Opinião
A China e o desafio de Trump
A chegada de Donald Trump à Casa Branca pode alterar, e muito, a relação de forças no Sudoeste Asiático. A China tem muito a ganhar e também bastante a perder.
A chegada de Donald Trump à Casa Branca está a criar um nervosismo externo crescente porque ninguém ainda percebeu o que mudará na política externa dos Estados Unidos. Os sinais que Trump deu durante a campanha eleitoral mostram a tendência para uma política mais isolacionista e antiglobalização económica, com efeitos no apoio que os EUA costumam dar militarmente aos seus aliados em todo o mundo. Na Ásia isto poderá levar a um crescente rearmamento de várias nações, muitas delas com conflitos latentes com a China. E esta, que tem apostado muito na diplomacia económica, vê com apreensão as ideias de Trump sobre aumentos das tarifas aduaneiras sobre os seus produtos à entrada nos EUA. Ou seja, não há certezas e crescem as dúvidas.
Por outro lado, Pequim está atenta à possível retirada geoestratégica dos EUA da Ásia. O maior perigo para a China é que Trump insista na retórica antiglobalização, essencial em termos económicos para um país que cresceu com base nas exportações. Mas, por outro lado, Pequim poderá beneficiar de duas das grandes promessas de Trump: acabar com o legado de Obama do pivô para a Ásia e com a Parceria Transpacífica entre os EUA e 11 países do Pacífico. A China vê estas duas políticas como uma estratégia para "conter" os seus interesses e crescimento.
Se os EUA retirarem da região isso deixará o espaço mais livre para as ambições chinesas, já que limitaria o triângulo de segurança assente entre Washington, Tóquio e Seul desde há cerca de 60 anos. Trump já referiu que desejava retirar 47 mil soldados do Japão e 28 mil da Coreia do Sul. O que levaria a que estes países apostassem no seu reforço militar, mas sem a "protecção" americana.
Por fim, se Trump impor a retirada, os EUA passarão a dar menos atenção às disputas marítimas entre Pequim e vários vizinhos nos mares da China. Ou seja, o balanço de poder no Sudoeste Asiático estaria a ser colocado em causa, onde o poder naval dos EUA tem funcionado como sustentáculo militar do "milagre económico" de muitos países. Sem os EUA haveria um vácuo estratégico que nenhuma das potências da região poderia substituir, seja a China, a Índia, o Japão ou a Austrália. E aconteceria o que Pequim menos deseja: que o Japão se rearme. Mas agora é esperar para ver.
Coreia do Sul: Crise sem fim à vista
O apoio popular à Presidente sul-coreana Park Geun-hye começa a evaporar-se e a criar uma crise de dimensão ainda desconhecida. Tornando o país frágil, numa altura em que continua latente o desafio da Coreia do Norte e a nova política antiglobalização e de retirada do "guarda-chuva militar" dos EUA que parecem ir ser seguidos pela administração Trump, acrescentam muitas incertezas ao futuro. As sucessivas manifestações contra Park, devido ao escândalo que envolve a sua amiga Choi Soon-sil, começam agora também a ameaçar a economia. O "Choigate", como já é conhecido, pode vir a afectar a economia de cariz exportadora, dominada por grandes empresas. O presidente da Comissão de Serviços Financeiros, Yim Jong-young, já disse mesmo: "A economia encontra-se numa situação muito perigosa - caminhamos sobre gelo fino." O vibrante crescimento está a eclipsar-se com os motores das exportações (electrónica, automóveis e navios) a estagnar.
O investimento também estagnou e o consumo privado caiu pela primeira vez em mais de cinco anos. O mercado imobiliário, que tinha tido um crescimento exponencial, está a colapsar. Não são boas notícias para a economia. E, claro, ainda menos para a classe política. A administração parece paralisada pela dimensão do escândalo e Park, eleita há quatro anos como a primeira mulher chefe de Estado, tem pouco mais de um ano para reverter a situação, antes de novas eleições. Se aguentar até lá. No centro do escândalo está uma velha amiga de Park, Choi, filha de um líder religioso, Choi Tae-min, que se tornou uma espécie de mentor para a Presidente. Choi foi detida por ter tentado influenciar empresas para contribuir para acções empresariais no exterior. A oposição não tem força no Parlamento para destituir Park. Mas a pressão está a subir nas ruas.
Macau: FMI fala em transição
A economia de Macau iniciou um processo "importante de transição", tendo o Governo aproveitado a oportunidade para adoptar um modelo económico menos volátil e com fontes de financiamento mais sustentáveis, segundo o FMI. Embora a economia de Macau vá registar uma contracção pelo terceiro ano consecutivo em 2016, a procura externa iniciou um processo de recuperação com as receitas dos casinos a serem positivas há três meses consecutivos, acrescentando que as autoridades locais "identificam correctamente a importância da diversificação".
Turquia: Erdogan mais longe da EU
A Turquia não deve estar "fixada" na ideia de juntar a União Europeia e deveria olhar para outras hipóteses, tal como o "Xangai 5". Esta é a opinião do Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. A Organização de Cooperação de Xangai é um bloco económico e de segurança liderado pela Rússia e pela China e que inclui o Cazaquistão, o Quirguistão e o Tajiquistão.
Macau: jogo manterá receitas
A receita dos casinos de Macau deverá situar-se em 200 mil milhões de patacas (25 mil milhões de dólares) em 2017, valor semelhante ao previsto para este ano, referiu o chefe do Executivo, Chui Sai On. A receita do jogo em casino atingiu no final de Outubro, 184.607 milhões de patacas (23 mil milhões de dólares). O chefe do Executivo de Macau afirmou ir mandar realizar "um estudo científico para conhecer qual o número de quadros qualificados" necessários. Reafirmando o desígnio político para Macau de ser uma plataforma entre a China e os países de língua portuguesa e um centro de ensino do português na Ásia, Chui Sai On salientou a importância da "procura do mercado", dado ser o mercado que pode dar um estímulo para que particulares possam estudar a língua portuguesa.