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29 de Outubro de 2019 às 19:20

Jesus, o fenómeno

Mais do que um treinador, Jesus sempre foi uma personagem completa e complexa. Um homem sempre a pedalar ao limite, a esgarçar as suas qualidades e defeitos, sem mendigar elogios ou a recear críticas.

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Já sentia falta. Há anos que o meu enfermo hábito de ler tudo o que me aparece à frente, de embalagem de champô à bula de aspirina, acostumara-me a passar horas diárias a absorver o que Jorge Jesus dizia e o que diziam sobre ele.

 

Dependendo da época, era até o único assunto presente nos media nacionais. Para bem ou para mal, Jesus disputava o pódio de personalidade mais relevante com Mourinho e Cristiano.

 

Por acaso, mas só por acaso, claro, são três homens do futebol. Mas só um é poeta, no sentido de dar novos significados às palavras, torcendo-as ao limite da compreensão. Estamos a falar de Jesus.

 

Mais do que um treinador, Jesus sempre foi uma personagem completa e complexa. Um homem sempre a pedalar ao limite, a esgarçar as suas qualidades e defeitos, sem mendigar elogios ou a recear críticas.

 

Foi assim até que um dia a coisa partiu-se. E ele partiu. Primeiro para longe (que hoje significa qualquer lugar fora dos nossos tempos mediáticos) até que regressou para bem perto.

 

Engane-se quem acredita ser o Rio de Janeiro distante. O Rio sempre foi uma cidade ali na esquina. E, parafraseando na vida a previsão de Chico Buarque, Jorge Jesus transformou o Brasil num imenso Portugal.

 

Outro dia, Jesus foi aplaudido numa conferência de imprensa pelos jornalistas brasileiros. Alguém ainda se lembrou que se a equipa rubro-negra ganhar o Campeonato Brasileiro, a Libertadores e o Mundial de Clubes (e o Flamengo só depende de si mesmo para acumular esses títulos), uma estátua do treinador deveria ser erguida ao lado do Cristo Redentor (ao menos são homónimos).

 

Na passada segunda-feira, o cronista Joaquim Ferreira dos Santos escreveu no jornal O Globo: "Quem teve pai português sabe que eles são assim mesmo, obcecados pelo trabalho, gritam por seriedade o tempo todo. Sem mimimi. Jorge Jesus é o pai português de Trás-os-Montes. Parece muito com o meu. Fica-lhe bem esta franqueza, e há fartura de carinho, mas um pai português das antigas não quer saber de sorrisinhos. Labuta duro, o gajo, para fazer com que a mercearia melhore."

 

Ou como diria o meu Tio Olavo: "Dizem que Deus é brasileiro ou português, mas Jesus, não há dúvida, é flamenguista."

 

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