Opinião
As barbas da sobretaxa
As barbas já foram um motivo de orgulho. E, em tempos, foram mesmo um sinal exterior de riqueza. Por isso tornaram-se um alvo perfeito para a criação de impostos. Em 1535, o rei inglês Henrique VIII criou o primeiro imposto sobre as barbas.
Quanto maior era, mais imposto pagava. A barba era um símbolo de estatuto e quem tinha cabedal não a iria cortar por causa do imposto. Com ele, o rei argumentava que poderia redistribuir a riqueza pelos mais necessitados. A sua filha, Isabel I, tornou o imposto ainda mais refinado: quem estivesse duas semanas sem fazer a barba, passava também a pagar. Pagavam menos, numa lógica de escalões fiscais. A macumba não mudou com os séculos. Chegámos assim à fabulosa invenção da sobretaxa de IRS, feita para tapar buracos fiscais de forma provisória. Aqueles momentos provisórios que, se ninguém reparar, se tornam definitivos, como é muito típico aqui no sítio.
Segundo conta a lenda, o actual Executivo prometera acabar com a sobretaxa a partir de 1 de Janeiro de 2017. Como alguns portugueses ainda acreditam no Pai Natal, julgou-se que isso seria uma prenda de Natal. Talvez não seja bem assim, segundo parece. O deputado do PS, Paulo Trigo Pereira, já criou uma explicação para que a sobretaxa possa ser extinta no dia 1 de Janeiro que, no calendário político português, dura até 31 de Dezembro de 2017. Segundo ele, "era grave se (a sobretaxa) não acabasse. Mas o faseamento já se fez para os salários da Função Pública. Não fizemos tudo de uma vez, mas cumprimos o compromisso". O malabarismo verbal do deputado seria motivo para um prémio de magia. É um truque simples, mas que transforma um dia (o 1 de Janeiro) em 365 dias. Nem David Copperfield conseguiria este feito. Nem Cronos, o deus grego do tempo, conseguiria explicar este feitiço. Paulo Trigo Pereira consegue fazê-lo, sem esboçar um sorriso. É de alquimista: transforma ouro em chumbo. E diz que é ao contrário.
Grande repórter