Opinião
Homenagem a António Ferro
Por estes dias celebra-se o aniversário do trigésimo dia da entronização de António Costa como secretário-geral do Partido Socialista.
Que em Portugal os órgãos de comunicação social dediquem a este facto tempo mediático só pode ser entendido como modesta homenagem aos ensinamentos da doutrina juche e à tentativa de por cá encontrar um paralelismo com o acompanhamento dos passos do descendente escolhido do querido líder. Os meios de comunicação social portugueses são cautos e atentos. Já o mesmo não se pode dizer da Sony International…
Deleitado com tanta atenção, António Costa esforçou-se neste mês de Dezembro por contribuir para a formação de um corpo doutrinário do novo Partido Socialista, calando os aleivosos que o acusam de não ter nem ideias nem programa político e de pretender usar nos próximos dez meses a táctica guterrista do "fazer de morto".
E logo no dia primeiro de Dezembro, António Costa distribuiu pelos incautos ideias, programa, medidas, doutrina, política até. O edil de Lisboa anunciou em cerimónia pública o fim do fim do feriado do primeiro de Dezembro e o consequente ressuscitar de Portugal e reerguer dos portugueses. Tutelando qualquer tentativa de violação dos direitos de propriedade intelectual residentes no Largo do Caldas, o CDS-PP fez-se representar por Ribeiro e Castro que ditou para a acta aquilo que pareceu ser uma longa nota de suicídio político da coligação que governa o país. António Costa deve ter recebido um cartão de agradecimento da Sociedade da Independência de Portugal. As confederações sindicais, sempre mal agradecidas, não consta que tenham ido à praça do município agradecer a graça anunciada para Dezembro de 2015. Gente ingrata…
Passado este momento de troca de discursos entre PS e CDS-PP, eis senão quando, alguns dias depois, o secretário-geral do Partido Socialista no jantar de final de ano do Grupo Parlamentar do Partido redobra o esforço de doutrinação e anuncia todo um programa político para 2015: celebrar o sexto centenário da conquista de Ceuta e o início da epopeia dos Descobrimentos. Tirando a pequena nuance de confundir conquista e descoberta (que fará as delícias de alguns socialistas com preconceitos ideológicos esquerdizantes), ficámos com a impressão de ter sido contratado como novo "speech writer" do Largo do Rato um "clone" de António Ferro, menos inspirado e menos lido do que o original.
À medida que o mês de Dezembro se aproxima do fim cresce a expectativa quanto ao conteúdo do terceiro segredo de Costa. Que irá ser anunciado na mensagem de Natal do líder socialista? Que Olivença é nossa?
Os que concebem a política como a arte do possível não se devem espantar com os esforços que alguns políticos dedicam a tornar impossível o possível. Num momento em que a realidade se substituiu ao discurso político e em que alguns actores judiciários, por interpostos jornalistas, roubaram protagonismo e iniciativa à classe política, não deixa de ser estranho que alguns se entretenham a ensaiar discursos que não são os seus. Não são os seus ideologicamente e não são os seus enquanto políticos, porque são discursos que se baseiam na negação da política, são discursos da não política, da recusa da discussão, da recusa de opções, da recusa da política. Sociologicamente é o discurso dos que integram o grupo do "não sabe/não responde".
Se este não discurso de António Costa é a resposta, qual era a pergunta?
Advogado