Opinião
Escola passiva, sociedade passiva
Portugal tem de abandonar a passividade paralisante que nos impede o desenvolvimento. Esse abandono passa por, entre outras medidas, alterar profundamente os métodos de ensino. Porque uma escola passiva gera uma sociedade passiva.
A passividade é a ausência de ação, a perda de vontade de agir sobre o que nos rodeia, é a aceitação do que existe. A passividade é uma forma de conservadorismo, de dificuldade de romper com o presente e criar o futuro.
Em Portugal a passividade bebe-se nas famílias, no medo de perder o emprego e o sustento, na necessidade de repetir o que os poderosos dizem, na ausência de voz pública, na impossibilidade de representação política dos que não têm instrução superior, i.e. mais de 80% da população, mas acima de tudo aprende-se na escola, no seu ensino e nos seus métodos.
Os alunos sentam-se, estritamente alinhados em filas de carteiras e ouvem em silêncio o professor, não participam na construção do saber, não devem questionar a não ser que tenham dúvidas, i.e. que não percebam bem o que o professor disse. A comunicação é unidirecional, do mestre para o conjunto dos alunos.
Aprende-se a chegar ao resultado, não através do questionamento crítico do mundo, não através da tentativa e erro, mas seguindo instruções.
Interessante como muitos dos mais ativos portugueses, pequenos empresários, dirigentes associativos, desportistas, artistas, escritores, são pessoas pouco escolarizadas e, muito mais autodidatas, que aprenderam por si próprios, com as suas experiências e vivências.
A passividade aprendida na escola transporta-se depois para o trabalho e demais instituições sociais. Nunca o exame da realidade e a tentativa de resposta original aos desafios, mas antes o passivo seguir de instruções alheias.
Com esta mentalidade, naturalmente que as instruções têm de vir de fora. Ditadas por Bruxelas, pelos nossos aliados transatlânticos, pela sede da multinacional, encontradas nos métodos de gestão anglo-saxónicos tão desajustados à nossa cultura e maneira de ser, nas boas práticas estrangeiras, copiadas de livros de autores internacionais, de exemplos e modelos antigos de outros países, mas nunca pensadas em Portugal sobre a nossa realidade. Por isso nunca nada funciona.
Uma passividade que desaconselha a iniciativa, que proíbe a diligência, que afasta a criatividade, que impede a tomada de decisão arriscada e ousada, que evita a reflexão e o estudo. Uma passividade que se concentra nas receitas testadas, no esforço repetitivo, no incessante bater com a cabeça na parede pelo uso de fórmulas erradas.
No combate à pandemia esta passividade tem sido mortal. Ainda recentemente o Governo se recusou tomar uma decisão urgente sobre uma marca de vacinas, que se demonstrou mais perigosa que o covid para certos grupos etários e ineficaz noutros, com a justificação de ter de seguir as instruções da EMA ou da União Europeia!
Como se fosse, o Governo, incapaz de pensar pela sua cabeça, mas unicamente certificado para cumprir instruções vindas de além-fronteiras. Isto mesmo depois de muitos outros países europeus, menos passivos, terem restringindo de tal a forma a utilização dessa vacina que ela não será administrada a mais ninguém.
Portugal tem de abandonar a passividade paralisante que nos impede o desenvolvimento. Esse abandono passa por, entre outras medidas, alterar profundamente os métodos de ensino. Porque uma escola passiva gera uma sociedade passiva.