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12 de Janeiro de 2017 às 20:01

O novo autoritarismo global

Já poucos têm dúvidas de que o propalado "fim da história" que Francis Fukuyama anunciou aos crentes desapareceu num buraco negro. O mundo global, gerido como uma economia de mercado e ligado por sistemas democráticos, é um mito.

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A crise económica que se iniciou em 2008 está a deixar demasiados feridos no seu caminho e os danos colaterais são demasiados para que um novo paradigma não esteja a surgir. Isso é evidente no surgimento de regimes musculados, onde se juntam as "delícias" do capitalismo com o poder de um Estado forte, mas também no interior da própria União Europeia onde esses ideais vingam perante o beneplácito de Bruxelas. Basta olhar para alguns países do Leste Europeu para se ver onde está a democracia. Mas os sinais são mais alarmantes noutras latitudes. Por um lado, basta ver o estilo autoritário de Donald Trump. Por outro lado, podemos olhar para o Brasil para vermos como está a nascer um novo ovo da serpente.

 

A miopia do Partido dos Trabalhadores e do actual poder, feito de golpes nos bastidores, não reparou na grande ameaça que já chegou às maiores cidades do Brasil, Rio de Janeiro e São Paulo. O povo, desiludido e devastado pela crise económica e pelas "salvadoras" poções de austeridade que tanto alegram alguns, está a transferir-se para a extrema-direita que promete segurança. João Doria, o novo prefeito de São Paulo, exemplifica esse novo tipo de política, encostado às igrejas evangélicas, que servem o seu objectivo de poder. O seu estilo de "justiceiro" é açúcar para os lábios dos que nele votaram, mas isso está a transformar os cidadãos em espectadores. E quase claque de um programa de entretenimento em que se terá transformado a política. No fundo este é o princípio do Facebook ou de outras "redes sociais" congéneres: todos somos espectadores e sabemos o que desejam que nós saibamos. No meio de tudo isso, a esquerda e a direita conservadora e tradicional perderam o comboio da nova história.

 

Tudo isto não é obra do acaso. É o poder da decisão (aquilo que levou Carl Schmitt, tão apreciado por muitos, a querer ser o ideólogo oficial de Adolf Hitler) que volta a ser determinante. Por isso Donald Trump é tão fulcral para se perceber este novo tempo. Ele tornou-se o líder dos EUA porque conseguiu que os americanos acreditassem que ele era o tipo de chefe que eles precisam para "fazer" as coisas. Trump não quer seguir as regras: quer destruí-las e fazer tudo à sua maneira, algo que tem muito que ver com a ideologia neoliberal que se tornou hegemónica no mundo nas últimas décadas. Por isso, o Estado, sendo o grande satã destas pessoas, tem de ser ocupado por dentro: para que esta aliança entre o poder político, económico e cultural (as redes sociais e as tecnologias portáteis estão a servir para nivelar o conhecimento pela mediocridade e superficialidade) se conclua. É a nova era do capitalismo. Por isso, Trump é tão importante para Vladimir Putin. Sem perceber o essencial está a fazer aquilo que um novo poder deseja.

 

Grande repórter

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