Opinião
Homenagear António Sérgio no cinquentenário da sua morte
Programa relembrado, a maior homenagem que se poderá fazer a Sérgio é terminar a sua implementação, nos dois aspetos que falta concretizar: o banco cooperativo e o ensino do cooperativismo nas escolas.
A 24 de janeiro de 2019, celebrar-se-ão os 50 anos do falecimento de António Sérgio. Preparam-se as devidas celebrações, tendo sido para tal o primeiro-ministro devidamente alertado à margem da última reunião do Conselho Nacional de Economia Social a que presidiu.
Não existirá maior homenagem a Sérgio que não seja a de contribuir para concretizar até lá o seu programa cooperativo delineado em 1955 no artigo "O Cooperativismo e o Estado", publicado no n.º 25 do Boletim Cooperativista, de outubro de 1955.
Muitas das ideias plasmadas vêm de mais de trás, mesmo de várias décadas antes, e são atuais quase um século depois. Transformaram-se em reivindicações do movimento cooperativo e de economia social tal como se pode comprovar pela prática, e pelo texto aprovado no 1.º Congresso Nacional de Economia Social de 2017.
Em oito pontos, Sérgio propõe-nos a criação de uma Direção-geral do Cooperativismo e de uma Comissão de Fomento do Cooperativismo com a participação de representantes estatais e do próprio movimento, duas reivindicações a que Henrique de Barros soube dar expressão com a criação do INSCOOP, e depois Vieira da Silva com a criação da CASES, no lugar daquele primeiro organismo.
Propõe-nos também um organismo de crédito para o setor, a que chamou Caixa de Crédito às Cooperativas, a qual via dentro da Caixa Geral de Depósitos, o que corresponde à necessidade presente de dotar o setor cooperativo e social previsto constitucionalmente de um organismo de crédito que lhe seja próprio, tornando as entidades da economia social independentes de condições e de imposições da banca privada que as olha não como sociedades de pessoas, mas como sociedades de capitais.
Pugna pela criação de aulas sobre cooperação nas escolas de todos os graus de ensino e pela criação de cooperativas escolares, consciente de que é de tenra idade que nascem os cooperadores, e não dela se inteiram senão quando passam na universidade ou a elas recorrem para satisfazer em adultos necessidades pontuais de consumo ou de trabalho.
Defende cooperativas de consumo abertas a terceiros, com os excedentes empregados no que hoje chamamos de serviços de interesse geral, e que a ACI décadas depois elevou a 7.º princípio do cooperativismo sob o título de Interesse pela Comunidade ou Compromisso pela Comunidade.
Quis a promulgação de um Código do Cooperativismo, algo que o VI Governo Constitucional de Sá Carneiro viria a publicar em 1980.
E pensou que em cada bairro popular que se edificasse deveria existir um edifício cooperativo, ideia que me não deixa de inspirar quando escrevo sobre a utilidade de uma casa de economia social em cada autarquia local, forma de construir um verdadeiro setor de economia social pela interpenetração dos corpos cooperativos e associativos dos filiados nas diferentes entidades locais de economia social, geradora de sinergias tais que possibilitariam aos eleitos locais defender políticas que impedissem a desertificação dos territórios e a geração de emprego e desenvolvimento local.
Programa relembrado, a maior homenagem que se poderá fazer a Sérgio é terminar a sua implementação, nos dois aspetos que falta concretizar: o banco cooperativo e o ensino do cooperativismo nas escolas. Que as atuais autoridades possam e saibam assumir o desiderato de Sérgio é o voto que se formula.
Conferência "Integração de Cuidados - Cuidar em Casa"
Realiza-se no próximo dia 7 de maio, a partir das 15 horas, no Auditório da Associação Mutualista Montepio, em Lisboa, a conferência "Integração de Cuidados - Cuidar em Casa", numa organização da Associação Portuguesa de Mutualidades e das Residências Montepio. Esta iniciativa visa promover a reflexão sobre as alterações preconizadas para os cuidados de saúde primários e para os cuidados continuados integrados e contará, entre os seus oradores, com Constantino Sakellarides, professor catedrático jubilado da Escola Nacional de Saúde Pública, e Manuel José Lopes, coordenador da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados.
Reeleito o presidente da Social Economy Europe
O presidente da Confederação Empresarial Espanhola da Economia Social, Juan António Pedreño, foi reeleito presidente da Social Economy Europe, entidade representativa da economia social na União Europeia (UE). Na UE, este setor é composto por 28 milhões de empresas e conta com 232 milhões de membros de cooperativas, mutualidades e outras entidades. Representa 8% do PIB e 6% do emprego (14 milhões de trabalhadores). Foram reeleitos, como vice-presidentes, Alain Coheur (AIM), Emmanuel Verny (CFESS) e Luigi Matignetti (REVES). Portugal está presente no Conselho de Administração através de João Leite, em representação da CASES.
Cooperativista. Administrador do Social Economy Europe, em representação da CASES
Artigo em conformidade com o novo Acordo Ortográfico