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16 de Março de 2021 às 16:14

100 anos: parabéns!

Cem anos é um feito de longevidade impar no panorama político português em que todos os outros partidos fundados durante a I República não foram capazes de resistir aos anos de chumbo do Estado Novo.

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Com algum atraso venho juntar-me publicamente ao coro de personalidades de vários quadrantes da vida pública portuguesa e à miríade de organizações que saudaram o centésimo aniversário do PCP.

 

Que lições podemos tirar deste centenário? Muitas, sem dúvida. Focaremos numa: a longevidade.

 

Cem anos é um feito de longevidade impar no panorama político português em que todos os outros partidos fundados durante a I República não foram capazes de resistir aos anos de chumbo do Estado Novo. Assim os partidos que hoje temos nasceram ou nos últimos anos do marcelismo ou, a grande maioria, depois do 25 de Abril. Alguns como o PAN e a Iniciativa Liberal surgem já no século XXI.

 

A longevidade, nas organizações, é normalmente fruto de duas características: o pensamento estratégico e a flexibilidade organizacional.

 

O exemplo de longevidade a que se recorre muitas vezes é o da Igreja Católica que existe há dois milénios e que tem uma organização muito flexível com apenas três níveis hierárquicos (Papa, bispo e padre) e uma boa visão estratégica. O PCP também tem sabido manter uma grande coerência estratégica e a sua organização também é pouco hierarquizada e muito flexível.

 

Capaz de identificar as tendências políticas de longo prazo, o PCP consegue, ao contrário de outros partidos, definir uma estratégia estável sem estar ao sabor das conjunturas e das correlações de forças momentâneas. Saber para onde se pretende ir e como lá chegar é uma das formas mais poderosas de mobilizar o talento e o engenho humano. É a virtude dos grandes líderes visionários.

 

Num país em que as modas, o ganho de curto prazo, a vantagem momentânea, ganha primazia sobre o longo prazo – e assim abdicamos de muitas indústrias e de muitas empresas nacionais em troca de ilusórios benefícios de curto prazo – o exemplo do PCP mostra que também somos capazes de outra forma de encarar os problemas do país.

 

A longevidade do PCP também resulta da persistência, do não desistir perante as dificuldades, e nestes 100 anos houve certamente muitas, e da capacidade de sacrifício do bem-estar individual, e mesmo da vida, em favor do país e dos mais desfavorecidos. Persistência e sacrifício, duas virtudes que, infelizmente, têm andado arredadas da vida pública portuguesa.

 

O caso da longevidade do PCP devia ser atentamente estudado por forma a dele retirar lições úteis para muitas outras instituições portuguesas. Essas lições poderiam ajudar muitas organizações (empresas, fundações, outras instituições públicas e privadas) a fortalecer-se e a dotar-se dos instrumentos que lhes permitam sobreviver num mundo em constante mutação.

 

Parabéns, pois, ao PCP pelos 100 anos vivos, jovens e atuantes. Que conte muitos mais.

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