Opinião
Pagamentos eletrónicos já nasceram. E devem ser para todos
Segundo um estudo recente, Portugal ainda tem uma elevada utilização de numerário nas transações, cerca de 20 pontos acima da média europeia.
Vivemos um momento absolutamente excecional. O aparecimento do novo coronavírus (covid-19) e a propagação desta pandemia criaram um choque económico à escala global, sem precedentes, e transversal a todos os setores. Um impacto que é amplamente agravado pela interrupção abrupta dos processos produtivos, das cadeias de valor e pela mudança estrutural no dia a dia de consumidores e empresas. Um contexto que terá necessariamente de levar as empresas a uma reavaliação dos objetivos de curto prazo e também a um ajustamento das prioridades a médio e longo prazo.
A economia atravessa um momento de enorme incerteza e, por isso, ainda é prematuro fazer projeções ou tentar quantificar impactos, mas podemos e devemos olhar para as alterações que o atual contexto impôs e retirar desde já ilações. Há mudanças inegáveis nas formas de trabalhar, de estudar, de comunicar, e até mesmo de conviver. E há também significativas alterações nos hábitos de consumo dos portugueses. O comércio digital está a ganhar cada vez mais destaque e esta é uma alteração estrutural que veio para ficar. Teremos, nos próximos anos, um crescimento exponencial do “e-commerce” e isso requer que seja colocada na agenda dos diferentes agentes políticos e económicos a aceitação universal dos pagamentos eletrónicos.
Portugal tem ainda um caminho a percorrer em matéria de pagamentos eletrónicos, ainda que como já vimos em diversas situações, somos um país aberto à inovação, com soluções de pagamento pioneiras a nível internacional, e com uma população de “early adopters”. Exemplo disso são os mais de 2,4 milhões de portugueses que atualmente com o MB Way podem utilizar o seu telemóvel para fazer os seus pagamentos diários. Contudo, é fundamental que sejam criadas as condições necessárias para que Portugal se coloque na liderança da adoção de pagamentos eletrónicos.
Entre as iniciativas legislativas que o Governo anunciou recentemente para conter o contágio da covid-19 estão medidas que vêm no sentido de facilitar e de fomentar a utilização de meios eletrónicos de pagamento, como o decreto-lei DL10-H 2020 que visa facilitar e fomentar a utilização de instrumentos de pagamento eletrónicos, como os pagamentos baseados em cartão, em detrimento de meios de pagamento tradicionais, como notas e moedas. Mas temos de dar o passo seguinte: retirar o caráter temporário destas medidas e dar início ao processo que levará à aceitação universal dos pagamentos eletrónicos. Algo que já acontece em vários países europeus. Segundo um estudo recente, Portugal ainda tem uma elevada utilização de numerário nas transações, cerca de 20 pontos acima da média europeia.
Depois deste período de exceção, será necessário voltar à criação de valor e ao crescimento. É, portanto, o momento de apoiar a economia nacional e reforçar as competências das suas empresas. Se o caráter global desta pandemia coloca desafios ao modelo de exportações que com sucesso foi utilizado por muitas das nossas empresas nos últimos anos, teremos de nos focar na eficiência das nossas empresas, na redução dos custos operacionais e no esforço que todos teremos de fazer em termos de carga fiscal. Neste contexto, o aumento da produtividade e da equidade fiscal, com o combate à economia informal, deverá ser um contributo de todos e em que os pagamentos eletrónicos também têm um papel relevante a cumprir.
Para superar este contexto extraordinário, todos os esforços devem ser feitos para que o contágio da covid-19 seja travado o mais depressa possível, facilitando a vida dos portugueses e apoiando a sociedade no que for possível nas atuais circunstâncias. Temos, por isso, mais de 300 mil terminais da rede Multibanco habilitados para pagamentos integralmente “sem contacto”, com o telemóvel e para qualquer montante, no caso dos pagamentos com telemóvel através do MB Way.
Acreditamos que podemos contribuir de forma válida e sustentada para a criação de um ecossistema de trabalho para combater o novo coronavírus. Enquanto empresa líder em soluções de pagamento e financeiras assentes em tecnologia (“fintech”), continuaremos a disponibilizar o nosso “know-how” e a nossa tecnologia para esta luta que é de todos. E queremos reiterar o nosso compromisso com a criação de soluções de pagamento digitais eficazes e convenientes, tão essenciais neste contexto, garantindo a sua adaptação de forma ágil aos novos hábitos de consumo e às novas necessidades dos atores económicos e da população em geral, sempre em segurança. Esta será a chave para que juntos possamos conter o contágio desta nova pandemia e contribuir para construir o novo ciclo que surgirá depois.