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18 de Março de 2016 às 10:41

A esquina do Rio

Estamos aqui entretidos com o nosso Orçamento - o primeiro Orçamento em que o PCP votou favoravelmente em dezenas de anos - e o resto da Europa não se rala muito com os nossos sobressaltos internos.

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Dixit
Gosto do cinema que me faz mexer na cadeira.
Nicolau Breyner

Auto-retrato
Estamos aqui entretidos com o nosso Orçamento - o primeiro Orçamento em que o PCP votou favoravelmente em dezenas de anos - e o resto da Europa não se rala muito com os nossos sobressaltos internos. Não se vê grande eco dos acontecimentos lusitanos por essa União fora. Em contrapartida, ouve-se o ranger de dentes que o Banco Central Europeu provoca, sente-se o arrepio que o resultado das eleições na Alemanha desencadeou, palpita-se a inquietação sobre as conversações com a Turquia, percebe-se a insegurança que a situação em Espanha produz nos analistas. Portugal é a última preocupação da Europa, é um dano colateral, na melhor das hipóteses. Se a coisa correr mal e Costa não tiver o tal plano B, a Comissão Europeia não vai ser branda no julgamento e, mais uma vez, perceberemos a asneira tarde demais. Gostaria que não fosse assim, mas a Europa é o que é, e nós temos a dimensão que temos. Ou seja, estamos entre a espada e a parede, local onde recorrentemente voltamos. Vou gostar de seguir a execução orçamental, vou gostar de ver se as previsões de receitas com o aumento dos impostos nos combustíveis se cumprem, se a descida do IVA na restauração tem algum efeito prático, se a despesa pública não explode com subsídios a táxis e benefícios fiscais a animais. A vida não está fácil e, da forma como as coisas estão, não vejo maneiras de melhorar.

Dixit
No Brasil é assim: quando um pobre rouba, vai para a cadeia, mas quando um rico rouba, ele vira ministro.
Lula da Silva, 1988

Semanada
• Marcelo pegou no seu próprio carro e foi visitar Mário Soares a casa no Domingo  28% dos portugueses entre os 16 e 74 anos nunca usaram a internet - a média europeia é de 16%  Portugal teve a mais baixa taxa de fertilidade da União Europeia em 2014  as despesas de veterinário com animais domésticos até ao limite de 250 euros anuais vão poder ser deduzidas no IRS  no ano passado, as infecções hospitalares mataram sete vezes mais que os acidentes rodoviários - 12 pessoas por dia  o Ministério da Educação reconheceu não saber quantos professores estão de baixa  um relatório internacional revelou que os adolescentes portugueses são os que menos gostam da escola nos 42 países analisados  em 2015, foram feitas mais de 300 mil queixas nos livros de reclamações, sobretudo nos sectores do comércio e restauração  a DECO recebeu quase 700 mil queixas em 2015, um aumento de 24% face a 2014, com o sector da energia e das telecomunicações a motivarem o maior número de reclamações  os despedimentos colectivos aumentaram 32,5% desde Janeiro  Angola e Brasil foram responsáveis por uma quebra de mil milhões nas exportações portuguesas em 2015  ainda há 156 milhões de euros em notas de escudos por trocar  por causa da diferença no preço dos combustíveis, devido à carga fiscal, os portugueses abastecem cerca de um milhão de euros por dia em Espanha  o Governo vai criar novas taxas que aumentarão o peso das receitas obtidas pela chamada fiscalidade verde  o Governo propõe-se atribuir financiamentos de 17 milhões de euros com o intuito de promover a modernização dos táxis  um quarto dos carros da PSP estão parados, avariados ou para abate.

Provar
Raramente utilizo açúcar - nem no café. Também não uso adoçantes. Em geral, não bebo refrigerantes adocicados. Mas o chocolate… o chocolate é um incontornável vício. Gosto dele duro e amargo. Uma variante possível são farripas de casca de laranja cobertas com chocolate escuro. Em relação aos ovos da Páscoa, durante muito tempo dediquei-os às crianças. Mas quando descobri que a chocolataria Equador tinha ovos de chocolate preto fiquei naquela fase do regresso à infância. Só me apetecia que me escondessem ovos desse chocolate nos cantos da casa para eu os ir descobrindo. Esta versão adulta dos ovos de chocolate veio trazer uma Páscoa diferente. Nunca é tarde para actualizarmos as nossas memórias e para descobrirmos novos prazeres, neste caso, na Chocolataria Equador - no Porto, na Rua Sá da Bandeira 637, e em Lisboa, na Rua da Misericórdia 72. O difícil é escolher.

Gosto
Há uma editora portuguesa de Jazz, a Clean Feed, que se tornou uma referência no jazz internacional e que editou 400 discos nos 15 anos que já leva de vida e que agora celebra.

Não gosto
Do caos das obras em Lisboa, dos projectos feitos à pressa e que são interrompidos para serem corrigidos, do desprezo que a autarquia manifesta pelos lisboetas que são quem sustenta o incompetente desgoverno da cidade.

Arco da velha
A Câmara Municipal de Lisboa, que metodicamente toma medidas para dificultar o trânsito automóvel e a vida dos automobilistas, encara proceder à demolição quase total da Vila Martel, na encosta da Glória, onde trabalharam alguns dos maiores nomes da pintura portuguesa, para construir um estacionamento robotizado de catorze andares - chama-se a isto o Paradoxo de Medina. Que triste sina a de Lisboa…

Ver
Esta recomendação é para quem está no Porto. Na Galeria Árvore ( Rua Azevedo de Albuquerque 1), está uma exposição que agrupa obras de Cristina Ataíde (na imagem), Graça Pereira Coutinho e Ana Vidigal, sob o título "O Sublime Flamejar das Pestanas", com curadoria de Albuquerque Mendes. Cada uma das artistas tem um espaço próprio na exposição e há uma zona comum onde as obras de todas se cruzam, estabelecendo o diálogo de partida. A ideia é evocar uma casa onde cada divisão é habitada por uma pessoa e existe uma zona comum que é de todas. São 30 obras, entre cerâmicas, pinturas e instalações, em exposição na Árvore até ao fim do mês.

Folhear
Os meus leitores saberão que eu me interesso por experimentar restaurantes, petiscarias, locais variados, desde que não sejam pretensiosos, onde se pratique boa cozinha. Além disso, também já terão notado que eu sou um crente na possibilidade da sobrevivência do papel impresso - nomeadamente das revistas. Já aqui falei algumas vezes sobre a quantidade (e qualidade) de novas revistas que vão surgindo, muitas dirigidas a nichos, outras mais abrangentes. A partir de agora, há um local em Lisboa, na Rua Marquês Sá da Bandeira 88, perto da Gulbenkian, onde se pode encontrar esta nova geração de revistas e apreciar a diversidade e criatividade que o sector tem. Este quiosque contemporâneo chama-se Under The Cover (vejam a página no Facebook com o mesmo nome). Uma das revistas que por estes dias lá vi e trouxe para casa chama-se "The Gourmand - A food and culture journal". Na primeira página está uma citação de Leonard Cohen: "we humans are always looking for things to do between meals". The Gourmand tem uma periodicidade semestral, é editada no Reino Unido e lá tem um preço de 12 libras. Foi considerada a revista do ano em 2015. Cada edição mistura objectos com comida, receitas com reportagens, entrevistas com ensaios. A fotografia é exemplar, a ilustração é cuidada. Neste número 7, editado em finais de Janeiro, destaco um ensaio de um linguista sobre a forma como os menus, as criticas de restaurantes ou a apreciação de vinhos é escrita - um texto deslumbrante intitulado "Sex, Druga And Sushi Rolls". Embora não goste de franceses, gostei da introdução aos princípios básicos da cozinha francesa a propósito dos conselhos culinários de Alexandre Dumas; gostei ainda mais da história sobre as habilidades gastronómicas do vampiresco actor Vincent Price e guardei as receitas que vêm no final da revista - e que, em algum ponto, são mencionadas num dos seus artigos. Sugiro que vá à Under The Cover ver a revista ou que visite o site thegourmand.co.uk.

Ouvir
No princípio, é a linha do baixo; depois, é a voz. A voz, aqui, faz a diferença. A simplicidade dos arranjos ajuda. A clareza das palavras é bem-vinda. O som simples e despretensioso é uma benção. De repente dei comigo a trautear estas canções dos Minta & The Brook Trout. A pôr o disco a tocar vezes seguidas - para ouvir a voz surpreendente de Francisca Cortesão, a guitarra discreta e eficaz de Bruno Pernadas, o baixo de Mariana Ricardo, as teclas de Margarida Campelo, a percussão de Nuno Pessoa. Há muito tempo que uma banda portuguesa não me surpreendia tanto como aconteceu com "Slow", este disco dos Minta & The Brook Trout, um grupo que ao todo já tem meia dúzia de registos no activo. Devo dizer que as canções, as onze histórias que estão neste disco, são da autoria de Francisca Cortesão. Parecem autobiográficas, estão muito bem escritas - um sentido rigoroso na utilização das palavras, cantado em inglês. É o meu disco português do mês. CD NorteSul/ Valentim de Carvalho.


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