Comprei um pacote de pipocas - doces, para evitar trocadilhos - e tenho assistido, com grande interesse e alguma comichão, à comissão parlamentar de inquérito à gestão do Banco Espírito Santo. Se tivesse de fazer uma sinopse dos dois primeiros episódios, penso que a melhor comparação é com um filme bíblico. Não só porque envolve mais de 140 pessoas, como, tendo em conta o que vi, esta comissão é a crucificação do Carlos Costa, com a Maria Luís a fazer de Pilatos e o Tavares de Judas.

O primeiro episódio, apesar de se focar numa personagem central, foi muito parado e com poucos momentos de suspense. Foi preciso alguma persuasão moral para aguentar ver aquilo até ao fim.

Carlos Costa foi ouvido durante mais de seis horas e, resumindo, disse que o BdP identificou fragilidades no BES em Julho de 2013. Depois, o tempo passou e esqueceram-se. O BdP estava de olho no BES desde o Summer of 69 do Bryan Adams. Segundo o governador do Banco de Portugal, ele não tinha poder para afastar Ricardo Salgado da presidência executiva do Banco Espírito Santo. O que podia fazer era utilizar a persuasão. Se o único poder do BdP é a persuasão, se calhar, era bem pensado o governador ter pelo menos um metro e noventa e 120 quilos. Não adianta utilizar a persuasão quando os guarda-costas do Salgado eram israelitas e não percebiam português.

Carlos Costa afirmaria mais tarde, e já com fome, que a resolução do BES foi política - foi tudo para lixar o futuro político do Zé Gomes Ferreira. O que acho extraordinário é que um indivíduo como o Carlos Costa possa tirar a idoneidade a alguém.

No episódio 2, apareceu Carlos Tavares e a coisa animou. O momento mais emocionante foi quando Tavares revelou que o governador do BdP lhe telefonou a falar em fuga informação na solução BES. Foi um momento brutal, pelo menos para mim. Fuga de informação na solução do BES?! Sempre pensei que o Marques Mendes possuía um sexto sentido. Que desgosto!

Parte da conversa foi à volta do prospecto de aumento de capital com que o BES se capitalizou antes de falir. Carlos Tavares, segundo disse, sabia que aquilo era vender gato, melhor, rato por lebre, mas diz que fez o que podia. Para mim, não fez, podia ter exigido que o prospecto de aumento de capital tivesse a forma de uma sanita. Pelo menos isso.

Se eu soubesse que iam servir comida estragada no restaurante de que eu era responsável, preferia demitir-me a ter de servir. Pelas declarações do Carlos Tavares, a ASAE devia substituir a CMVM, não vá o PSI-20 andar a servir salmonelas.

Não percebo como é que estas pessoas, de tanto valor, aceitam estes cargos, sabendo que não podem fazer nada e não têm poderes nenhuns. Espero que lhes paguem bem para fazer estes sacrifícios. A CMVM e o Banco de Portugal são como aqueles casais de velhos que vivem sozinhos no monte e que são enganados com novas notas de 15 euros.

Pelo que tenho visto e ouvido, faz falta uma Voz no sistema financeiro como há na Casa dos Segredos. A Teresa Guilherme, vulgo BdP, só, não chega. Porque a Teresa só está lá para os ver a... fazer amor.

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TOP 5
Persuação Moral

1 Justiça: Vistos Gold - Cinco dos 11 arguidos em prisão preventiva. Espero que, na prisão, haja TV para ver a Champions.

2 Quarenta trabalhadores intoxicados da PT de Beja levados ao hospital - e quando a comida for angolana...

3 Manuel Jarmela Palos apresenta demissão do SEF - a pulseira electrónica apita à entrada, não dava. Mas, pelo menos, podia ter ido ao SEF acabar as garrafas.

4 Catroga - EDP pagou a contribuição extraordinária "em função do período que o país atravessa" - A China?

5 O presidente do Instituto dos Registos e Notariado, António Figueiredo, e o empresário chinês Zhu Xiaodong ficam em prisão preventiva - os outros suspeitos no caso Visto Dourado estão proibidos de jogar Mahjong.