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08 de Março de 2013 às 09:38

O que nos acontece e o que dizem de nós

O professor universitário dr. Paulo Morais escreveu, no "Correio da Manhã" do dia 5, pp, um artigo que merecia a maior divulgação: "Marginais de Sábado."

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O professor universitário dr. Paulo Morais escreveu, no "Correio da Manhã" do dia 5, pp, um artigo que merecia a maior divulgação: "Marginais de Sábado." Paulo Morais é um dos dois ou três (não mais) articulistas portugueses que não baralha as coisas e redige num idioma claro e interveniente. O "Correio da Manhã" é um matutino cercado de preconceitos pelas bem-pensâncias cá do brejo. Devo dizer que leio o jornal com assiduidade, e que gosto de o ler pela singela circunstância de que cumpre rigorosamente o princípio fundamental do jornalismo: dá notícias. Numa tertúlia, "Os Empatados da Vida", agora em "standby", muitas vezes conversámos acerca das características do jornal, acertando nos objectivos acima referidos: dá notícias. Os tertulianos são gente do ofício: Mário Zambujal, Fernando Dacosta, João Paulo Guerra, António Borges Coelho, Eugénio Alves, cá o Bastos, todos velhos estradeiros da Imprensa, todos amantes de ler o que por aí se edita.


Não conheço pessoalmente o director do "Correio da Manhã", mas muitos dos que lá trabalham, porque os leio, tenho-os como profissionais honrados e probos. Ainda há semanas, num programa de televisão, assisti a um debate no qual Octávio Ribeiro, o director do diário, com modéstia e aplicação, firmeza e conhecimento de causa, replicou, a alguns preopinantes convidados, e cuja soberba e embófia são conhecidas, o que entendia como Imprensa e como informação. A clareza do raciocínio de Ribeiro esbarrou com os tatibitates dos que se servem da retórica dos lugares-comuns para esconder a vacuidade de pensamentos tardios.


Como o "Correio da Manhã" dá notícias que outros órgãos de comunicação minimizam ou omitem, por presunção de uma superioridade que não possuem, eu, modestíssimo profissional de outra estirpe, leio-o com proveito, gosto e prazer. E foi com proveito, gosto e prazer que li o artigo do prof. Paulo Morais. "No último fim-de-semana o povo saiu à rua. Veio clamar por justiça rejeitar as políticas seguidas por este regime moribundo. Nas manifestações, em Lisboa, no Porto e um pouco por todo o País, estava representada uma maioria sofredora, todo um povo que se sente num beco sem saída."


Prossegue Paulo Morais: "Um beco em que Cavaco, Guterres, Barroso e Sócrates nos encurralaram. Passos Coelho prometeu que nos iria resgatar deste atoleiro, mas apenas nos tem mantido no 'status quo', tornando-se assim corresponsável por uma das piores faces da vida da história do País. Esta é a geração mais espoliada nos seus rendimentos, que são transferidos pelo sistema político para os cofres dos verdadeiros donos do regime, bancos, construtores e promotores imobiliários. A política abastardou-se e transformou o Orçamento do Estado um instrumento que drena os recursos dos pobres para o bolso dos poderosos."


Enquanto noutros jornais, nas televisões e nas rádios se discute o sexo dos anjos, consubstanciada, a "discussão", no número de manifestantes, o "Correio da Manhã", pela pena do seu colaborador, Paulo Morais, colocou a questão no devido lugar, relevando o que de fundamental ela comportava. Um prazer e um acto pedagógico ler, no "Correio da Manhã", repito, o lúcido comentário do professor universitário do Porto.



Um belo estudo de José Brandão


José Brandão tem dedicado a parte mais estelar da sua vida a duas causas: a da liberdade e ao estudo da História, procurando a natureza do nosso destino, e as causas da nossa decadência. Na esteira de Antero e de outros vaticinadores dos nossos infortúnios, José Brandão, com um esforço intelectual exemplar e uma integridade e rigor nem sempre comuns a trabalhos de académicos, tem vindo a publicar uma obra extremamente importante, com o objectivo de esclarecer o que fomos, a fim de perceber o que nos acontece. Agora, veio a lume "Este é o Reino de Portugal", Edições Saída de Emergência, admirável repositório "do que disseram, sobre Portugal e os portugueses, os estrangeiros que nos visitaram nos últimos três séculos." É um trabalho a vários títulos notável, a valer a atenção de quem deseja saber. Recomendo, vivamente, a leitura deste belíssimo volume.

 

 

b.bastos@netcabo.pt

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