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05 de Dezembro de 2017 às 19:18

O desespero da guerra de Pearl Harbour a Pyongyang

Tal como os imperialistas japoneses, o líder norte-coreano tem de se apressar na tentativa de criar uma situação de facto que force os adversários a aceitar negociações em termos favoráveis a Pyongyang.

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"O governo concluiu que um amargo destino espera a nação se não enveredar pela guerra ainda que o conflito possa levar à sua destruição. E, contudo, uma nação que neste impasse fuja a lutar terá, desde logo, perdido o seu espírito, condenando-se à desgraça", sentenciou o chefe de Estado-maior da Armada japonesa, Nagano Osami, após a aprovação final do ataque a Pearl Harbour.

 

O Japão, a braços com uma arrastada guerra na China desde 1931, teria pouco mais de um ano para se impor no Pacífico e Sudeste Asiático de modo a pressionar em condições favoráveis norte-americanos, britânicos, franceses e holandeses a abrirem conversações de paz se não falhasse a ofensiva no Havai, considerava, por sua vez, o comandante-chefe das operações navais, almirante Isoroku Yamamoto.

 

O bombardeamento de 7 de Dezembro de 1941 era, necessariamente, um acto de ousadia desesperada em resultado do embargo petrolífero imposto pelos Estados Unidos depois de o Japão ter ocupado em Julho a Indochina Francesa na sequência da capitulação da Terceira República ante Hitler.   

 

Sem os fornecimentos norte-americanos - mais de 80% das importações japonesas de petróleo -, o controlo das jazidas da Sumatra e Bornéu era essencial para Tóquio, mas um ataque a possessões coloniais britânicas e holandeses colocaria o Japão em rota de colisão com os Estados Unidos presentes nas Filipinas, Guam e Havai.

 

O ataque aéreo britânico à base de Taranto, a 11-12 de Novembro de 1940, ao destruir e danificar a maior parte das unidades da marinha militar italiana, alterando a relação de forças no Mediterrâneo, inspirara os comandos da Marinha e Exército de Tóquio a tentar o raide contra a frota norte-americana do Pacífico que se saldou, contudo, por um fracasso estratégico. 

 

Uma semelhança assustadora, décadas passadas, une, agora, o impasse de Kim Jong-un e a decisão fatal do Conselho Imperial nipónico que culminou na vaga expansionista iniciada pelo ataque a Taiwan, em 1874, subsequentes investidas contra a Coreia, China continental e a guerra triunfal contra a Rússia em 1904-1905.

 

Tal como os imperialistas japoneses, o líder norte-coreano tem de se apressar na tentativa de criar uma situação de facto que force os adversários a aceitar negociações em termos favoráveis a Pyongyang.

 

Consumar capacidade de projecção de uma arma nuclear contra o território continental dos Estados Unidos é, na estratégia norte-coreana, a única forma de levar Washington - seguindo, por arrasto, a Coreia do Sul e o Japão, e obtendo-se a anuência de Pequim e Moscovo - a conceder garantias de segurança que salvaguardem o regime de Pyongyang de eventual ataque militar.

 

Tal como o Japão em 1941 a Coreia do Norte tem presente que só poderá sobreviver cerca de um ano a um corte parcial ou total, progressivo ou abrupto, nos fornecimentos chineses de crude (cerca de 500 mil toneladas/ano) e refinados de petróleo (aproximadamente 200 mil toneladas/ano).

 

Pequim hesita em impor um boicote petrolífero fatal e a administração Trump, em consequência, tem evitado impor sanções a bancos e empresas chinesas que mantêm relações comerciais e financeiras com a Coreia do Norte, apesar da ordem executiva assinada pelo presidente em Setembro banir transacções com empresas envolvidas com Pyongyang.

 

Sem que o tempo corra a seu favor e isolada, a Coreia do Norte irá aproveitar estas indefinições, ignorar advertências e ameaças de embargo chinês, de intercepção ou ataque preventivo norte-americano e sul-coreano a locais de lançamento de mísseis.

Kim mostra-se disposto a arriscar explosões e quedas prematuras de engenhos balísticos, a proceder a mais testes nucleares, mas, no entanto, não tem forma de poder estabelecer qual o ponto-limite em que os adversários venham a ceder e abrir negociações reconhecendo à partida a perenidade do regime norte-coreano. 

 

O cadastro de actos terroristas de Kim Jong-un, na esteira do pai Kim Jong-il e do avô Kim Il-sung, leva a crer que a qualquer momento poderá arriscar um golpe de força apostando na relutância dos adversários em encetarem retaliações militares que levem a uma escalada nuclear.

 

O fatalismo do almirante Nagano ecoa em Pyongyang e, considerando a irremediável irresponsabilidade de Donald Trump, a mortandade será imensa.  

 

Jornalista

 

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