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02 de Abril de 2015 às 09:56

A esquina do Rio

Cada vez que há eleições o tema dos debates na TV volta à baila e pelo pior dos motivos - a obrigatoriedade legal de emitir discussões enfadonhas e infindáveis entre todos os concorrentes, num formato estabelecido e regulamentado há 40 anos

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Só os simples acham que se conhecem a si próprios.

Oscar Wilde

 

 

Debates

Cada vez que há eleições o tema dos debates na TV volta à baila e pelo pior dos motivos - a obrigatoriedade legal de emitir discussões enfadonhas e infindáveis entre todos os concorrentes, num formato estabelecido e regulamentado há 40 anos, num período político muito particular, logo nas primeiras eleições de 75, e num universo mediático completamente diferente - apenas um operador de televisão, poucas estações de rádio, grande parte da imprensa estatizada.
O predomínio do Estado na comunicação e nas audiências era total (o contrário do que hoje se passa), já para não falar da inexistência do novo mundo virtualmente infindável do digital. Desse tempo ficou apenas o espectro de uma espécie de rejeição pelo debate político e de ideias quotidiano, reduzido quase só aos períodos eleitorais. Aqui ao lado, em Espanha, o bem produzido programa de debate "La Noche", emitido aos sábados no canal La Sexta, tem conseguido audiências acima da média e foi uma rampa de lançamento para novos políticos e novas organizações, entre as quais o Podemos - ou seja, pôs em causa a velha política e os seus envelhecidos actores. Os debates, que devem ser momentos animados em vez dos monólogos dos comentadores, que são maioritariamente ex-dirigentes partidários dos velhos partidos políticos, podem ser, se forem bem moderados e produzidos, pólos de atracção de audiência como o La Noche tem mostrado - além de desempenharem um fundamental papel no estimular da participação cívica e no acompanhamento dos principais temas em discussão.
A chave da questão, em épocas eleitorais ou não, é conseguir separar o interesse informativo do interesse partidário, ou seja, da mera propaganda. Em ano de início de ciclo eleitoral, era bom reflectir nisto tudo e no muito que nos falta para passarmos do comentário partidário fechado à discussão aberta de ideias - aqui está um dos desafios da comunicação para os próximos anos, e não apenas nas épocas eleitorais.

 

 

Semanada

• António Costa contradisse o que havia prometido na sua campanha eleitoral e renunciou ao mandato de presidente da Câmara Municipal de Lisboa  dias antes, num comício no Porto, o mesmo António Costa pediu a maioria absoluta nas próximas eleições, já depois de se saber que o PS havia sofrido uma derrota assinalável na Madeira, passando para o terceiro lugar, atrás do CDS  ao fim de quase 40 anos, Alberto João Jardim deixou de ser Presidente do Governo Regional da Madeira, mas mesmo sem ele o PSD venceu as eleições  a abstenção nas eleições regionais da Madeira ficou acima dos 50%  Juntos Pelo Povo, JPP, é o nome do novo partido que, nas eleições da Madeira, conseguiu igualar o número de deputados do Partido Socialista  a Fitch manteve o "rating" de Portugal no lixo; a taxa de desemprego subiu em Fevereiro para 14,1% uma subida de 0,3 pontos percentuais em relação a Janeiro - há cerca de 720 mil desempregados  o número de furtos praticados por carteiristas aumentou 36,3% no ano passado; no mesmo período, a criminalidade juvenil, praticada por jovens entre 12 e 16 anos, subiu 23,4%  a aplicação whatsapp, que tem 700 milhões de utilizadores em todo o mundo, ultrapassou o sms em número de mensagens enviadas  Rui Tavares, do Livre, é o político português mais activo no Twitter, segundo um estudo da Universidade Católica, colocando a questão da relação da popularidade no Twitter com o peso eleitoral  Mark Zuckerberg, do Facebook, lidera a lista dos milionários mais mediáticos do mundo; um terço dos quadros médios e superiores portugueses lê notícias nos "tablets"  a Abelha Maia fez esta semana 40 anos.

 

 

Dixit

Se estiver num barco a meter água no meio de uma tempestade é melhor estar ao leme.

António Horta Osório, Sobre os seus primeiros tempos à frente do Lloyds Bank.

 

 

Folhear

A edição de Abril da revista Monocle tem como temas principais a moda e o seu comércio, mas, como é habitual, aborda uma série de assuntos muito abrangentes - desde um espreitadela ao guarda-roupa e ao estilo de Varoufakis a uma deliciosa conversa com Peter Mead, uma das figuras históricas da publicidade britânica. Uma coisa muito curiosa nesta construção da Monocle ao longo dos seus oito anos de vida é a forma como ela evoluiu na Internet. De revista em papel, com características inovadoras à época, tornou-se numa plataforma de conteúdos que tem uma estação de rádio, com programação cuidada, cheia de debates e ideias bem conjugadas com informação, com dez magazines semanais e quatro diários, uma rádio que funciona 24 horas por dia em "streaming".
O "site" da revista oferece conteúdo exclusivo de fotografia e vídeo feitos por uma equipa própria, com uma estética cuidada e que complementam a edição impressa de uma forma rara: "we value the craft of film making", como a revista sublinha. O curioso, e interessante, é que a Monocle nunca disponibilizou os seus conteúdos da edição original em papel a não ser aos seus assinantes que a recebem pelo correio, evitando aplicações abertas.
No editorial desta edição, Tyler Brûlé, o fundador, anuncia novos projectos, como guias de cidades e, em meados deste mês, a Monocle lança em Lisboa um novo formato - o das conferências, com a inaugural "Quality of Life Conference" que, de 17 a 19 de Abril, vai trazer a Portugal um conjunto alargado de especialistas que irão debater o futuro da vida nas cidades e nas instituições que as servem. Na realidade, a Monocle constrói um ecossistema comunicacional próprio, para um público fiel, que vai alargando com novas iniciativas.

 

 

Gosto

Belo programa o da Lisbon Week deste ano. Preparem-se, abre dia 10 de Abril, fica por Alvalade, vai até dia 19, e o programa está em lisbonweek.com/pt com destaque para duas exposições dedicadas a Pardal Monteiro e a Maria Keil.

 

 

Não gosto

Da conjugação de greves simultâneas de transportes em Lisboa, como a que vai acontecer dia 10, paralisando o Metro e a Carris e deixando os utentes sem alternativas.

 

 

Ver

Ana Vidigal gosta de percorrer as suas memórias com recurso a imagens datadas. Podem ser pedaços de coisas banais - como já aconteceu com banda desenhada, ou então, como agora, com capas e páginas de edições antigas das Selecções do Reader's Digest.
A ideia é manusear estas imagens-memória, ocultando texto e realçando apenas algumas palavras, como se cada obra tivesse implícita uma mensagem, às vezes quase um slogan, outras vezes um verso solto de uma frase incompleta que fica no ar. O resultado é semelhante ao de decifrar um labirinto. O nome da exposição é "Amuse Bouche" (na imagem) e fica até 24 de Abril na Galeria Diferença, Rua de São Filipe Nery 42, ao Rato. Outras sugestões para esta semana: na Galeria João Esteves de Oliveira ( Rua Ivens 38), até 30 de Abril, estão desenhos de projecto de Ricardo Bak Gordon, o terceiro arquitecto a expor nesta galeria os seus desenhos, depois de Álvaro Siza e de Eduardo Souto Moura. Estão expostos 24 esquissos de projectos que vão desde casas individuais a prédios de apartamentos, passando por peças de mobiliário; e na Vera Cortês Art Agency, uma exposição de imagens, sons e ambientes, Restless - a partir da ideia do registo fotográfico André Romão expõe observações, faz encenações e sugere maneiras de ver e sentir
- Av. 24 de Julho 54 - 1º-esq. até 2 de Maio.

 

 

Arco da velha

No centro de Lisboa, numa urbanização nova, há duas ruas sem nome desde 2012, prédios sem morada, estacionamento caótico, o carteiro não sabe onde entregar a correspondência, ambulâncias, bombeiros e táxis não sabem onde ir - e tudo porque a Câmara Municipal ainda não agendou quando terá tempo para dar nome à morada de quem já paga imposto.

 

 

Ouvir

Três mulheres norueguesas, Anna Maria Friman na voz e violino, Linn Andrea Fugiseth na voz e órgão portátil e Berit Opheim na voz e carrilhões integram o Trio Mediaeval - uma formação que busca inspiração na tradição musical antiga, com incursões por sonoridades contemporâneas. No seu disco mais recente, "Aquilonis", interpretam temas populares tradicionais, maioritariamente de inspiração religiosa, como o "Ofício de São Thorlak", do século XIV, e composições contemporâneas de Andrew Smith e de outros compositores, como Anders Jormin, William Brooks e de elementos do próprio trio.
Há referências a melodias da música sacra italiana do século XII, a baladas inglesas do século XV, os arranjos dos temas tradicionais são das três intervenientes e a edição é da ECM. O disco é de uma serenidade avassaladora, foi considerado uma das edições a reter de 2014 pelo New York Times. John Potter, dos Hilliard Ensemble é um dos mentores do Trio Mediaeval e descreve o grupo como "uma síntese de sons e atmosferas que misturam histórias e geografias diversas".

 

 

Provar

A receita original é austríaca, tornou-se popular em Nova Iorque e em Lisboa tem revoadas - falo dos bagels, esse pão redondo, alto, com um furo no meio, uma espécie de donut sem ser doce. A mais recente destas revoadas aterrou pela mão de franceses em Campo de Ourique, no nº 120 da Rua Silva Carvalho, em frente ao antigo British Hospital. Vendem-se à unidade, simples, com sementes de sésamo ou papoila, para levar para casa para o pequeno-almoço, a um euro cada um. Ou podem provar-se no local na versão de almoço ou de lanche. Ao almoço há bagels de atum, frango, salmão fumado, queijo cheddar ou totalmente vegetariano, servidos sempre com rúcula ou outros vegetais, muitas vezes com queijo philadelphia - e ainda há saladas mistas ou coleslaw (cebola, couve, cenoura, tudo cortado em juliana e envolvido num molho especial). Para sobremesa, há muffins, cookies caseiros (bem bons) e brownies. Ao lanche, o bagel pode vir com nutella, compota ou manteiga. Um bagel bem recheado fica pelos cinco euros e meio. O dono, Raphael, é de origem austríaca e tem exposto numa vitrina o livro de receitas da avó, com a receita da massa dos bagels. É do seu nome, Raphael, que vem a designação do local - Raffi's Bagels. Tem duas mesas no interior e quatro na pequena esplanada.

 

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