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[527.] Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar

E, curiosamente, os antigos alunos do Colégio Militar, defensores das suas tradições de 200 anos, romperam com o tabu do uso da publicidade pela sociedade civil e usaram este meio moderno e em perpétua mudança para agitarem a sociedade. Se a tradição tem muita força, a inovação também. Os Antigos Alunos recorreram à inovação para defenderem a tradição.

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A tradição tem muita força. A campanha da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar contra a fusão dos três estabelecimentos militares de ensino mostrou a sociedade civil reagindo contra uma decisão do poder político. A novidade — fora da tradição portuguesa — é tê-lo feito com o poderoso auxílio de uma campanha publicitária televisiva.


Em Julho, o Ministério da Defesa fez um anúncio promovendo o ensino nos estabelecimentos militares que já apresentava como facto consumado — pois a publicidade apresenta sempre factos consumados — a fusão do Colégio Militar com o Instituto de Odivelas e o Instituto dos Pupilos do Exército. Segundo o ministro da Defesa, a campanha resultou num aumento das inscrições nos colégios. Pelo caminho, ficou uma intervenção da sua secretária de Estado que mostrava ignorar a verdade essencial dos colégios.

Um mês depois, os intervalos publicitários televisivos começaram a passar um anúncio da Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar, protagonizado por homens com notoriedade pública que por lá passaram, como Adriano Moreira, Baião Horta, generais Garcia Leandro e Rocha Vieira. As palavras dos antigos alunos olhando para a câmara são muito eficazes e apelam com orgulho para valores geralmente esquecidos no discurso público: "Patriotismo, honra, coragem e solidariedade", nas palavras de Garcia Leandro. O anúncio tem interesse sociológico, pois revela que as tradições sobrevivem ao imperativo da sociedade moderna, que é a contínua mudança. A tradição, pelo contrário, remete para o imperativo da continuidade, pressupondo que a sobrevivência da sociedade se inscreve na permanência das instituições, normas, crenças, ritos e maneiras de agir.

Há instituições e grupos sociais que, pela sua natureza, fazem das tradições uma condição fundamental, não só como valor ideológico e de diferenciação, mas também para a sua própria vida institucional e sua permanência. É o caso das instituições religiosas, militares, políticas (em especial as monárquicas), a que hoje se juntam instituições desportivas e lúdicas em geral.

Uma parte da sociedade, para quem as mudanças são valor absoluto, e portanto mais importantes do que as continuidades, tem por vezes dificuldade em entender essas tradições que, no caso concreto da vida militar, são fundamentais. Elas estão inculcadas nos homens que frequentam e frequentaram o Colégio Militar, e consubstanciam-se na própria instituição. O Ministério da Defesa não contava com a reacção forte, militante — militar! — dos antigos alunos.

O Ministério pretende sobrepor à tradição consubstanciada no nome Colégio Militar um valor moderno e de mudança muito actual: as finanças. Afirma que a fusão dos três colégios militares visa minorar o défice actual de 16 milhões de escolas em que cada aluno custa o triplo dos outros estudantes do ensino público. Os antigos alunos no anúncio não referem este aspecto. Depois de defenderem o colégio, sua antiguidade, tradições e valores, perguntam, um a um: "Porquê?" Conhecem, naturalmente, a resposta financeira, mas não a querem abordar. Para eles, a tradição e a formação de uma elite concreta, a sua, sobrepõe-se ao valor de mudança, explicado financeiramente pelo Ministério. Deste modo, a campanha publicitária dos antigos alunos tem essa limitação: como qualquer publicidade, como a anterior do Ministério, não discute, apenas apresenta o ponto de vista dos anunciantes. Todavia, proporcionou agitação nos media e colocou o Ministério da Defesa... à defesa. Foi um bom exemplo de acção da sociedade civil. E, curiosamente, os antigos alunos do Colégio Militar, defensores das suas tradições de 200 anos, romperam com o tabu do uso da publicidade pela sociedade civil e usaram este meio moderno e em perpétua mudança para agitarem a sociedade. Se a tradição tem muita força, a inovação também. Os Antigos Alunos recorreram à inovação para defenderem a tradição.

eduardocintratorres@gmail.com

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