Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
José Maria Brandão de Brito - Economista 26 de Maio de 2015 às 19:43

Guia para a governação: a alternativa do PS

A principal e imediata vantagem do projecto do PS é provar que, sem pôr em causa o sistema, há uma via e uma mão-cheia de propostas e de medidas alternativas. Com isso o PS pôs, decididamente, a discussão do seu programa na agenda política.

Mal tinha acabado de ser divulgado o projecto de programa do Partido Socialista já se ouviam vozes contra. Não no quadro de uma discussão de avaliação das propostas gerais e das medidas nele inscritas, que ainda não tinha havido tempo para ler, mas precipitadamente através de expressões genéricas e gratuitas, típicas da pequena política em que alguns persistem: "Falta de rigor, perigoso do ponto de vista da estabilidade, não se pode deitar a perder tudo o que se conseguiu nestes últimos anos..." Não vou aqui fazer novamente o balanço do que foram esses últimos anos, em síntese direi que se verificaram melhorias na frente financeira no acesso aos mercados, no equilíbrio das contas públicas e num intermitente e precário equilíbrio da balança comercial; de fora ficou todavia o endividamento dos sectores público e privado; o crescimento da economia, incluindo o combate ao desemprego, o empobrecimento dos sectores mais vulneráveis da população e uma degradação generalizada da qualidade de vida dos portugueses (não estou a inventar nada, mais palavra menos palavra é o que consta do último relatório do FMI).

 

A principal e imediata vantagem do projecto do PS é provar que, sem pôr em causa o sistema, há uma via e uma mão-cheia de propostas e de medidas alternativas. Com isso o PS pôs, decididamente, a discussão do seu programa na agenda política. Pena que em vez de ser debatido seriamente a táctica da coligação seja a de o tentar descredibilizar, evocando o passado (quem tem telhados de vidro...), pretendendo ignorá-lo como se não existisse. Enfim, a caravana passa e os tempos são outros.

 

Ainda sujeito a alterações e a pequenas correcções, este documento do PS tem uma estratégia e aponta com meridiana clareza para as seguintes grandes linhas de governação: virar a economia para o crescimento; combater activamente o desemprego; aumentar o rendimento das famílias; apoiar a competitividade do tecido empresarial; sanear o sistema educativo a todos os níveis e privilegiar a inovação em toda a sociedade; retomar a política social consolidando e modernizando o estado social; prosseguir a sustentabilidade das contas nacionais; apostar na Europa e no euro; estabilizar o sistema fiscal e reforçar a sustentabilidade da Segurança Social; cuidar das questões demográficas; agilizar o Estado tornando-o forte, inteligente e moderno e redignificando aqueles que lá trabalham.

 

Estas são, resumidamente, algumas das grandes linhas do programa eleitoral do PS. Que como se vê, não vão destruir o que outros fizeram. A perspectiva com que se encara a próxima década é construtiva; a diferença é que escolhe, conscientemente e com o rigor possível, outros caminhos, sem pôr em causa os imprescindíveis equilíbrios na perspectiva do interesse nacional.

 

Da outra parte só se conhece alguma coisa da estratégia orçamental e a forma reiterada como afirmam a necessidade de prosseguir a linha do empobrecimento contínuo. No seu discurso e nas suas propostas não existe futuro além da austeridade. É pouco e não só revela falta de imaginação como demonstra que as políticas até agora seguidas são tão frágeis que a simples formulação de uma alternativa as pode fazer tremer. O argumento é conhecido e é o caminho para usar aquilo que parece ser a estratégia em campanha da eleitoral da coligação: assustar as pessoas, esgrimir com o medo, torná-las reféns das suas próprias debilidades. Os batoteiros nem sempre ficam impunes.

 

Economista. Professor do ISEG/Universidade de Lisboa

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio