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Melhores aos 66 do que aos 16

Estudo pioneiro, garante que aos 66 anos as pessoas são emocionalmente mais estáveis, mais simpáticas e extrovertidas do que aos 16. Quanto aos "velhos do Restelo", se calhar já eram assim na adolescência.

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Detesto pessoas cínicas e amargas. Fico com pele de galinha quando dizem que no tempo delas é que era, numa nostalgia de um mundo fantasiado, como uma espreitadela às estatísticas rapidamente confirmam. Mas a evidência não as demove. No tempo delas, insistem, as crianças eram felizes e brincavam na rua (fora as que andavam a trabalhar), no tempo delas as famílias eram unidas (no início do século XX, Portugal liderava a Europa no número de crianças ilegítimas), e todos viviam em paz (apagada da memória a guerra em África, para não falar nas duas Grandes Guerras).

 

A lista podia continuar infindável, mas não vale a pena, porque o que para o caso importa é que eu às vezes tinha medo de com a idade me tornar como elas. De que fosse um efeito secundário de envelhecer, consequência dos desgostos, desilusões e tristezas que vão roubando alguma da inocência, apesar de o exemplo de tanta gente extraordinária me indicar o contrário.

 

Uf, mas pelos vistos, não é nada disso. Pelo menos é o que diz um estudo pioneiro publicado há dias no Journal of Personality and Social Psychology, com o título magnífico de "Sixteen going on Sixty Six" (Dezasseis quase nos sessenta e seis"), que acompanhou a evolução da personalidade de 1.750 norte-americanos de 1960 a 2010. Segundo as conclusões, a maioria das pessoas aos 66 anos é mais simpática, mais cumpridora, mais extrovertida e emocionalmente mais equilibrada do que na adolescência. Segundo a investigadora principal, Radica Danian, da Universidade de Houston, a nossa personalidade tem uma componente estável ao longo da vida, mas que não deixa por isso de ser maleável. E a tendência geral, porque evidentemente existem exceções, é para amadurecermos, sinónimo de nos irmos tornando melhores.

 

Danian relembra, no entanto, que tudo depende do ponto de partida, ou seja, não vale a pena compararmo-nos com os outros, mas apenas connosco próprios. Por outras palavras, provavelmente os "velhos do Restelo" até já são um bocadinho menos "velhos do Restelo" do que em novas.

 

Dito isto há um traço da personalidade, a abertura a experiências novas, que implica curiosidade, vontade de saber e experimentar, preferindo a novidade à rotina, o mundo a cores a uma realidade a preto e branco, que segundo os especialistas é aquela que tende a estagnar ou mesmo a regredir. Como escreve o atleta e ativista político, Christopher Bergland, na Psychology Today, é fácil tornarmo-nos pessoas mais chatas. Com menos variações de humor, é certo, mas sem espanto, nem espírito de aventura. O que se não é tão detestável como ser amargo e recalcitrante, é objetivamente péssimo. Bergland afirma que aos 50 e picos verificou que pontuava mal neste indicador, o que o levou a empenhar-se ativamente em rejuvenescer este traço da sua personalidade. Garante que não é difícil, basta com determinação recusarmo-nos a fechar a porta ao que está lá fora. Os nostálgicos do passado, por exemplo, podem voltar a brincar na rua, sem mais desculpas, deixando que os seus filhos e netos também o façam. 

 

Jornalista

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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