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15 de Janeiro de 2019 às 20:20

"Ano passado eu morri, mas este ano eu não morro"

Como a própria Elis disse numa canção: "Viver é melhor do que sonhar". E esta é a conclusão a que chegamos depois de hora e quinze de ação. Há mais coisas boas do que más por aí.

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E, de repente, a voz da Elis Regina ecoa num teatro em Lisboa. Isto surpreende porque a peça em cartaz é a adaptação do texto de um inglês (Duncan Macmillan), encenada e interpretada por um português, Ivo Canelas. O Brasil não é um elemento óbvio na equação.

 

Fico a pensar se a plateia repleta de millennials já ouviu falar de Elis. Espero bem que sim. A sua personalidade cortante e a voz plena de emoção (além da biografia encerrada por uma morte precoce) fazem todo sentido na proposta apresentada pela obra "Todas as Coisas Maravilhosas".

 

Trata-se de um monólogo dialogado com a plateia e com uma premissa simples e brilhante. Acompanhamos a vida de um rapaz que muito cedo teve que enfrentar a tentativa de suicídio da mãe. Em vez de ficar revoltado com o mundo, ele decide fazer uma lista com todas as pequenas coisas maravilhosas que tropeçamos na nossa existência, sem muitas vezes dar o devido valor.

 

A voz de Elis é uma delas. Outra é "fazer xixi no mar sem que ninguém perceba". Outra ainda: "coisas às riscas". Também vale enumerar pessoas talentosas ("Marlon Brando") ou prosaicas ("gelados"). A lista cresce de forma incontrolável durante a peça, deixando clara a tese: a vida vale a pena, a morte não é uma opção.

 

A encenação proposta por Ivo é económica nos meios (luz acesa todo o tempo, ausência de adereços, ator sem microfone) mas generosa na emoção. Há ali uma verdadeira entrega, um ator empenhado em manter a atenção da plateia a cada pequeno pormenor da narrativa.

 

Como a própria Elis disse numa canção: "Viver é melhor do que sonhar". E esta é a conclusão a que chegamos depois de hora e quinze de ação. Há mais coisas boas do que más por aí. Sim, trata-se de uma platitude, mas complicar para quê?

 

Recomendo a visita ao Espaço Time Out, no Mercado da Ribeira, onde a peça estará em cartaz até ao dia 20 (de Segunda à Sexta, às 21:00 e Domingos, às 18:00).

 

Quem for, sairá do teatro melhor do que entrou. O que por si só já seria uma coisa maravilhosa, digna de entrar na lista.

 

Ou como diria o meu Tio Olavo, cantando parte de uma canção de Belchior, um dos compositores queridos de Elis: "Presentemente eu posso-me considerar um sujeito de sorte/Porque apesar de muito moço me sinto são e salvo e forte/E tenho comigo pensado deus anda do meu lado/E assim já não posso sofrer no ano passado/Tenho sangrado demais, tenho chorado pra cachorro/Ano passado eu morri mas este ano eu não morro".

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