Opinião
O jejum mediterrânico
A dieta mediterrânica foi, esta semana, classificada como Património Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO).
A dieta mediterrânica foi, esta semana, classificada como Património Imaterial da Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Foi uma candidatura plurinacional que Portugal (representado pela Câmara Municipal de Tavira) partilhou com a Espanha, Marrocos, Itália, Grécia, Chipre e Croácia. Foi a primeira vez que a região do Algarve viu a sua cultura reconhecida pela UNESCO, de forma assumida. Porque há muitas mulheres que trabalham na UNESCO e que, em tempos, já visitaram o Algarve e conheceram o Zezé Camarinha.
Portugal conseguiu a segunda inscrição, depois do fado, na lista do Património Imaterial da Humanidade. Somos muito bons em tudo o que é imaterial, porque o que é imaterial não se estraga. Dominamos de tal modo esta arte que existem casos de autarcas, não vou dizer nomes, que fizeram concursos públicos para fornecer imaterial de escritório.
Se o fado e a dieta mediterrânica são Património Imaterial da Humanidade, é correcto assumir que uma ida ao Senhor Vinho (que inclui: pão, azeitonas, vinho e fado) é uma espécie de atingir o nirvana.
A verdade é que, talvez por o assunto ser de natureza imaterial, António José Seguro abandonou o limbo, por instantes, para vir deixar, no facebook, uma mensagem: "Parabéns, PORTUGAL. Quero saudar fortemente a aprovação da comida mediterrânica como Património Imaterial da Humanidade. Uma decisão da UNESCO sem objecções e com rasgados elogios à cozinha típica dos países do Sul da Europa." E é isto. Seguro vem exprimir, em tom encomiástico, a sua satisfação pelas conquistas da dieta mediterrânica mas, talvez por ter abusado no queijo, esquece por completo de referir os resultados PISA 2012. Seguro, para ser levado a sério, precisa, urgentemente, de salvar uma criança de um incêndio ou gravar um disco de fado.
No momento actual, faz pouco sentido premiar a dieta mediterrânica, quando a maioria dos países que subscreveu esta proposta está sob uma rigorosa dieta germânica que, na prática, se traduz por um jejum mediterrânico.
Na realidade, o inventor da denominação - Dieta Mediterrânica - foi um americano, de seu nome Ancel Keys. Que, como todos americanos, apreciava o politicamente correcto. Antes de AK, em meados do século XX, este estilo saudável de alimentação - agora Património Imaterial da Humanidade - era conhecido como A Dieta dos Pobres. Bendito, Ancel. O desastre que evitaste! Se não tens rebaptizado a dieta, a esta hora estava o Seguro a erguer-se dos mortos para vir bater palmas à Dieta dos Pobres. Era a nova Jonet.
A única razão para chamar dieta mediterrânica aos hábitos alimentares dos portugueses é o facto de a maioria do peixe que consumimos ter estado a nadar por essas bandas antes de ter sido congelado.
Já dei o primeiro passo para tentar alterar esta situação. Cá em casa, neste Natal, não se come bacalhau. Este ano, a acompanhar o grão e as couves, temos golfinho. O bacalhau é da Noruega, o golfinho é do Sado. Viva Portugal!
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