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Manuel Castelo Branco - Advogado 01 de Março de 2013 às 00:01

O antónimo da austeridade

Quando se regressa a Portugal depois de se ter passado dias suficientes num país em franco desenvolvimento percebe-se porque é que " tudo isto é triste, tudo isto é fado"!

Por razões várias, passei recentemente essa suficiência de dias num país não Europeu onde se vê gente nas lojas, gruas nas cidades, aquisições nas bolsas, turistas nos hotéis, publicidade nos jornais e televisões, ofertas de emprego e pessoas a caminhar nas ruas de forma decidida a caminho dos empregos, dos negócios, das conferências, dos concertos ou das aulas!


Vi gente alegre e confiante no futuro; e gráficos com linhas azuis e saudavelmente crescentes.

Sobretudo, vi jovens universitários confiantes em que o seu futuro não passa, obrigatoriamente, pela emigração.

Lembrei-me do Portugal dos anos 90 que, com o mudar do século, não soube consolidar o seu crescimento porque pensou que já não era preciso produzir e criar e que podia viver de créditos em que só a pechincha dos juros tinha de ser paga.

Quando se aterra em Lisboa, naquele aeroporto que já não devia estar lá há mais de 30 anos, se tenta dizer bom dia a alguém local, se inicia uma discussão com o motorista de táxi que estava a contar com um serviço, no mínimo, para as Beiras e se abre o jornal apetece… levantar voo outra vez!

Quem se tenha afastado uns dias largos da vivência da política portuguesa (seja a grande ou a pequena) fica com a sensação de que Portugal, confessado e arrependido, vive em estado de penitência flutuante.

Ao contrário do comum dos católicos confessados e arrependidos, nós Portugueses do triste fado não sabemos porém a data-limite ou a quantidade dessa penitência! Apenas nos informam de sucessivas datas (normalmente fins de semestre) antes das quais não terminará.

Se perguntarem a quem manda quantos jejuns e abstinências ainda faltam, ninguém sabe exactamente. Alguns heréticos, para animar as gentes, sussurram que a partir de 2014 já poderemos andar de pé e comer qualquer coisita, mas quem manda cá dentro e quem manda lá de fora, não confirma nem desmente, antes pelo contrário.

É isso que impressiona em Portugal: a consagração da austeridade como um estado inevitável, quase uma virtude.

O discurso oficial deveria passar a utilizar apenas antónimos da palavra austeridade.

Não há economia que reanime sem um discurso optimista e sem gente nas lojas.

Advogado

mcb@mcb.com.pt

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