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Manuel Castelo Branco - Advogado 03 de Janeiro de 2013 às 23:30

"Machtfrau"

A Irlanda parece já ter resolvido o seu problema financeiro e o primeiro-ministro, que durante os próximos seis meses assumirá a presidência rotativa da União Europeia, já anunciou que os Irlandeses querem liderar a nova fase de crescimento da Europa!

"O verdadeiro risco para a economia mundial está na Europa" afirmou recentemente Joseph Stiglitz, prémio Nobel da Economia, segundo citação transcrita do Diário de Notícias de ontem.


Julgo que ninguém tem dúvida que em 2012 o sistema financeiro internacional esteve muito perto de colapsar, por causa da Europa do Euro. Vários "opinion makers" o prognosticaram e os mais importantes "decision makers" se sentiram, muitas vezes, impotentes para conter a implosão do Euro. Alguns chegaram mesmo a enterrar a cabeça na areia!

Tudo parece apontar no sentido de que o Euro entrou muito mais consolidado em 2013.

Os Hedge Funds que apostaram na desintegração do Euro foram apanhados em contrapé. Louvando-me em informação publicada anteontem no Financial Times e relativa a meados de Novembro, o fundo Comac tinha perdido 8,9%, o Capula 14% e o Advantage Plus (de John Paulson) 20%, a juntar aos 50% de 2011!

A Espanha conseguiu sobreviver 2012 sem um resgate e obteve um tratamento privilegiado para a sua banca, com 100 mil milhões de ajuda garantida. É opinião quase unânime que o Sr. Rajoy não conseguirá evitar uma troika por mais chicuelinas que ensaie… mas já se dizia o mesmo no ano passado e a verdade é que ele lá está sem ter de fazer exames escritos e orais em inglês cada três meses. Os spreads espanhóis mantêm-se a níveis suportáveis e os responsáveis pela economia e finanças anunciam crescimento já para os finais de 2013!

Em Itália, o Sr. Berlusconi casou-se outra vez, ameaçou voltar à política e isso foi suficiente para despertar nas velhas Repúblicas o gosto pela pequena política! O senhor Prodi aceitou continuar e, se os eleitores italianos confirmarem o voto nos partidos que o designarão para primeiro-ministro, a Itália continuará a ser gerida sem precalços que permitam às agências de rating anunciar downgrades e os "mercados" iniciar a subsequente especulação.

Portugal continua um aluno diligente e bem comportado que faz mais trabalhos de casa do que lhe são pedidos... com os resultados que estão à vista: uma incompreensível crise com a UGT e uma mortífera batalha promovida contra o Presidente da República.

Na Grécia, está tudo calmo… até à próxima crise. Parece mesmo que foi às recompras… da sua própria dívida pública que os Hedge Funds tinham adquirido a preços de saldo.

Se se confirmar o que noticiava o International Herald Tribune, há cerca de uma semana, ganharam os gregos (que amortizaram por 30 a dívida originária de 100 que tinham colocado junto de investidores), os especuladores (que revenderam por 30 o que tinham adquirido em saldo por 10 aos investidores)… e perderam os ditos investidores (que tinham vendido ao desbarato com medo da expulsão da Grécia da Zona Euro! ).

A Irlanda parece já ter resolvido o seu problema financeiro e o primeiro-ministro, que durante os próximos seis meses assumirá a presidência rotativa da União Europeia, já anunciou que os Irlandeses querem liderar a nova fase de crescimento da Europa!

Os EUA voaram sobre o abismo fiscal e conseguiram aterrar do outro lado, em situação de emergência mas sem danos imediatos. É claro que o Presidente Obama e os democratas vão ter de suar as estopinhas quando quiserem aprovar no Congresso os novos limites para a emissão de dívida (tão necessários para que o Sr. Bernanke possa continuar o seu trabalho) e o montante da despesa pública, pelo que o futuro vai ser incerto e conflituoso. Mas não será dos EUA que virão os riscos de agravamento da crise financeira internacional, pelo menos no curto prazo… e os "mercados" já saudaram esse facto promovendo a inflação nas bolsas mundiais.

A Chanceler Merkl entra assim no ano das suas eleições com uma Europa aparentemente no bom caminho e a economia mundial sem riscos, pois também a grande e poderosa China (que agora já fabrica mais automóveis do que a Europa) teve um ano economicamente robusto.

Vai ser eleita em Setembro para o seu terceiro mandato que exercerá em coligação, provavelmente com os sociais democratas, pois os liberais voltaram à fase de eclipses e os verdes são demasiado arrojados.

Segundo uma longa e interessante reportagem publicada em 15 de Dezembro no FT, na Alemanha chamam à Chanceler a "Machtfrau" (a "Mulherpoder") e ela é, sem dúvida, muito popular porque com a sua política de passo a passo, fundada na inexistência de alternativa à austeridade pura e dura, teria conseguido disciplinar e manter no Euro os países periféricos.

Que, uns mais que outros, precisavam de disciplina e rigor ninguém tem dúvidas (julgo que nem os próprios).

Mas os grandes passos, os que permitiram salvar o Euro e evitar uma crise financeira internacional de proporções inimagináveis, foram dados por aqueles (como Draghi, Durão Barroso e Mário Monti) que conseguiram provar à Chanceler Merkl que havia, e há, alternativas.

Advogado

mcb@mcb.com.pt

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