Opinião
Hillary faz-se à estrada
Hillary Clinton talvez consiga chegar à presidência antes de celebrar 70 anos, praticamente com a mesma idade de Ronald Reagan, mas, ao contrário do antecessor republicano terá pela frente um Congresso hostil e limitada margem de manobra.
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Reagan contou com uma vaga de fundo conservadora, os republicanos controlavam o Senado e a maioria democrata na Câmara de Representantes mostrava-se disponível para negociar com a Casa Branca.
Em 1980 faziam caminho políticas de incremento ao crescimento via diminuição de carga fiscal, sobretudo sobre rendimentos de capital, desregulamentação, controlo anti-inflacionista da massa monetária e redução da intervenção estatal.
A determinação anticomunista acompanhava um anseio de recuperação do prestígio internacional comprometido pelos desaires do Vietname e do Irão que culminaria no segundo mandato de Reagan marcado pela desagregação do bloco soviético.
Quem tem avó, tem tudo
Com Hillary as expectativas são escassas e se Novembro de 2016 trouxer uma vitória democrata no Senado, a maioria será na melhor das hipóteses exígua, mantendo-se a vincada polarização partidária que marcou as presidências de George W. Bush e Barack Obama.
As incertezas da política de Obama face ao Irão e Cuba irão jogar papel eleitoral importante, mas a defesa das reformas financeiras de 2010, dos programas assistenciais "Medicare" e "Medicaid", o "Obamacare", ou a recusa em baixar impostos para rendimentos acima de 250 mil usd, serão, inevitavelmente, um dos imperativos da candidatura presidencial democrata.
Sem adversário de peso à nomeação, Hillary avança para 19 meses de campanha ensaiando a atitude de mulher compassiva, atenta às dificuldades do quotidiano dos compatriotas alheios ao círculo de elites que é o seu desde a eleição do marido como governador do Arkansas em 1978.
Descartar a imagem e o comprovado comportamento de mulher altaneira, fria e manipulativa, é a tarefa a que se propõe a campanha de Hillary, apostando desde logo na tentativa de sedução do eleitorado feminino, tanto mais por precisar de ganhar a faixa de mulheres de mais baixos rendimentos e qualificações que escapou a Obama.
Avó deveras interessada e motivada pelas agruras e alegrias da gente miúda é o papel que terá de desempenhar a candidata.
A selvajaria mediática
A insensatez da maior parte dos candidatos à nomeação republicana sobressai em matérias como a integração de imigrantes ilegais (10 a 11 milhões de clandestinos, sendo quase 80% hispano-americanos), em questões ambientais e na indiferença ante o crescimento da desigualdade social e as condições de sustentabilidade da capacidade produtiva e níveis de produtividade.
As carências educativas num país com as melhores universidades do mundo ou a degradação de infra-estruturas são temas igualmente descurados, a troco de invectivas eivadas de fundamentalismos religiosos, reflectindo esta retórica a proliferação do radicalismo de direita num clima de penúria do debate.
Para esta eleição pouco há a esperar em matéria de elevação política.
Tudo o que há de controverso na experiência política de Hillary (da fracassada reforma de saúde apresentada como primeira-dama em 1993 ao fiasco do relançamento das relações com a Rússia como secretária de Estado entre 2009 e 2013) será pisado e repisado, escândalos familiares e financeiros serão de novo notícia.
A campanha é, por definição, tempo de selvajaria mediática.
Uma eleição frouxa
Se sobreviver à orgia de demagogia das primárias, Jeff Bush talvez consiga representar uma alternativa republicana minimamente razoável a Hillary, mas terá tanta dificuldade como a democrata para se apresentar como arauto de uma nova era e captar os indecisos, particularmente os frustados pelas promessas falhadas de Obama.
Caso venha a confirmar-se o cunho dinástico da compita talvez parte do eleitorado comece a pesar os custos das disfunções de um sistema político de competição electiva permanente que requer mobilização da militância partidária radical e crescentes recursos financeiros.
A incapacidade de consensos e as querelas entre poderes legislativo e executivo, alargadas às relações entre estados e governo federal, são, actualmente, factor impeditivo de reformas estruturais (independentemente da coloração política do intervencionismo do Supremo Tribunal) e é dúbio que este estado de coisas se altere a curto prazo.
Mesmo que vingue a possibilidade de eleição de uma candidata, 2016 dificilmente abrirá uma fase de reforma e mudança na política norte-americana.
Jornalista