Opinião
Turismo social: uma oportunidade para as entidades da economia social
O turismo tem-se afirmado como um setor em forte expansão e com impacto muito relevante no crescimento da economia portuguesa. Representou em 2017 mais de 15 mil milhões de euros de receitas e 7,8% do PIB sendo expectável que o seu peso possa em 2018 ultrapassar 8%.
Os números mais recentes indicam que até agosto de 2018 mais de 3,8 milhões de turistas nacionais escolheram esmagadoramente Portugal como o seu destino de eleição.
É neste quadro de crescimento do setor e de aceleração da procura interna que o turismo social deve ser encarado como uma atividade económica alternativa ao turismo convencional, acessível a famílias, jovens e seniores com baixos recursos financeiros. Desta forma, promove-se a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar destas populações, estimula-se a interação social enquanto fator de combate à exclusão e dinamiza-se a atividade económica e cultural.
Contrariamente ao que se passa na Europa, onde o turismo social é tema recorrente na agenda política e económica dos últimos 30 anos, em Portugal nunca teve papel de destaque, o que, de alguma forma, se poderá explicar pela associação à intervenção do Estado através do INATEL. Só muito recentemente o tema passou a fazer parte da agenda do turismo, e deve-se à intervenção de diversas entidades da economia social, nomeadamente misericórdias e mutualidades.
Neste contexto é obrigatório olhar o turismo social como uma nova oportunidade para alavancar o sector social, através de uma nova visão, assente num conceito de inclusão, coesão e de solidariedade.
Não menos relevante é a oportunidade que representa para os territórios de baixa densidade no interior do país. É aqui que as entidades da economia social estão presentes através de uma rede capilar de misericórdias, mutualidades, cooperativas e outras IPSS, que não só gerem elevado número de equipamentos de apoio social, como são detentoras de importante património edificado, pouco ou nada explorado e em muitos casos em mau estado de conservação. Para estes casos existem instrumentos de financiamento que podem ser utilizados na sua reabilitação com destino à atividade turística (como, por exemplo, o recente Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbana - IFRRU 2020), o que permitirá o alargamento da oferta com impactos positivos na conservação e valorização do território por via da recuperação do património arquitetónico e histórico-cultural.
Nesta estratégia, é possível criar valor para as instituições sociais, melhorar a qualidade de vida dos residentes e dos visitantes, com reflexos muito significativos na criação de emprego.
O turismo social é ainda uma oportunidade para democratizar o seu acesso a estratos da população com menores recursos económicos, para combater a sazonalidade na atividade, para fomentar o trabalho em rede e a criação de parcerias institucionais - por exemplo, a transferência de conhecimento de instituições de ensino superior e profissional para os operadores turísticos.
Este é um caminho que permite contribuir para o fortalecimento das economias locais, em que a inovação social será um fator distintivo de sucesso.
Perante este desafio, tal como no passado, as entidades do setor social vão ser, mais uma vez, capazes de se adaptar e reinventar, gerando mais riqueza e contribuindo para o reforço da coesão social nacional.
CIRIEC em "Task Force" das Nações Unidas
O Centro Internacional de Investigação e Informação sobre Economia Pública, Social e Cooperativa (CIRIEC) foi convidado a participar, na qualidade de observador, no Grupo de Trabalho Interinstitucional das Nações Unidas sobre Economia Social e Solidária ("Task Force on Social and Solidarity Economy"). Este grupo tem como objetivo aumentar a visibilidade dos debates sobre economia social no sistema das Nações Unidas e nos fóruns internacionais. Jorge de Sá, presidente do CIRIEC Internacional e do CIRIEC Portugal, será o representante do CIRIEC naquele grupo de trabalho, tendo como suplente, Leandro Morais, membro-fundador do CIRIEC Brasil.
Economia Social e Solidária e os Comuns
Realiza-se entre 21 e 23 de novembro, no ISCTE-IUL, em Lisboa, a conferência internacional "Social Solidarity Economy & the Commons: Envisioning sustainable and post-capitalist futures". Organizada pelo Centro de Estudos Internacionais do ISCTE-IUL e com o patrocínio da Associação Mutualista Montepio, esta iniciativa visa promover o diálogo intersectorial sobre este tema, a nível internacional. Além das mesas-redondas em plenário, estão previstas cerca de 60 comunicações em três sessões paralelas.
Mais informações em https://ssecommons.cei.iscte-iul.pt/.
Presidente da Direção da Associação de Socorros Mútuos - Mutualista Covilhanense
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico