Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
Fernando Sobral - Jornalista fsobral@negocios.pt 13 de Novembro de 2017 às 19:20

A indignação nacional 

Parte do país está indignada pelo uso do Panteão Nacional para um piquenicão nocturno dos homens que efectivamente mandam no Web Summit.

A indignação nacional é uma coisa recorrente após o país se sentir mordiscado nas suas canelas. Coisa que já aconteceu quando do Ultimato inglês. Com o resultado que foi a criação de "A Portuguesa". Neste caso do Panteão, a indignação nacional não vai gerar um novo hino nacional ou um pedido de que o Web Summit nunca mais venha para Portugal. Apenas propiciou a sempre meritória caça às bruxas, para saber quem é o culpado de tão atroz atentado à dignidade indígena. Resta saber se foi o ex-secretário de Estado que fez um exaustivo menu do custo de cada jantar ou cocktail num monumento nacional, se o actual ministro da Cultura que, aparentemente, sabe pouco do que se passa no seu ministério, se um subalterno qualquer que, olhando para a receita e esquecendo a "indignidade", despachou a contento.

 

Como sempre tudo serve para a habitual troca de críticas entre Governo e oposição sobre quem lava a sua culpa de forma mais branca. Ninguém, no entanto, consegue ser claro e transparente. O aluguer do património nacional para jantaradas tem que ver com o desprezo a que foi votado desde há muito, o que se cruza com a falta de meios financeiros para ser salvaguardado. Tal como sucede em outros sectores do Estado (as Forças Armadas não alugam também bases e navios para apresentações?). O património português é, há muito, desprezado e esquecido pelo Estado. Muito ainda está a cair de podre. Só que toda a elite política sempre assobiou para o ar. Indigna-se com o Panteão, mas não com a memória colectiva da nação a transformar-se em pó. O que falta em toda esta questão é transparência. O Estado, há muito, deveria ter tido a decência de dizer: não há dinheiro e, por isso, temos de rentabilizar o património. Se isso for feito de forma clara, com os limites da sensatez como margens, que se pode dizer? Porque, de outra forma, esta "indignação" é que é uma afronta.

 

Grande repórter

Ver comentários
Mais artigos do Autor
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio