o primeiro tema do disco que tem uma interpretação arrebatadora. Aldina é acompanhada por Paulo Parreira na guitarra portuguesa e Rogério Ferreira na viola. O CD inclui um portefólio fotográfico de Alfredo Cunha que mostra o trabalho efectuado em estúdio na gravação destas versões. E, como pano de fundo, sempre a voz de Aldina, a sua forma de cantar, a sentir cada palavra que diz.
O péssimo faz frio
Passear hoje em dia no Príncipe Real é andar por uma feira de diversões onde a maioria dos restaurantes são feitos para os visitantes estrangeiros, sem preocupações de cativar clientes portugueses que queiram voltar. Alguns destes restaurantes não aceitam reservas e estão no seu direito - não querem correr o risco de atrasos ou faltas e querem manter as mesas disponíveis para quem for chegando. Gostam, aliás, de ter filas à porta, preferem clientes acidentais a clientes regulares. Mas o que nunca me tinha acontecido foi chegar a um restaurante que não aceita reservas, pedir uma mesa para seis pessoas, que me foi dada como disponível e indicada, e sermos impedidos de nela nos sentarmos (estávamos duas pessoas a aguardar a chegada das outras quatro e tínhamos ido mais cedo para "segurar" mesa). O empregado disse que era norma do restaurante só sentar as pessoas se estivessem pelo menos quatro. Quando protestei e questionei o sentido de tal indicação, respondeu-me que essa é a política do restaurante. Quando, de novo, tentei argumentar, apareceu um ser, que soube depois ser o dono do local, que se meteu na conversa de forma rude e malcriada, na prática a querer que nos fôssemos embora - como bom burocrata, disse que ali era assim e não havia mais conversa -, eu tinha a minha opinião, ele tinha a dele (e ficou a rir-se orgulhoso do seu feito). Obviamente saí do restaurante em causa, o antigo Faz Frio, na D. Pedro V junto ao Príncipe Real, outrora uma casa acolhedora, hoje um lugar a evitar. Do antigo mantiveram-se as paredes, mas perdeu-se a simplicidade e o bom acolhimento. Agora, no Faz Frio, o cliente é gado na fila do matadouro, às ordens das regras do proprietário, Jorge Marques, uma pessoa arrogante sem a menor consideração pelas observações dos clientes. Uma breve nota que postei no Facebook sobre este assunto gerou dezenas de observações e vários comentários a denunciar a falta de qualidade da comida e o mau serviço. Evitem dar dinheiro a esta gente, o repúdio é a melhor solução. Quem não tem competência não se devia estabelecer - é o caso de quem manda no Faz Frio.