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João Carlos Barradas - Jornalista 24 de Maio de 2016 às 20:20

Ficar na UE a contragosto

A campanha pela saída da UE começa a claudicar ante as incessantes advertências contra os riscos para a economia do Reino Unido.

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A intenção de voto pela permanência na UE atinge os 55% contra 42%, com 3% de indecisos, entre eleitores determinados a participar no referendo, segundo sondagem da ORB para "The Daily Telegraph". 

 

Entre o eleitorado conservador o apoio ao "Sair", que em Março se cifrava em 60%, caiu para 40% e, pela primeira vez, uma maioria de homens com mais de 65 anos vota "Ficar" (52% contra 34% no final do primeiro trimestre).

 

Capacidade para "melhorar o sistema de imigração" é o único ponto a favor do "Sair" no entender de 50% dos inquiridos contra 29% que atribuem tal vantagem ao "Ficar", de acordo com o estudo divulgado terça-feira.

 

Na primeira das sondagens da ORB para o diário conservador, a 15 de Março, apenas 45% dos inquiridos optavam pelo "Ficar", enquanto a média dos inquéritos de opinião apresenta desde Setembro uma maioria de 51% a 55% de votantes pela permanência.

 

Com pelo menos 15% de indecisos tudo continua em aberto, estando bem presente o fracasso das sondagens em Maio de 2015 ao subestimarem a vantagem dos conservadores de David Cameron.     

 

A declaração do governador do Banco de Inglaterra, Mark Carney, sobre  possibilidade de "recessão técnica" em caso de Brexit ou os cenários catastróficos do chanceler do Tesouro com quebra a curto prazo de 3,6% do PIB, depreciação de 12% da libra e aumento de 2,3% da inflação foram contraditados sumariamente pelos líderes do "Sair".

 

A variante mais apocalíptica apresentada por George Osborne  - contracção de 6% do PIB, desvalorização de 15% e alta de 2,7% na inflação -  classificada como "propaganda" por Nigel Lawson, chanceler do Tesouro de Thatcher e apoiante do "Sair", revela, aliás, a imprevidência e incoerência da liderança conservadora ao comprometer-se com a convocação de um referendo antes das eleições de 2015.

 

A chefe do governo escocês, Nicola Sturgeon, apoiante do "Ficar", considerou, por sua vez, "contraproducente" e um "insulto à inteligência" o alarmismo e "campanha de medo" de Osborne.

 

Desde o antigo presidente da câmara de Londres, desde em Fevereiro militante pelo abandono da UE, ao ministro do Trabalho, Iain Duncan Smith, todos os líderes do movimento "Sair" subestimam publicamente riscos económicos e financeiros, invocando vantagens de um tratado comercial a negociar com Bruxelas.

 

Advertências, conjecturas, previsões, reticências e propaganda sobre os riscos de Brexit acabaram por revelar, sobretudo, a falta de argumentos ponderados da parte dos opositores à UE. 

 

Inconsistências e omissões quanto a prazos e condições para renegociar relações com a UE prejudicam o argumento de que ao libertar-se das obrigações de livre circulação de pessoas Londres recupera o controlo sobre política de imigração e a plenitude da soberania partilhada ou parcialmente delegada desde a adesão em 1973.      

 

Esperando que adiem em Bruxelas para lá de 23 Junho decisões fatais sobre perdão de dívida à Grécia ou mais cedências à Turquia, Cameron aguarda que a maioria do eleitorado conservador acabe por se conformar a contragosto com a UE.

 

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