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Indústria 4.0 sem engenheiros?

As TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação serão instrumentais para a evolução exponencial das tecnologias energéticas, tecnologias da saúde, biotecnologias, tecnologias dos materiais, tecnologias da mobilidade e dos transportes, …

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Nota: Este artigo está acessível, nas primeiras horas, apenas para assinantes do Negócios Primeiro. 

 

O senhor secretário de Estado da Indústria deu uma entrevista ao Jornal de Negócios, no passado dia 7 de Novembro, onde fala sobre a Indústria 4.0, e faz a seguinte afirmação: "No caso da digitalização da indústria, o maior contributo nem são engenheiros, não é o que os empresários pedem."

 

É necessário ler duas vezes, para se acreditar que um secretário de Estado da Indústria de um país, membro da União Europeia e do euro, faz tal afirmação.

 

Continuo, sempre, a surpreender-me com o à-vontade com que pessoas sem qualquer formação teórica e aplicacional, de nível superior, nas áreas da Matemática, Física e Química, as bases científicas da formação dos engenheiros, emitem opiniões sobre os engenheiros, a engenharia e a tecnologia.

 

No meu caso particular, engenheiro do Técnico, membro especialista em Engenharia e Gestão Industrial da Ordem dos Engenheiros e membro da Academia de Engenharia, tive de ler a entrevista várias vezes, para me convencer de que era real.

 

Mas a entrevista, no seu todo, focando-se em generalidades e mostrando os conhecimentos superficiais do seu autor nos domínios da engenharia e da tecnologia, revela ainda um conjunto de equívocos sobre a Indústria 4.0.

 

Contrariamente ao que se afirma, a grande revolução da Indústria 4.0 vai surgir nas tecnologias verticais e não nas tecnologias horizontais.

 

As TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação serão instrumentais para a evolução exponencial das tecnologias energéticas, tecnologias da saúde, biotecnologias, tecnologias dos materiais, tecnologias da mobilidade e dos transportes, …

 

Também ocorrerão algumas alterações nas indústrias tradicionais - calçado, vestuário, …, onde teremos, basicamente, inovação incremental, com suporte nas redes digitais, mas não será aí que a revolução tecnológica ocorrerá.

 

Os novos "clusters" tecnológicos, suportados em tecnologias verticais, utilizarão, em permanência, as redes de conhecimento tecnológico sectorial, que serão, cada vez mais eficientes, pelo uso das novas facilidades das TIC, permitindo a gestão de projectos e de robôs, comandados à distância, protótipos desenvolvidos com a utilização de impressoras 3D, …

 

Este novo mundo, por muito que desagrade ao senhor secretário de Estado da Indústria, é o mundo do conhecimento científico e tecnológico estruturado, que se obtém nas boas universidades de engenharia e tecnologia, ou seja, é o mundo dos engenheiros e dos tecnólogos: informáticos, físicos, químicos, biomédicos, electrotécnicos, mecânicos, de materiais, …

 

E, infelizmente, o nosso país tem poucos bons engenheiros e tecnólogos, para encarar com optimismo, este desafio.

 

E se não actuarmos nestes domínios, depressa e bem, com o empenho das nossas boas universidades de engenharia (não é o IEFP que vai resolver o problema!), não seremos parte activa e relevante na implementação da Indústria 4.0 na Europa, a que pertencemos.

 

No mesmo jornal, foi publicado, por uma coincidência, a que sou alheio, um artigo de opinião, meu, intitulado "Inovação empresarial: mitos e realidades", elaborado a partir dos manuais académicos que utilizo para ensinar os meus alunos de Gestão da Inovação e da Tecnologia do mestrado MGST do ISCTE.

 

A finalizar, aguardo, com expectativa, a reacção, a esta entrevista, dos dirigentes da minha escola de engenharia, o Técnico, e da minha Ordem, a Ordem dos Engenheiros.

 

Engenheiro (IST)

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