Opinião
O altar da TAP
Os sindicatos, como outros grupos de pressão, incluindo os movimentos ecologistas, as ordens profissionais e as associações empresariais, não só são legítimos, como a sua existência deve ser celebrada numa sociedade que tem na livre associação um princípio sacrossanto.
A FRASE...
"O sector dos transportes é particularmente propenso à realização de greves porque está investido de um poder (…) que advém do facto de prestar um serviço público indispensável."
André Veríssimo, Negócios ,16 de dezembro de 2014
A ANÁLISE...
Contudo, deve ser absolutamente claro que os sindicatos são organizações que atuam na prossecução de interesses próprios, os quais amiúde colidem com os interesses sociais mais vastos. A greve da TAP, planeada para o período festivo, é disso clamoroso exemplo.
Genericamente, a greve é uma forma de pressão negocial que consiste em infligir perdas aos detentores do capital de uma empresa. Ora, como a empresa em causa é pública, o prejuízo recai em primeira mão no colo dos já muito massacrados contribuintes - a esmagadora maioria dos quais trabalhadores. Mas a ironia não fica por aqui, já que entre o universo das pessoas mais afetadas pelo protesto laboral figuram os imigrantes (e respetivas famílias), os mesmos que os sindicatos não se cansaram de identificar como grandes vítimas das políticas de austeridade. Parece que em alguns altares todos os sacrifícios são justificados.
A famigerada greve da TAP não serve os interesses dos trabalhadores. Quanto muito, beneficia os colaboradores dessa empresa. Na realidade, nem isso. Com efeito, a melhor forma de potenciar os salários do setor dos transportes aéreos seria uma total liberalização do mercado. A entrada de novas empresas numa atividade de capital humano tão específico desencadearia uma procura desenfreada por trabalhadores e o consequente aumento das remunerações. Isso teria só um problema: esvaziaria o negócio dos sindicatos.
Este artigo está em conformidade com o novo Acordo Ortográfico.
Este artigo de opinião integra A Mão Visível - Observações sobre as consequências directas e indirectas das políticas para todos os sectores da sociedade e dos efeitos a médio e longo prazo por oposição às realizadas sobre os efeitos imediatos e dirigidas apenas para certos grupos da sociedade.
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