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08 de Março de 2013 às 09:35

A esquina do Rio

Quando um partido chama, para candidato autárquico, o ex-trunfo eleitoral trágico-cómico de um candidato derrotado a um clube de futebol, está tudo dito.

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Lisboa

Quando um partido chama, para candidato autárquico, o ex-trunfo eleitoral trágico-cómico de um candidato derrotado a um clube de futebol, está tudo dito. Seara fica o equivalente PSD do sportinguista Dias Ferreira ao convidar Paulo Futre para presidente da Junta de Freguesia de Campolide. E quem, nos partidos que apoiam a candidatura de Seara, assobia para o ar enquanto a avançada de Futre se desenrola, fica potencialmente fora de jogo por melhores intenções que tenha. Assim já temos um cómico nas autárquicas em Lisboa - e ainda a procissão vai no adro. O autismo dos protagonistas políticos é aquilo que mais facilita o discurso contra os partidos. E quando um discurso nasce por isto, não é um discurso contra a democracia, mas apenas uma chamada de atenção para a tentar salvar. A democracia não se fortalece com a indiferença face a imbecilidades.

 


Itália
Não resisto a transcrever este excerto que dá o mote a um brilhante artigo de um colunista do "Corriere della Sera", Beppe Severgnini, publicado esta semana na revista "Time": "Em Roma não há Papa, o primeiro-ministro Mario Monti está de saída, o recém eleito Parlamento parece irremediavelmente comprometido e o Presidente Giorgio Napolitano está a dez semanas de se reformar, o que quer dizer que já não tem poderes constitucionais para convocar novas eleições - e pode até acontecer que saia de cena mais cedo que planeado, deixando a Itália completamente sem liderança."

 


Folhear
Em plena hecatombe europeia, este é um dos números mais provocantes da revista mensal "Monocle". O título diz tudo: "Why The World Needs The New Germans". Em destaque estão 12 personalidades alemãs contemporâneas que "o mundo deve conhecer", desde arquitectos a apresentadores de televisão, passando por designers de automóveis, artistas, cientistas, directores de museus e até uma jogadora de futebol. Mas esta "Monocle" dedica-se também a contar a história de ícones alemães, como os lápis da Faber ou os ursos doces da Haribo. Há também um "portfolio" que representa empresas industriais de pequena e média dimensão, que se distinguem pelo contributo que dão para a economia - desde um fabricante de órgãos para igrejas, até material científico para escolas, máquinas tipográficas como a histórica Heidelberg ou, até, uma fábrica de trelas para cães e outra de torneiras. Claro que há muito mais para ler, desde propostas culinárias e gastronómicas até às obrigações e estratégia das emissões internacionais da televisão pública alemã (um artigo bem engraçado na nossa conjuntura...) ou, finalmente, o movimento de ressurgimento das artes na Baviera.

 


Ouvir
"Apetece-me tanto ouvir Schubert", dizia ela num domingo de manhã. Por sorte estava aqui o disco - o novo trabalho de Maria João Pires, onde interpreta duas das sonatas mais célebres de Schubert. A Sonata n.º 16, em Lá menor, foi apresentada pelo próprio compositor como a sua "Primeira Grande Sonata"; e a Sonata n.º 21 em Si Bemol maior, a derradeira do compositor, concluída pouco tempo antes da sua morte, considerada uma das mais substanciais obras para piano da última fase de Schubert. As gravações foram feitas em estúdio, em Hamburgo, em 2011, e são um exercício de maturidade da pianista, ao preferir, nas suas próprias palavras, "não tomar cada obra como um todo, mas simplesmente tocá-la tal como ela é dada" pelo compositor. O exercício resulta, e é uma prova de comedimento e de modéstia, coisas que os intérpretes exuberantes não apreciam. Felizmente, Maria João Pires não alinha nessa categoria. A sua interpretação mostra a expressividade da música de Schubert, mas respeita as suas nuances, o seu colorido. Sobretudo no final da segunda sonata, percebe-se a sensibilidade de Maria João Pires, a sua técnica colocada ao serviço do respeito pela música, tal como ela foi imaginada. CD Deutsche Grammophon.

 


Provar
Em Lisboa, ao contrário de outras cidades, não há muitos bares equipados com vários ecrãs para nas noites europeias se verem os diversos jogos ao mesmo tempo. Pois fiquem sabendo que agora existe um lugar assim no Hotel Real Parque, na Avenida Luís Bivar 67. Em tempos já aqui elogiei o restaurante deste hotel, louvaminhando em especial o cozido à portuguesa das terças-feiras. Mas hoje o assunto é como passar um fim de tarde com amigos a olhar para o ecrã - O Real Sports Bar é um sítio raro, onde tanto se pode comer um belo prego em bolo do caco, prego do lombo acondicionado em manteiga de alho - uma coisa pecaminosa. Ou, então, um belo de um hamburguer feito de carne da vazia com bacon, bom queijo, cebola, alface, servidos numa simples focaccia, com toques de rúcula e o natural acompanhamento da batata frita. Se nada disto atrai peçam uma tábua de queijos ou um prato de carnes frias e um copo de vinho. Get ready. Esta cidade anda pasmada e sítios assim ajudam a recuperar da crise. A bons preços, esclareço.

 

 

Arco da velha
Em Tomar, um advogado levou uma arma para a sala de audiências (na leitura de uma sentença), afirmando que não sente confiança na segurança dos tribunais portugueses.

 


Semanada
A venda de casas já caiu cerca de 50%; o valor médio das transacções de imobiliário caiu 20% em 2011 e cerca de 25% no ano passado; Lisboa registou a maior queda, com 61%, seguida do Algarve com 57%; o Estado tem já mais pensionistas que funcionários activos; actualmente, em Portugal, há 16 vezes mais pessoas insolventes que em 2008; a A5 teve uma quebra de circulação de 6 mil veículos por dia em 2012; o Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana recebe cerca de 300 pedidos de esclarecimento diários, de inquilinos e senhorios, sobre a nova Lei das Rendas; Merkel vai ter de defrontar nas próximas eleições um partido anti-euro, "Alternativa Para a Alemanha", criado à volta das figuras que quiseram vetar a participação do país no primeiro resgate à Grécia; Vitor Gaspar defende que o esforço de Portugal no pagamento da dívida à troika deve ser maior que o da Irlanda; pelas contas do Governo, Portugal vai levar quatro décadas a colocar a dívida pública em 60% do PIB; numa feira industrial de calçado em Milão estão 114 marcas portuguesas, que exportam 500 milhões de euros e empregam 6.000 pessoas.

 


Ver
Nestes tempos conturbados, há uma exposição que merece uma visita: "Cartazes de Propaganda Chinesa - A Arte ao Serviço da Política". A exposição está no Museu do Oriente até ao final de Outubro e mostra uma centena de cartazes de propaganda política chinesa, produzidos entre 1959 e 1981, que constituem um documento histórico da celebração da agitação e propaganda, no período que vai do Grande Salto em Frente e da criação das Comunas Populares ao fim da Revolução Cultural. Esta centena de cartazes integra a Colecção Kwok On da Fundação Oriente e mostra os temas mais correntemente abordados à época, como a glorificação do presidente Mao Zedong e dos heróis comunistas, a prosperidade da economia, a luta contra o imperialismo, a felicidade do povo e o poder do exército. Alguns destes cartazes tinham tiragens enormes, da ordem das dezenas de milhar de exemplares, e integravam o quotidiano das cidades chinesas. Eram, na realidade, peças de arte ao serviço da política, evidenciando o impacto que a imagem pode ter na comunicação. É curioso também notar a influência do grafismo destes cartazes na propaganda portuguesa nos anos a seguir a 1974 e, já agora, é muito curioso comparar com o que é feito hoje em dia - graficamente mais pobre, predomínio da palavra sobre a imagem, desaparecimento de figuras heróicas ou exemplares. Como quase tudo na vida, a tendência ressurgirá um dia destes. Imperdível para quem se interesse por comunicação política. E pela agitação que deve inspirar a propaganda.

 


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