Opinião
No amor como na guerra
Londres diz que o pretexto não faz sentido, que Madrid está a complicar deliberadamente a vida dos habitantes britânicos do rochedo (os quais, por esmagadora maioria, já várias vezes se manifestaram contra a ambição madrilena de fazer deles espanhóis).
Talvez as relações internacionais obedeçam a regras parecidas com as do comportamento marialva. Há muitos anos, amigo do coração, mais velho do que eu, machista sem remorsos (feministas já as havia nesse tempo mas correcção política não) disse-me, convicto: "Eu, se não tenho uma coisinha por fora, dou mau viver em casa".
Lembrei-me dele a propósito da animação à roda de Gibraltar, criada pelas autoridades de Madrid que revistam longamente todos os carros, camionetas, motos, bicicletas que deixem o rochedo antes de os autorizarem a passar a fronteira espanhola, criando bichas que levam 5 horas a escoar no calor inclemente de Agosto. Parece que em 2012 o contrabando de cigarros para Espanha pela fronteira de Gibraltar foi muito maior do que em 2011, e os espanhóis não querem que isso torne a acontecer. Adiantam que talvez passem a cobrar taxa de entrada de 50 euros e interditem o espaço aéreo. Londres diz que o pretexto não faz sentido, que Madrid está a complicar deliberadamente a vida dos habitantes britânicos do rochedo (os quais, por esmagadora maioria, já várias vezes se manifestaram contra a ambição madrilena de fazer deles espanhóis). Entretanto, disputa de águas opõe pescadores andaluzes à marinha britânica. David Cameron telefonou a José Manuel Barroso a pedir providências europeias urgentes e ameaça levar a Espanha a tribunal. Esta, por seu lado, sugere levantar a questão da soberania de Gibraltar (britânica desde o Tratado de Utrecht de 1713) nas Nações Unidas, talvez de súcia com a Argentina que voltaria à questão das Ilhas Falkland.
Franco também se serviu de Gibraltar. Conta-se que, num dia de grande manifestação diante da embaixada britânica em Madrid, o Alcalde telefonou ao embaixador perguntando se queria que ele mandasse mais polícia. Não, veio a resposta. Bastava que não mandasse mais manifestantes.
Haja juízo.
Embaixador