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06 de Novembro de 2016 às 19:00

O túnel do amor do OE

Os brutais juros da dívida inviabilizam qualquer investimento a sério e os impostos tiram o sangue das veias dos portugueses. Será uma sina?

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Portugal não tem um ministro das Finanças como o Presidente francês François Hollande. Que pode explicar à vista desarmada num livro que negociou um défice falso com a Comissão Europeia (seja com a de Durão Barroso, seja com a de Juncker), sabendo que nunca cumpriria os 3%. E que do outro lado tenha contado com a compreensão dos mosqueteiros de Bruxelas que lhe explicaram que tinha de fingir para que fosse possível pressionar outros países (como Portugal) a cumprir o défice mesmo que isso fosse destruir-lhes a economia e o tecido social. Aí está, preto no branco, como funciona a UE: todos são iguais, mas alguns são mais iguais do que os outros. Isto não isenta Portugal, que tem um longo historial de não conseguir equilibrar as contas públicas, por pobreza, desmazelo ou alucinação política. Lembre-se que em todo o período do liberalismo monárquico e I República só houve superavit com Dias Ferreira (1893-1894), Vicente Ferreira (1912-1913) e Afonso Costa (1913-1914). É uma experiência que vem de longe. E assim aumentar impostos ou pedir dinheiro ao estrangeiro é o Fado nacional que se canta em S. Bento.

 

Assistir ao debate sobre o OE é, por isso, uma canção pop dos Dire Straits: um "Tunnel of Love" de várias horas, com solos de guitarra para todos os gostos. Música para o contribuinte que, entre o "não há aumento de impostos" e o "vai haver um grande aumento", já sabe o refrão. O debate foi exemplar: do lado da oposição critica-se o actual poder por ir acabar com a taxa de solidariedade só antes das eleições, do lado da maioria critica-se o anterior executivo por ter anunciado antes das eleições que poderia repor 35% dos rendimentos sonegados antes das eleições, algo que dias depois se transformou num magnífico 0%. Cada partido, como no tempo de Eça, é contra os impostos na oposição e depois tem o orgulho de lançar um aumento quando chega a S. Bento. Os brutais juros da dívida inviabilizam qualquer investimento a sério e os impostos tiram o sangue das veias dos portugueses. Será uma sina?

 

Grande repórter

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