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19 de Agosto de 2015 às 00:01

A mossa de Donald Trump

É tempo de fúria e asco entre os eleitores republicanos que reforçam o apoio a Donald Trump embalados para retórica proteccionista, chauvinista, anti-imigrantes e ameaçadora dos interesses instalados do partido e do sistema político.

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O empresário congrega 24% das preferências de eleitores republicanos registados, contra 13% do antigo governador da Flórida, Jeb Bush, e 9% do médico reformado, Ben Carson, segundo uma sondagem para a CNN divulgada terça-feira.

 

Trump supera os demais 16 candidatos à nomeação, mas, sintomaticamente, 58% dos inquiridos admite que outro republicano terá melhores possibilidades de ser eleito para a Casa Branca na votação de Novembro de 2016.

 

Em roda livre

 

Antes da entrada em jogo dos "Comités de Acção Política", financiando candidatos  do "establishment" como Jeb Bush, ou os senadores do Texas e Flórida, Ted Cruz e Marco Rubio, Trump está em roda livre e ameaça enviesar fatalmente a campanha republicana.

 

Boçal e demagogo, Trump tem vindo a apelar sobretudo aos temores do eleitorado masculino branco de baixos rendimentos, menores qualificações profissionais e escolares, forçando a nota do radicalismo republicano numa nota populista digna dos candidatos do "Tea Party".

 

A radicalização nas primárias republicanas e democráticas acentuou-se nas últimas décadas, tornando mais difícil aos candidatos à presidência e vice-presidência, aclamados na convenções partidárias, recalibrarem os grandes temas de campanha para captarem faixas do eleitorado independente e indeciso.  

 

Até às primárias do Iowa e de New Hampshire no início de Fevereiro os poderes instituídos terão de anunciar apoios e avançar com financiamento de campanhas de candidatos republicanos tidos por viáveis.

 

A mossa provocada por Trump, contudo, marca desde já a campanha com um tom chauvinista e ultraconservador, alargando nomeadamente a contestação ao direito ao aborto.

                                               

O desprezo pelos latinos

 

O voto latino, a manter-se o tom desdenhoso ameaçando a expulsão de 11 milhões de indocumentados que Trump traz à campanha, tenderá a minguar e prejudicará fortemente a dupla presidencial que os republicanos acabarem por apresentar.

 

Os hispânicos representam 13% da população, mas a participação eleitoral é diminuta entre os 51 milhões de pessoas de ascendência latino-americana e caribenha.

 

Cerca de metade registaram-se até agora para votar e a abstenção é maior do que entres os eleitores brancos, asiáticos e negros.

 

O voto hispânico, que tendeu a favorecer os democratas, dificilmente será republicano em estados em disputa na votação do próximo ano como a Flórida, Colorado ou Nevada, a manter-se a verve chauvinista. 

  

Mau e péssimo

 

Na frente republicana é de admitir que o pior ainda esteja para vir, no caso de Trump  acabar por se apresentar como independente.

 

Ao contrário dos apelos a uma democracia directa anti-sistema de Ross Perot em 1992, que, com 19% da votação nacional, sem vencer em qualquer estado não desequilibrou a balança a favor de Bill Clinton ou George Herbert Bush, uma candidatura independente de Trump entrará em força nas hostes conservadoras.

  

Se a campanha de Trump não implodir rapidamente devido aos excessos do candidato nada de bom espera os republicanos.

 

Um escandalozinho apenas

 

Sem entusiasmar no seu avatar mais recente de mulher despretensiosa Hillary Clinton aparenta ter apenas a temer alguma candidatura relevante que possa surgir até ao final do ano.

 

Tirando a eventualidade do vice-presidente Joe Biden decidir candidatar-se, a ex-senadora e secretária de Estado será, sem disputa de maior, a mulher dos democratas em 2016.

 

Em abertura de campanha, Hillary, para não falhar a tradição familiar de escândalos e comportamentos dúbios, debate-se com a polémica sobre a gestão abusiva de correio electrónico oficial em "server" pessoal.

 

Muita da sorte de Hillary irá depender, no entanto, do modo como Barack Obama gerir algumas questões em aberto como o fecho da prisão de Guantanamo e da evolução das relações com o Irão e Cuba.

 

Propostas avulsas de Hillary, caso do financiamento de propinas do ensino superior, deixam muito a desejar e sublinham a extrema dificuldade da candidata em se apresentar como voto de mudança e senhora de visão inovadora.

 

USA 2016 arranca sem entusiasmar e com um demagogo do piorio na ribalta.

 

Jornalista

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