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10 de Julho de 2017 às 19:20

140 caracteres de esperança

Há uns 20 anos, criei um "spot" publicitário para angariar apoio financeiro para alguns países luso-africanos que estavam a passar dificuldades.

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Era uma ideia simples: a cara de um homem negro preenchia totalmente o ecrã; um locutor português dizia uma frase como "Em Moçambique e Angola a palavra amizade diz-se:..." e o negro completava: "...Amizade".

 

O efeito pretendido era mostrar que apesar dos sotaques distintos, de algum vocabulário diverso, de línguas locais, o português era algo que muito nos unia.

 

Subentendido ficava o conceito de que a linguagem se não é tudo é algo próximo disso. Sendo que, nalguns casos, extrapola.

 

Temos de ter isso em mente para tentar perceber o nível de stress (provocado pelas palavras) que sofremos desde que a web tornou-se verdadeiramente interativa.

 

Antes das redes sociais, as caixas de comentários dos jornais e os blogues já haviam plantado as sementes da ira. Foram os avôs das "fake news".

 

Diz um ditado popular no interior do Brasil que "porta por onde passa um boi, passa uma boiada".

 

O Twitter é um exemplo disso. Quando surgiu, ninguém poderia imaginar o mal que poderia fazer ao mundo um espaço de publicação que permitia apenas 140 caracteres de escrita.

 

Umberto Eco chegou a declarar que o Twitter tornava a humanidade mais burra, mas morreu antes de perceber que ela também ficava mais perigosa.

 

Sim, estou a falar de Trump. Mas não só. O facto de o Twitter ter pouca relevância em Portugal disfarça o seu real poder de fogo.

 

Nos últimos dias, duas notícias relacionadas com o Twitter chamaram-me a atenção. A primeira, lida na Folha de São Paulo, relatava a estratégia que está a ser desenvolvida pela Presidente de Taiwan, Tsai Ing-Wen, na tentativa de relançar o debate internacional sobre a independência do seu país em relação à China.

 

Animada pela repercussão de um "tweet" publicado por Trump, relatando um telefonema entre os dois, Tsai reabriu a sua conta nessa rede social e passou a postar regularmente (contam-se já mais de 100 mensagens). Chegou a visitar a sede do Twitter nos EUA à procura de compreender melhor como tirar partido do meio.

 

É a chamada diplomacia digital. Um terreno pantanoso, em que o emissor pode dizer coisas sem filtros, sem cerimoniais, sem compreender bem as consequências.

 

Por outro lado, eis que a ativista paquistanesa Malala Yousafzai acaba de estrear o seu perfil no Twitter.

 

Sendo um exemplo de superação, de bom senso, de pacifismo, a banda boa do mundo comemorou os primeiros "posts" de Malala como se fossem golos de fim de campeonato.

 

Bem-vinda, Malala. Que os seus 140 caracteres sejam sempre um sinal de esperança. Tenho a certeza de que sabe que no Twitter a palavra "goodness" se escreve da mesma maneira como noutros sítios.

 

Ou como diria o meu Tio Olavo, citando Saint-Exupéry: "Porque não é pela via da linguagem que eu hei de transmitir o que em mim existe. O que existe em mim não há palavra que o diga."

 

Publicitário e Storyteller

 

Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico

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