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18 de Dezembro de 2020 às 11:52

O círculo fechado

O novo chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, foi o mais destacado assessor económico de José Sócrates e o seu homem-forte para os negócios com a Venezuela durante os seis anos de Governo socrático.

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Às vezes, as nossas acções são perguntas e não respostas.
John Le Carré

O círculo fechado
O novo chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, foi o mais destacado assessor económico de José Sócrates e o seu homem-forte para os negócios com a Venezuela durante os seis anos de Governo socrático. Após 2011, os contactos entre Escária e Sócrates continuaram, até que o ex-primeiro-ministro foi detido, em 2014. Escária esteve também sempre próximo do actual primeiro-ministro, mesmo depois de em 2017 se ter demitido de assessor económico de Costa quando foi envolvido no caso das ofertas de viagens pela GALP ao Euro 2016. Mais recentemente, esteve envolvido nas negociações entre Costa e o polémico primeiro-ministro húngaro, Viktor Órban. Antes, recordo, também fomentou boas relações com o sinistro regime venezuelano. É pois um rapaz que gosta de relações escaldantes.

Num recente artigo, João Miguel Tavares escreveu: "Onde há negócios, dinheiro e diplomacia económica, aí está Vítor Escária. Sempre foi assim e, pelos vistos, continua a ser, e de um modo que não poderia ser mais assumido - ao colocar Escária como seu chefe de gabinete, António Costa está a pôr os negócios e o dinheiro (neste caso, a enxurrada de fundos europeus) no centro do seu governo."

Esta nomeação e outras ocorridas recentemente mostram que o primeiro-ministro começa a ter falta de capacidade - ou talvez de vontade - em ir buscar caras descomprometidas. O Executivo é cada vez mais um prolongamento do núcleo duro do aparelho do PS. Na realidade, um quarto dos membros do actual Governo já foi chefe de gabinete em algum executivo socialista. Que resultado tem isto nas nossas vidas? A balbúrdia criada pela incapacidade do ministro Eduardo Cabrita no caso do SEF e a cobertura que lhe foi dada por António Costa e por Santos Silva mostram onde o círculo fechado e a protecção dos incondicionais podem levar. Quem acha que o resultado é bom?

Semanada

O PS chumbou um projeto de lei, proposto já depois do assassinato de Ihor Homeniuk, em que era exigido que a audiência aos estrangeiros para a recusa de entrada em Portugal só pudesse ser feita na presença de um advogado Portugal continua a ser um dos países europeus onde maior número de pessoas declara não ter capacidade para manter a sua casa aquecida de forma adequada  uma sondagem recente indica que apenas 61% dos portugueses estão dispostos a receber a vacina contra covid-19 de imediato e 19% adiarão a decisão e 8% afirmam não querer ser vacinados segundo a Marktest, os canais de TV emitiram em Novembro, pela primeira vez desde Março de 2019, mais publicidade do que em igual mês do ano passado num relatório apresentado há cerca de um ano, o Comité Contra a Tortura da ONU manifestava preocupações sobre o respeito pelos direitos humanos em instalações do SEF uma sondagem divulgada esta semana indica que Marcelo é o candidato presidencial preferido até entre eleitores do Bloco de Esquerda o custo suportado pelo Estado para segurar bancos em Portugal ascendeu a cerca de 21 mil milhões de euros entre 2018 e 2019 sete em cada dez portugueses estão muito pessimistas quanto aos efeitos da pandemia na economia nacional um estudo da Universidade Católica indica que a pandemia reduziu os rendimentos a um quarto dos inquiridos os portugueses têm hoje menos poder de compra do que em 2010  prevê-se que neste mês de Natal sejam vendidas em Portugal cinco toneladas de bacalhau.

Dixit
"Ao fim destes anos todos de apoio maciço de fundos estruturais, Portugal é ainda um país atrasado", que deve aplicar o dinheiro "de uma forma radicalmente diferente da reprodução do passado".
Elisa Ferreira
Comissária Europeia com a pasta do financiamento comunitário.

Olhar para a história
"A minha visão da História humana, da História-vivida é contemplativa. Requer um olhar atento, global, pacífico, não interventivo": assim define José Mattoso o seu processo de trabalho. "A História Contemplativa" é precisamente o nome do seu livro, agora editado, que reúne palestras, ensaios e artigos surgidos entre 1996 e 2013, que abordam temas tão diversos como as relações entre mouros e cristãos na Península Ibérica do século XI, as particularidades da religiosidade dos alentejanos, os contactos do Portugal recém-nascido com o mundo ou a importância dos lugares e monumentos portugueses classificados como património mundial pela Unesco. A abrir o livro está um ensaio inédito, escrito expressamente para esta edição, que pode ser vista como uma súmula do pensamento de José Mattoso, um dos maiores historiadores portugueses, actualmente com 87 anos. São suas estas palavras: "A história como disciplina confunde-se com a técnica historiográfica: tem métodos, exige a crítica, o rigor e a quantificação; demonstra factos e constrói narrativas; propõe hipóteses e interpreta documentos. É uma das Ciências Humanas. Mas a História é também uma Arte, porque busca a compreensão do sentido que os actos humanos adquirem por serem praticados no Tempo. Na primeira acepção, a História demonstra a veracidade dos factos, e descobre o seu encadeamento. Na segunda, considera-os como manifestação da condição humana, ou seja, como resultado da inserção do Homem no Tempo. Enquanto Ciência, utiliza a análise; enquanto Arte, além de formular sínteses que a aproxima da totalidade, apercebe-se da beleza do Ser revelado pela contemplação." Edição Círculo de Leitores, Temas & Debates.

Um português em Málaga
Até 14 de Março de 2021, o Centro de Arte Contemporânea de Málaga acolhe cerca de 250 obras de Pedro Cabrita Reis que mostram a evolução da obra do artista português ao longo da sua carreira. "Cabrita - Cabinet d’Amateur" é uma instalação em que as obras cobrem as paredes da área da exposição, a zona central do Centro, de cima abaixo, de forma aparentemente aleatória, escreve o La Vanguardia, salientando que o nome e a forma da mostra têm que ver com o espírito coleccionista do artista. Aliás, a maior parte das obras pertence à colecção pessoal de Cabrita, à excepção de um pequeno número proveniente de colecções particulares. Ainda segundo o La Vanguardia, cerca de uma centena de obras foram feitas entre 2019 e 2020. Comissariada por Helena Juncosa, a exposição mostra pintura, desenho, fotografia, escultura, mas também instalações compostas por objectos diversos.
Outras sugestões: em Évora, na Fundação Eugénio de Almeida, Pedro Calhau apresenta até final de Janeiro a exposição "Do Inesgotável", com trabalhos de gravura, fotografia, desenho, instalação e texto. E, já que estamos em época invernal, o Museu da Farmácia, em Lisboa, junto ao Chiado, apresenta "Vintage PUB - a memória das farmácias", a nova exposição que ali reúne diversos anúncios da década de 1960, desde cartazes de Melhoral, até rebuçados para a tosse.

Arco da velha
O presidente do sindicato da Carreira de Investigação e Fiscalização do SEF criticou o Presidente da República por este ter defendido a necessidade da reestruturação daquela polícia.

O dueto
A relação entre a cantora Maria João e o pianista Mário Laginha vem de longe. Ambos trabalharam juntos em diversos projectos, desde o inicial quinteto de Maria João, até que em 1994 se concretizou, com o álbum "Danças", o início do dueto que se afirmou ao longo dos anos em mais de uma dezena de trabalhos e discos. Na realidade, desde o início, a relação entre ambos foi de uma complementaridade musical invulgar feita de uma cumplicidade crescente entre a forma muito própria de interpretação vocal de Maria João e a capacidade de adaptação do piano de Mário Laginha à voz em canções de muitos e diferentes géneros. O "Best Of Maria João & Mário Laginha", agora editado, mostra isso mesmo em 14 temas gravados em tempos muito diversos, entre 1996 e 2012. Aqui estão originais dos dois artistas, como a faixa inicial "Cair do Céu", mas também interpretações de clássicos como "Black Bird", de Lennon & McCartney, ou "Beatriz", de Edu Lobo e Chico Buarque. E, claro, há diversas participações, como as dos brasileiros Gilberto Gil em "Um Amor" e Lenine em "Flor". Edição Universal disponível em CD e streaming.

Petisco apuradinho
Sopa de rabo de boi é uma coisa tão comum que até há sopas instantâneas com a receita. Mas nada se compara ao sabor da carne do rabo de boi, uma iguaria infelizmente ainda pouco conhecida e que não se encontra em todo o lado. Dizem os entendidos que a origem do petisco é espanhola, mas em Portugal foi no Ribatejo que o petisco se aprimorou. O rabo de boi deve ser cortado aos pedaços, pelas articulações, depois de bem cozinhados num lento estufado com alho francês, cenoura, louro, cravinho e um pouco de vinho fazem maravilhas. A carne vai-se separando dos ossos e cartilagens e fica com um sabor magnífico. É verdadeiramente um petisco que requer paciência, tempo e trabalho. O seu acompanhamento ideal é um puré de batata natural - nada de instantâneos. A combinação do estufado com o puré que se vai embebendo no molho, já no prato, é verdadeiramente arrebatadora. Eu gosto de salpicar o puré com pimenta-preta moída na altura. Esta pequena maravilha foi-me apresentada pela primeira vez há uns anos, n’ O Apuradinho (Rua de Campolide 209, telefone 213 880 501). E esta semana lá voltei a encontrar a iguaria, num almoço tardio ao fim de uma manhã de afazeres. Soube-me mesmo bem. 


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