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O Magnífico

Não tenho nada contra a candidatura de Sampaio da Nóvoa à Presidência da República. Aliás, qualquer cidadão com mais de 35 anos se pode candidatar.

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Mas não deixa de ser curioso que um homem que nunca teve intervenção política digna de registo, nunca se destacou em intervenções críticas ou propostas de caráter político, nunca se manifestou contra isto ou a favor daquilo de forma visível para todos, quando finalmente decide entrar na cena política atira logo para o cargo de Presidente da República. Não faz a coisa por menos. Não lhe chega uma Secretaria de Estado. Não. Quer ser Presidente. Pelo menos ambição não lhe falta. Lata também não.

 

O próprio pode dar-se em grande conta e até ter muitos talentos, coisa que dizem que tem e eu acredito, mas ninguém o conhece. Um reitor pode ser chamado de Magnífico mas não é propriamente uma estrela da TV. Diga o leitor o nome de dois reitores em exercício. O cargo, até por natureza, é bastante reservado, anda pelos gabinetes, corredores e conferências internacionais. Não é certamente um concurso de popularidade. O universo académico é isso mesmo, académico. Só dá notoriedade entre os pares.

 

Não vejo como nuns quantos meses, com a campanha das eleições legislativas pelo meio e respetiva peixeirada, o homem conseguirá dar-se a conhecer ao povo. É claro que por estes dias vai a todas. Sobretudo às iniciativas dos partidos de que pretende apoio. Mas arrisca-se a encontrar sempre a mesma gente. O croquete partidário é bastante repetitivo e certamente não o tornará conhecido. Os discursos bem escritos e bem declamados, que todos destacam, também não. O povo não tem paciência para a erudição. Não ouve.

 

Basta pensar nos Presidentes eleitos democraticamente. Eanes, Soares, Sampaio e agora Cavaco. Todos sobejamente conhecidos pela sua intervenção política e não por outras coisas. Mesmo Eanes, o menos ativo e sem cultura partidária, foi o militar que emergiu do 25 de Novembro. Tornou-se de imediato conhecido pelos óculos escuros e pela frase arrastada. Depois foi conquistando apoios à esquerda e à direita. Teve o seu auge de notoriedade quando subiu para cima de um carro. Uma cena bastante telegénica, diga-se de passagem. Soares e Sampaio dispensam apresentação. São senadores. Vêm de longe, com vidas de luta e coragem. Cavaco Silva é o político que mais tempo esteve no poder no Portugal pós-25 de Abril. Palavras para quê. Todos a gente o conhece, pelo bom e pelo mau.

 

Em conclusão, para a Presidência os portugueses não dão votos a desconhecidos. Mesmo que seja Magnífico.

 

Dito isto, temos o PS com um problema sério. Não tem candidato. E aqueles que por aí se vão sucedendo, como desejo ou como hipótese, não descansam ninguém. Jaime Gama dá sono; Maria de Belém não dá nada.

 

Vai-se assim abrindo um caminho largo, uma verdadeira avenida, para Marcelo Rebelo de Sousa. Ao contrário de Sampaio da Nóvoa, Marcelo é uma estrela da TV. Metade do país assiste com regularidade às suas homílias de domingo. Onde além de ler cerca de 50 livros por semana, fala de tudo desde a política ao futebol. Nesse relambório nunca perde a oportunidade para mostrar uma isenção estudada. Diz mal do governo do seu partido, dá conselhos a todos os outros. Que é como quem diz, querem melhor para Presidente de todos os portugueses?

 

Como se sabe, o povo adora estrelas da TV. Não é só cá. Os californianos escolheram para governador Schwarzenegger, que além de ter um nome impronunciável, ser austríaco, não se perceber nada do que diz, destacou-se como ator de filmes de pancadaria. E fizeram-no por duas vezes.

 

A notoriedade das ideias, das posições políticas, éticas e culturais, vai dando lugar à chuva de estrelas onde pouco importa o que cada um pensa mas quantas vezes aparece na televisão.

 

É por isso que numa contenda com um candidato menor da esquerda, Marcelo vence facilmente. A Sampaio da Nóvoa dá uma abada. O que significa que o país se arrisca a colocar em Belém o maior malabarista político que temos. Todos os outros, incluindo Paulo Portas, são aprendizes. E aprenderam com o Professor. Depois não se queixem.

 

Artista Plástico

 

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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