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Tempo de antena

Hitler foi um dos primeiros políticos a usar, de forma consciente e estudada, os meios de comunicação como instrumento de manipulação das massas.

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Aquilo a que chamou "propaganda" serviu a conquista do poder, recorde-se que foi eleito democraticamente, levou o povo alemão a envolver-se numa das guerras mais sinistras da história e, bem vistas as coisas, perdurou para além da derrota, já que as suas ideias perniciosas continuam a infetar muitas cabeças.

 

Hitler levou a política espetáculo ao extremo, tanto no cuidado dado às grandes encenações de massas quanto no desenho das mensagens, sempre com o objetivo declarado de ludibriar, de alienar, de estupidificar. Nunca de esclarecer ou racionalizar.

 

O modelo hitleriano fez escola. É o que vigora hoje sob o nome de marketing político. Assenta sobretudo em três aspetos fundamentais que aliás se encontram descritos no "Mein Kampf". Deve falar-se simples para a grande massa e não para a minoria intelectual; deve apelar-se ao sentimento e não à razão porque "a grande maioria da população é feminina na sua maneira de pensar, cede mais à emoção do que à razão"; deve repetir à exaustão os mesmos argumentos lineares, se possível através de estereótipos. Simplicidade, emoção e repetição resumem a comunicação política de Hitler. A mesma que é usada pelos partidos democráticos dos nossos dias.

 

A confirmá-lo basta ver os tempos de antena da campanha eleitoral em curso. Todos seguem esta cartilha ainda que uns com mais eficácia do que outros. Os muito pequenos, aqueles que não têm atividade regular, nem militantes, diga-se, e só aparecem quando há eleições, metem dó pela flagrante inépcia. Sem meios, e ainda com menos imaginação, debitam alguns argumentos avulsos e mal elaborados. No essencial simulam "os grandes" na pose, mas sem talento. Um dos tempos de antena mais patético é o do Partido Democrático do Atlântico que tem como candidato Paulo Casaca, que foi deputado europeu pelo PS durante 10 anos, e agora "independente" puxa pelos galões e fala sobretudo da sua carreira. A razão da sua candidatura resume-se a um já lá estive, conheço os cantos à casa e, portanto, votem em mim. Pelo menos é sincero.

 

PC e Bloco repetem a cassete. O Bloco tem o mérito de mostrar excertos de discursos do Passos Coelho candidato em 2011 a afirmar precisamente o oposto do que fez e faz como primeiro-ministro. São imagens chocantes.

 

O PS não passa do habitual. Vídeos tecnicamente bem feitos, mas sem garra e ainda menos inovação. Em suma, à imagem de Seguro.

 

Os vídeos com melhor qualidade, mais bem elaborados, são os da coligação PSD/CDS. Correspondem inteiramente à técnica de manipulação atrás descrita. Prometem emprego, crescimento económico, melhor saúde, sensibilidade social, atenção ao interior e à agricultura, mais cultura, mais ciência e inovação, ou seja, exatamente o oposto da governação e da posição, de apoio entusiástico à austeridade, seguida por estes partidos na Europa. Os tempos de antena da coligação de direita repetem o método que os levou ao poder. Há que enganar o povo. Descaradamente já que vergonha é coisa que não existe nestas bandas.

 

A direita serve-se da campanha para desgastar o PS e sobretudo para minar um bom resultado de António José Seguro, o único que realmente tem tudo a ganhar ou perder com o resultado eleitoral. A histeria de Paulo Rangel é fabricada. Não é nazi como sugeriu Manuel Alegre, mas tem muito do modelo hitleriano na criação de um inimigo, um culpado, um vírus social que é preciso eliminar a todo o custo. Simplicidade na mensagem, foram os socialistas que arruinaram o país; apelo à emoção, ao meter medo se eles voltarem ao poder e ao despesismo; repetição por todos os meios destas duas ideias simplistas e demagógicas. Pode não dar muitos votos, mas lança dúvidas e aumenta a abstenção, coisa que também serve os interesses da direita.

 

Enfim, a política alienante e espetacular, tal como explicou Hitler, é uma excelente técnica de conquista do poder. Tanto mais que, o que ele chamou a efeminização dos cidadãos, garante que a objetividade, a seriedade e a racionalidade contam pouco nestas coisas. 

 

Artista Plástico

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.

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