A integração europeia tem aumentado significativamente a importância das eleições nuns países para a evolução económica e política dos outros.

Desde a democratização portuguesa e espanhola, a sua entrada simultânea na hoje União Europeia e posterior adesão à Zona Euro que as principais decisões dos nossos dois países são demasiado semelhantes para serem ignoradas. De igual modo a estrutura do sistema político é semelhante com dois partidos moderados, um à esquerda e outro conservador, a alternarem na liderança do Governo.

A economia espanhola é aquela que exibe uma maior correlação estatística com a portuguesa reforçando a ideia de que o comércio entre estes países, mas também a sujeição a choques comuns, explica em larga medida a interdependência entre os nossos dois países.

Mas a influência é mais lata e abrange também os universos culturais e políticos. As soluções políticas portuguesas influenciam as espanholas e vice-versa. Claro que Espanha tem problemas próprios que complexificam a sua situação como seja o tema das autonomias, em particular na Catalunha e no País Basco, e uma certa tensão sobre a natureza monárquica do regime que em Portugal não constituem fatores de divisão relevantes no espaço político.

As próximas eleições espanholas de 26 de junho têm assim uma importância para Portugal que transcende as tradicionais divisões por afinidades das famílias políticas.

Relembre-se que o resultado eleitoral do passado dezembro para as Cortes espanholas foi qualitativamente semelhante ao português. E no Parlamento espanhol não foi possível produzir um Governo estável, mas o debate interno espanhol desdobrou-se entre os apoiantes de uma solução à portuguesa (PSOE liderando os demais partidos de esquerda), ou à alemã (coligação entre o PP e o PSOE).

A política económica que for adotada pelo futuro Governo espanhol influenciará a política económica portuguesa já que se constituirá numa segunda experiência cujos resultados serão observáveis por todos, quer internamente em cada país quer externamente pelas entidades oficiais e pelos participantes nos mercados financeiros.

O tema central será, claro está, a determinação com que o futuro Governo espanhol olhará para as finanças públicas. Muitos cenários poderão ser produzidos, mas o que pretendo valorizar é o impacto que as eleições espanholas terão na política económica portuguesa. A própria comissão europeia reforçou a ligação entre as estratégias económicas dos dois Governos.

 Em termos de crescimento económico o referendo ao "Brexit" (a 23 de junho, apenas 3 dias antes) é um risco maior. Mas nesse caso a vitória da manutenção, como desejo que aconteça, será apenas notícia nesse dia. Já a eventual vitória da saída ("Brexit") dominará a economia mundial durante um período muito prolongado.

Mas em termos das políticas públicas será a configuração do futuro Governo espanhol e a política económica que dele resultar, que se constituirá num novo fator para as autoridades portuguesas.

E uma vez mais na História seremos influenciados por "nuestros hermanos". E eles por nós.

Professor Universidade Católica Portuguesa

Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico