Opinião
Os robôs não vão dominar o mundo. E agora?
O problema é que a ignorância fala e, aos poucos, nós, os humanos, não só decidimos humanizar a tecnologia como começámos a construir narrativas baseadas em medo e rumores, dando a estes algoritmos um poder que não têm, o poder de escolha, e a emoção.
“Onde fala a ignorância, a inteligência não dá palpites”, falemos então de inteligência artificial.
Apesar de ser uma presença assídua no dia a dia de todos, a inteligência artificial representa, na verdade, ignorância real e geral.
A democratização desta tecnologia não foi acompanhada pela disseminação do conhecimento sobre a mesma. O problema é que a ignorância fala e, aos poucos, nós, os humanos, não só decidimos humanizar a tecnologia como começámos a construir narrativas baseadas em medo e rumores, dando a estes algoritmos um poder que não têm, o poder de escolha, e a emoção.
Não existem algoritmos racistas, ou sexistas, nem tão-pouco máquinas que vão dominar o mundo e substituir-nos. Este é o momento de metermos a inteligência a dar palpites: a tecnologia reflete a realidade de uma sociedade, não a cria!
Esta capacidade algorítmica de prever e influenciar comportamentos representa poder. Um poder que, dependentemente da narrativa, pode dominar, mas pode também servir. Quando removemos a responsabilidade humana, de cada um de nós, da equação, também nos removemos enquanto agentes de decisão primários. As máquinas não decidem narrativas, os humanos sim.
Olhemos para a História.
Após a Segunda Guerra Mundial, foram feitas entrevistas a vários “operacionais” da máquina nazi – como os condutores dos comboios que conduziram milhões à morte, ou os responsáveis pelas câmaras de gás. O que tinham em comum? Não, muitos não eram necessariamente pessoas más, eram apenas medíocres e ignorantes. Ao perguntar o porquê das suas ações, as respostas repetiam-se, “eu só conduzi o comboio”, “eu apenas assinei o papel para comprar o gás”. Cada indivíduo retirava de si a responsabilidade pelo que aconteceu, fazendo o que designamos de outsourcing moral.
Palpita-me que já percebeu onde quero chegar: Responsible AI. Não ética de dados, Responsible AI. Porquê? A responsabilidade impele-nos à ação. O uso responsável de dados e tecnologia não se limita à aplicação de sistemas técnicos de controlo, implica que cada um de nós assuma o seu papel na definição da aplicação desta poderosa ferramenta.
Este é o meu.
As máquinas não vão dominar o mundo, não deixe que dominem a sua voz!