Opinião
“Never complain, never explain”
Para seu próprio bem, os profissionais da política têm de aprender a aceitar a crítica e o ridículo como ossos do ofício. E saber fingir que nem sequer deram por nada (e, verdade seja dita, nada fere mais um jornalista do que ser ignorado!).
De cada vez que oiço um político a desfazer-se em desculpas e justificações ou, pior ainda, em queixumes, só penso: “Por favor, não, não nos fale na camisa, nem diga que não foi informado, nem nos conte que ainda não teve tempo de ler o relatório, nem se queixe de que não tem dinheiro, meios ou autoridade. Não acuse terceiros, não se lamente de uma conspiração, não diga que foi a esposa que se esqueceu de entregar os impostos, lembram-se dessa?, nem se choramingue de que a função pesa, e que não damos valor ao seu trabalho.”
E admiro-me. Será que não têm alguém próximo, alguém com bom senso, que lhes sussurre ao ouvido a frase do antigo primeiro-ministro inglês, Benjamin Disraeli, que num ato de lucidez aconselhou um colega de profissão a “never complain, never explain”. Qualquer coisa como, nunca te queixes, nunca te justifiques, que é como quem diz, ninguém vai ter pena de um tipo poderoso que se lamenta como um vulgar cidadão, nem sentir a menor empatia pelos pretextos que alega para fundamentar o que fez ou deixou de fazer.
Se no século XIX, em que vivia o exímio diplomata Disraeli, este conselho já era precioso face a uma imprensa implacável e a debates parlamentares que deixariam André Ventura parecer um anjinho, então hoje que tudo fica guardado no mundo virtual, é positivamente incontornável.
É claro que ficar calado perante as acusações, os insultos, a má-criação alheia e sobretudo a mentira e a injustiça não é para meninos. Nem tão-pouco é fácil desejar não ter cometido um erro, caindo na tentação de o desvalorizar. Mas, a questão é que nada do que digam vai adiantar. É triste, mas é mesmo assim. Ainda se tudo ficasse na mesma após terem saído em sua própria defesa, era como o outro, mas o pior é que não fica. Agrava-se. Cada soundbite é uma nova oportunidade de se voltar ao assunto, de repetir a história, acrescentando-lhe mais uns requintes de malvadez. Ou de troça.
O esforço do silêncio, a capacidade de ignorar e passar adiante, não é sinónimo de não sentir a afronta. Ou a mágoa do disparate que se dava tudo para não ter acontecido. Esses são estados a que só os psicopatas podem ambicionar, porque os restantes seres humanos sentem, é claro que sentem, enfurecem-se, enraivecem-se, eventualmente não perdoam, e até se arrependem. Só que, para seu próprio bem, os profissionais da política têm de aprender a aceitar a crítica e o ridículo como ossos do ofício. E saber fingir que nem sequer deram por nada (e, verdade seja dita, nada fere mais um jornalista do que ser ignorado!). É a única hipótese, acreditava Disraeli, porque a outra é um labirinto que transformará o político que revelou a sua vulnerabilidade num apetecido alvo para quem não tenha escrúpulos, e fonte de comiseração para os restantes, qualquer uma delas pondo em risco a sua capacidade de liderança.
De facto, quando o governante que temos à frente se confessa agastado com o que disse o analista A ou escreveu o comentador B, revela a irritação que lhe provocou a inclusão na lista dos que “descem” num qualquer jornal, ou explica e volta a explicar porque é que aplicou a medida C, ficamos com a forte impressão de que governam e decidem mais em função dos likes do que das convicções. E deixam-nos desconfiados de que quem se deixa manipular pela crítica será igualmente frágil perante a lisonja.
Mas a verdade é que nem todos podem ser Winston Churchill’s, que acusado por uma senhora deputada de estar visivelmente bêbado, ripostou: “É absolutamente verdade, mas amanhã vou estar sóbrio, e a senhora ainda será visivelmente feia.”