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Manuel Falcão - Jornalista 20 de Março de 2020 às 11:05

A crise

Em duas décadas já tivemos três crises severas neste século. A primeira com os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos; a segunda com a crise financeira de 2008; e, agora, a terceira, com a Covid-19.

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"No caso de doença generalizada há duas coisas a fazer: ajudar a curar e evitar piorar as coisas"
Hipócrates

A crise
Em duas décadas já tivemos três crises severas neste século. A primeira com os ataques de 11 de Setembro nos Estados Unidos; a segunda com a crise financeira de 2008; e, agora, a terceira, com a Covid-19. No 11 de Setembro de 2001, lembro-me de estar à hora de almoço num restaurante e ver, perplexo, os aviões a derrubar as torres gémeas de Nova Iorque. Nessa tarde, já a perceber melhor o que se tinha passado, pensei que o mundo nunca mais iria ser igual ao que era antes. Não me enganei. A geração que tem agora entre 20 e 30 anos viveu sempre na incerteza e isso explica muito da sua forma de pensar e agir. A crise desencadeada em 2001 gerou medo e insegurança físicas. Anos depois, em 2008, a crise financeira gerou medo e insegurança económica; agora, esta crise da Covid-19 arrisca-se a gerar insegurança e medo físicos e pânico na economia. Esta é a maior insegurança destas crises dos últimos 20 anos, é a primeira vez em que, a milhares de mortes e a uma sensação de impotência do Estado, se junta a hipótese de colapso de uma série de economias de diversos países. O retrato da Europa nestas semanas não é bonito de se ver. A Comunidade responde pouco, o Banco Central Europeu acordou tarde quando comparado com a Reserva Federal Americana e os alemães, mais uma vez, assobiam para o ar à espera que a coisa passe. Mas é certo que os rendimentos vão diminuir, que o consumo vai cair. Tudo vai ser diferente. Este vírus deu cabo de todas as folhas de Excel e os burocratas não sabem o que fazer. O que se vai passar a seguir? Adopto a sigla de uma amiga minha, médica, em situações de grande crise: LSV - logo se vê. As prioridades são viver, ajudar, reconstruir.

Semanada

Quase dois em três portugueses declaram ser optimistas, revela um estudo da Marktest divulgado esta semana segundo o Telenews da MediaMonitor, o noticiário sobre a Covid-19 continuou a ser dominante na semana passada, tendo-se registado um total de 1059 notícias e 42 horas de emissão sobre este tema foram encontradas 1680 caixas de esteroides anabolizantes num descampado em Elvas o Tribunal de Contas desconfia do regulador da aviação civil, que tem à frente gestores da maior empresa regulada por esse organismo, a ANA o Tribunal Constitucional defendeu que facilitar a prostituição não deve ser crime os resultados líquidos dos CTT subiram 35,8% desde que a empresa mudou de liderança, em Maio do ano passado, e registaram lucros de 29 milhões de euros o montante de novos créditos ao consumo aumentou cerca de 13% no final de Janeiro, em relação a igual período do ano passado  o Festival da Eurovisão foi cancelado o Euro 2020 foi adiado para 2021 o debate instrutório da Operação Marquês foi adiado "sine die" a Auto-Europa suspendeu toda a produção até 29 de Março o controlo de fronteiras foi reintroduzido em Portugal António Costa disse que o país não vai parar  Fernando Medina não disse nada sobre Lisboa.

Dixit
"Só se salvam vidas e saúde se entretanto a economia não morrer"
Marcelo Rebelo de Sousa

A viagem
"O Velho Expresso da Patagónia", uma das obras de referência de Paul Theroux, foi editado em 1979 e chega agora a Portugal pela mão da Quetzal na colecção Terra Incógnita, que a editora criou para reunir "títulos e autores que desprezam a ideia de turismo e fazem da viagem um modo de conhecimento." Paul Theroux tinha acabado de publicar "O Grande Bazar Ferroviário", em 1975, quando iniciou a escrita deste livro prodigioso: entrar na estação de metro mais perto de casa arrastando a mala, mudar para o comboio daí a pouco e percorrer dois continentes inteiros, a América do Norte e a América do Sul… até terminar às portas da Patagónia e da Terra do Fogo, onde chegava o pequeno e velho comboio que designa como Expresso da Patagónia".

Este livro, que chega oportunamente quando viajar está a ficar um prazer proibido, é considerado uma referência central e indispensável que mudou a história da literatura de viagens. A narrativa relata a viagem, de comboio em comboio, de fronteira em fronteira, do México à Costa Rica, do Panamá à Guatemala e aos Andes, até à mítica linha ferroviária da Patagónia argentina. "Theroux não embeleza nenhum cenário, não se comove com romantismos literários, não cede nunca: quer procurar histórias e entrevistar gente que não figura nos romances", escreve Francisco José Viegas, o editor da Quetzal, na introdução ao livro.

A vida
O álbum "async", de Ryuichi Sakamoto, foi editado em 2017, após quase oito anos sem discos do músico japonês. São 14 temas, muito ambientais, que retratam os anos difíceis de luta contra um cancro da garganta. As canções são sóbrias, como sempre, com produção e arranjos discretos. Há uma canção em particular que é a razão desta escolha, "Life, Life" - um hino tranquilo à necessidade de superarmos os dias mais complicados, pensando na vida. A voz é a de David Sylvian, um colaborador de longa data de Sakamoto. É o décimo sexto álbum a solo do autor, bem diferente da fase mais pop de há alguns anos. Em "async", disponível no Spotify, melodias e texturas sonoras - a grande matéria-prima da obra de Sakamoto - desenvolvem-se de forma natural, colando os temas uns aos outros. Sakamoto, um homem que fez algumas das mais marcantes bandas sonoras para cinema (Merry Christmas Mr. Lawrence, The Last Emperor ou The Revenant), diz que concebeu este disco como uma banda sonora imaginária para um filme de Andrei Tarkovsky. "Life, Life", a canção que marca o disco, foi feita a partir de um poema do pai do cineasta, o famoso poeta russo Arseny Tarkovsky. Aqui fica um excerto do que Sakamoto escolheu e Sylvian interpretou:
To one side from ourselves, to one side from the world Wave follows wave to break on the shore On each wave is a star, a person, a bird Dreams, reality, death - on wave after wave No need for a date; I was, I am, and I will be Life is a wonder of wonders.

Boa ideia
Na Índia, várias operadoras de comunicações substituíram os toques de telefone ("ring tones") por mensagens de 30 segundos com conselhos sobre como evitar a Covid-19.

A cozinha
Estamos pois confinados às nossas casas, façamos o melhor da situação. Esta é uma boa ocasião para vasculhar a dispensa e despachar algumas das coisas que estão por lá. Hoje estou numa de latas e, nesta semana, dedico-me às conservas e começo pelas de atum. Desde que seja uma das felizmente numerosas boas marcas, qualquer serve e nem tem de ser atum ao natural (o Tenório em azeite é o meu preferido). Ingredientes para quatro pessoas: duas latas de atum, conteúdo escorrido e desfeito; uma lata de tomate em cubos (prefiro) ou triturado; gengibre fresco; alcaparras ou azeitonas aos pedaços; azeite; esparguete ou tagliatelle. Coloque pedaços finos de gengibre fresco no azeite, acrescente o tomate e deixe cozinhar em lume brando, até borbulhar. Não uso propositadamente cebola para a coisa ficar mais leve, mas, se quiserem, experimentem cortar umas rodelas finas de alho francês e usem-no como base, junto com o gengibre, antes de deitarem o tomate. Nessa altura, já a borbulhar, deito o atum desfeito e as alcaparras ou azeitonas e mexo tudo bem. Ao lado cozam em água abundante, já a ferver, temperada com sal e um fio de azeite, a quantidade de massa que entenderem necessária durante o tempo recomendado para cada marca (eu tiro-a sempre um minuto antes não só para ficar "al dente", mas também para acabar de cozinhar no molho). Depois de escorrida a massa, atirem-na para dentro do molho, envolvam-na bem e deixem acabar de cozinhar mais um minuto antes de a levarem para a mesa. Pimenta a gosto, um pouco de cebolinho também não fica mal. É um petisco simples e rápido de preparar. Cozinhar não deve ser um stress - mas sim um momento criativo. Juntem outros ingredientes, usem outras massas, coloquem outras coisas no molho. Divirtam-se.

A pintura
Não podemos viajar, mas podemos ver belíssimas obras online. Escolhi esta porque me parece adequada ao nosso estado de espírito. "The Night Watch", "A Ronda da Noite", é uma obra de Rembrandt, criada em 1642, e que tem a curiosidade de ser uma das primeiras pinturas a retratar um grupo de pessoas em acção, no caso, diversos guardas que se preparam para actuarem. A utilização da luz é extraordinária, a dimensão da obra é imponente. A pintura mede 380 cm de altura e 454 cm de largura e mostra a milícia do capitão Frans Banning Cocq no momento em que este dá a ordem para marchar ao alferes Willem van Ruytenburch. Atrás deles aparecem os 18 integrantes da Companhia. Está exposta em Amesterdão, no Rijksmuseum. Graças à iniciativa da Google Arts & Culture, pode não só visitar este e outros grandes museus, mas também, no caso desta obra, pode observar com atenção os pormenores, acompanhados por informação que ajuda a compreender o tempo em que foi criada. Vale a pena visitar o site artsandculture.google.com, uma iniciativa feita em conjunto com a Unesco, e ver o que oferece em matéria de visitas virtuais a locais históricos, museus, colecções de arte e géneros artísticos, entre muitas outras coisas.

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