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Um ano mesmo novo

Quando Walt Whitman constatou que o futuro não é mais incerto do que o presente, estava provavelmente a pensar no ano que temos pela frente. Talvez seja um ano mesmo novo depois do pandemónio de 2015.

A geringonça rodopiou tanto nestas primeiras semanas que não é muito difícil ou inteligente perceber o método do PM. É só gerir a confusão, nem interessa quem ajuda desde que o santo fique no altar. Uns dias vota a esquerda toda, nos outros vota metade e quando não há remédio até o PSD ajuda. O plano é evidente: esticar a legislatura até que as sondagens arrebitem.

 

Não se percebe afinal o desafio de Passos Coelho, a sugestão de que sem apoio da esquerda, o PS devia apresentar demissão. Se sabia do Banif e do que não podia fugir no orçamento rectificativo, melhor teria sido ficar calado.

 

O dr. Costa pode não convencer quando vai a votos, mas é o Fittipaldi das geringonças e este carrossel em que nos meteu pode reconfigurar a política portuguesa mesmo descontando o impossível: a conversão do PCP à democracia burguesa.

 

Imaginemos que no PS esta nova geração acaba por se impor no partido. Não é impossível. A necessidade do dr. Costa potenciou um discurso mais afastado do centro e até, veladamente, das opções europeias. Quem, como o governante do Parlamento, há pouco mais de um ano ameaçava não pagar a dívida, não muda assim de opinião. Disfarça. A conjuntura entregou o poder interno à esquerda do PS. Não é impossível que assim permaneça. O PS moderado está, aliás, quase reformado.

 

Imaginemos em simultâneo que o Bloco se decide pelo caminho do socialismo democrático. Novamente, não é impossível. Até hoje parece imperar, na ausência de ideologia, uma certa matriz de racionalismo rousseauniano, que desemboca num comunitarismo mal explicado. Como nada disse de mais profundo e comprometedor e a vontadinha é tanta, talvez não seja preciso mais do que imitar o Syriza…

 

Se assim for, está feito o conjunto da esquerda para os próximos anos: PS e BE, facilitada pelo óbvio entendimento entre os jovens dirigentes de ambos os partidos. 

 

Já a direita, para simplificar, sai destes anos numa situação muito peculiar apesar de ter ficado à frente nas eleições.

 

É certo, como se diz, que não sabemos o que vale hoje o CDS. Mas se o dr. Costa demorar a encostar a geringonça ainda pode vir a valer mais do que suspeitamos. À custa do PSD, claro, que estes anos de fusão deixaram a desconfortável impressão de um PSD demasiado à direita, moralista e castigador e de um CDS, pasme-se, mais preocupado com as pessoas. São impressões, claro. Mas a política vive muito mais de emoções do que devia… 

 

O ciclo do CDS seja qual for, pode criar uma ideia de novidade, sempre apelativa particularmente depois da dureza dos últimos anos. A futura líder é simpática e a sua falta de densidade não é necessariamente um "handicap". Pode até fazer sobressair um CDS apelativo, social cristão, uma equipa de jovens quadros.

 

Tudo isto coloca grandes desafios ao PSD que, nas últimas semanas, parece literalmente atoleimado pelo desfecho das eleições e pelos estilhaços daquilo que o assunto Banif fez ao património das virtudes acumuladas, apesar do brilho com que Leitão Amaro acabou a defender o possível.

 

Neste quadro de grande mudança Pedro Passos Coelho não está, como Paulo Portas, em fim de ciclo. Mas precisa de um novo começo. De novas propostas e de novos protagonistas. De juntar quem não lhe diga só que sim. Se, no próximo Congresso do PSD, for capaz dessa metamorfose ainda vai a tempo de construir a alternativa liberal moderna que tinha prometido há quatro anos. Caso contrário, estará só a adiar o que centro direita verdadeiramente precisa.

 

Advogado

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