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04 de Janeiro de 2013 às 12:01

A esquina do Rio

Esta primeira "Esquina" de 2013 é dedicada ao futuro. A primeira coisa que me ocorre dizer é que, de certeza, isto não vai ser pêra doce

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Futuro
Esta primeira "Esquina" de 2013 é dedicada ao futuro. A primeira coisa que me ocorre dizer é que, de certeza, isto não vai ser pêra doce; a segunda, é que o futuro se vai fazer com algumas coisas do passado e muito poucas do presente - e isto também se aplica ao Sporting...; e a terceira é que ou mudamos de método, de protagonistas e de funcionamento, ou o nosso futuro vai ser mesmo amargo. Começo a estar um pouco farto de aprendizes de políticos que utilizam a palavra "colossal" em discursos, como se estivessem a resolver apenas um problema de palavras cruzadas. Para seguir com a linha de palavreado como colossal, eu gostava de dizer que tenho um titânico desprezo pelos falhanços descomunais das previsões, além de um gigantesco desagrado pelas manifestações de hercúleo desrespeito das promessas eleitorais. As eleições, que, permito-me recordar, regressam neste ano, são, recorrentemente, uma barrigada de promessas. Acontece que estas barrigadas têm sido avassaladoramente indigestas nos últimos anos. O cúmulo é que neste Natal não houve sequer sonhos para provar: umas rabanadas..., e basta. O futuro é pensar quanto custa um mau Governo e ver se descubro porque é que a factura cai em cima de mim e não deles. Estar no Governo, quer-me parecer, é a única situação em que quem cava o buraco consegue evitar cair nele e escapar-se a tapá-lo. O meu desejo é que o sistema mude, que os partidos mudem e que os políticos de serviço se reformem - compulsivamente, de preferência. E quando se reformarem, que fiquem caladinhos por favor para não fazerem a triste figura dos seus antecessores.

 

 

Escrever
Desde há uns meses, ando a ver se aprendo a escrever de acordo com as novas regras. E, sinceramente, já não tenho idade para tanta imposição nova. Ainda se fossem regras lógicas, podia entender -, mas absurdas como são, só me fazem desprezar ainda mais quem as criou. Foi com um sorriso, confesso, que esta semana dei por mim a abençoar as autoridades brasileiras que tiveram o bom senso de dizer o óbvio - que o novo acordo ortográfico tresanda a asneira e vai ter de esperar para ser aplicado. É assim como que uma imensa bofetada de luva branca, tão grande que atravessou o Atlântico. Já não sou crédulo que chegue para imaginar que quem nos governa se preocupe com estas minudências do idioma ou da gramática. Mas gostava que, ao menos, não aplicassem à Língua Portuguesa o que estão a fazer a Portugal, que é deixá-lo cair aos poucos.

 

 

Aquilo
Prometi a mim mesmo que não iria escrever sobre aquilo. O tabu anunciado. Isso. A mensagem na véspera do anúncio. A decisão na véspera da revelação. A maneira de dizer e não dizer. A forma de não fazer, fazendo. O estilo de deixar correr sem remorsos.

 


Ouvir
Não usei muitas vezes a expressão "the next big thing" referindo-me à música. Mas desde que ouvi um disco chamado "Manuel Fúria contempla os Lírios do Campo" que ela não me sai da cabeça. Manuel Fúria é o nome do homem de sete instrumentos que fez este disco, estas nove músicas. Soube ouvir, sabe pensar e sabe fazer. E sabe escrever canções que se podiam dizer vestidas de metralhadora - tiros em rajada, certeiros, com palavras que ficam. Eu gosto disto e é um belo começo para a música portuguesa em 2013.

 


Folhear
Volta e meia regresso à "Wallpaper", e a edição de Janeiro é precisamente dedicada ao futuro - e registo, contente, que um dos locais recomendados é a Miss'Opo, uma "guesthouse", ou casa de hóspedes para usarmos o vernáculo antes que se perca. Não me vou demorar a dizer o que a revista tem - e tem muito - e fico-me pelo editorial. O escrito pega num triângulo com três vértices: bom, barato e rápido. E conclui aquilo que nunca devemos esquecer: posso fazer as coisas bem e de forma rápida, mas não vai ser barato; posso fazer as coisas muito bem e por bom preço -, mas não vai ser rápido; e finalmente podemos ter as coisas feitas depressa e por bom preço -, mas então raramente serão boas. Há quem se esqueça disto - desde pedidos de propostas até medidas de Governo. O resultado está à vista e podia chamar-se Portugal.

 


Ver
Uma maneira fácil de ir seguindo boa fotografia é ver o site do British Journal Of Photography. Apesar da solenidade do nome, e do peso histórico que carrega, o conteúdo é bem contemporâneo, a atenção à evolução da forma e da técnica é constante, e a maneira como são mostrados novos talentos e obras consagradas é assinalável. A revista em papel é luxuosa, o site é dinâmico e a aplicação para iPad funciona bem. Mas nada seria relevante se a dedicação à fotografia não fosse tão exemplar como de facto é.

 


Arco da velha
"Balas & Bolinhos" foi o filme português mais visto em 2012, com 255.548 espectadores, seguido de "Morangos com Açúcar", com 236.856, enquanto "O Cônsul de Bordéus" registou 50.740, as "Linhas de Wellington" conseguiu 49.343 e "Florbela" ficou-se nos 40.875.

 


Semanada
Em 2012, venderam-se menos de 100 mil ligeiros de passageiros novos, o que não acontecia desde 1985; o custo potencial das dúvidas constitucionais colocadas pelo Presidente da República rondará os 1,7 mil milhões de euros, mais ou menos 0,7% do PIB; estão a ser declaradas 52 falências judiciais por dia; registaram-se 30 casos graves provocados por drogas legais em dois meses; segundo o INE, em 2011, os jornais diários registaram menos cinco títulos e os não diários menos 152, enquanto as revistas perderam 162 títulos; na área da cultura, o Instituto Nacional de Estatística regista a diminuição de 5,2% do número
de espectadores no cinema em 2011, relativamente a 2010; no mesmo período, o número de sessões aumentou ligeiramente (0,1%); entre 2005 e 2011, o número médio de espectadores que assistiram a espectáculos ao vivo baixou 11,2%; existem perto de cinco milhões de emigrantes portugueses espalhados pelo mundo; em 2011 saíram cem mil emigrantes e o destino mais procurado foi Angola, seguido do Reino Unido, França e Suíça; o Brasil veio no fim da lista, a par com a Holanda.

 


Provar
Num tempo de contenção, um restaurante com boa onda e que vive do reaproveitamento gastronómico das conservas portuguesas, merece aplauso e destaque. Os leitores destas páginas sabem do apreço que tenho pelas boas conservas portuguesas. Folgo em registar que é o mesmo sentimento que Rui Pregal da Cunha, o vocalista dos Heróis do Mar, mais tarde publicitário e homem de vários ofícios, resolveu professar no seu restaurante "Can The Can". O nome é uma graçola feita a partir de uma canção da época "glam-rocak", por Suzi Quatro, uma rapariga notoriamente à frente do seu tempo. Já agora, o trocadilho da canção aplica-se que nem uma luva às latinhas das conservas. Tenho ouvido louvaminhar a tiborna de atum e um dia destes vou mesmo passar pelo "Can The Can". É fácil, fica no Terreiro do Paço, ali pelo número 82, para os lados do Ministério das Finanças. Dizem-me que nem a troika nem o Raspar (perdão, Gaspar...) por lá costumam passar, o que é sempre uma boa carta de apresentação. O telefone é o 914007100, que pode ser usado para marcações, para também para saber se na noite em que lá quiserem ir canta alguém, o que por vezes acontece - sem causar indigestões.

 


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