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22 de Setembro de 2020 às 18:41

Mobilidade sem infraestruturas não é “mobilidade para todos” mas só para alguns

Se tomarmos como referência estimada os 44 milhões de carros elétricos a circular nas cidades em 2030, torna-se evidente a urgência em desenvolver uma rede alargada de infraestruturas de mobilidade capaz de satisfazer as necessidades dos utilizadores de veículos elétricos.

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Neste ano, a Semana Europeia da Mobilidade tem um significado especial. Coincide com a celebração de Lisboa como Capital Verde Europeia, que não é mais do que o merecido reconhecimento do compromisso do país com o objetivo da neutralidade carbónica e as novas soluções de mobilidade sustentável.

 

O alarme, que resulta da desaceleração da economia europeia provocada pela crise pandémica, é demasiado sonoro para ser ignorado. Mas há sinais encorajadores, embora pouco conhecidos, que devem ser pontificados neste momento: o Pacto Ecológico Europeu foi colocado no centro da estratégia de recuperação da Europa.

 

"Emissões zero, mobilidade para todos" é o mote escolhido pela Comissão Europeia para a edição deste ano. Talvez o tema possa resumir bem a ambição da Comissão, mas deve ser temperado pela realidade dos números.

 

No quadro da mobilidade elétrica, a insuficiência de pontos de carregamento continua a apresentar-se como a principal resistência à compra destes veículos por parte dos cidadãos. Basta verificar que no espaço europeu existem apenas 190 mil pontos de carregamento. Apesar do aumento significativo registado nos últimos anos, continuamos longe dos 677 mil previstos pela Comissão Europeia em 2013.

 

Se tomarmos como referência estimada os 44 milhões de carros elétricos a circular nas cidades em 2030, torna-se evidente a urgência em desenvolver uma rede alargada de infraestruturas de mobilidade capaz de satisfazer as necessidades dos utilizadores de veículos elétricos. Aliás, um estudo recente publicado pela Federação Europeia de Transportes e Ambiente aponta para a necessidade de instalação de 1,3 milhões de pontos de carregamento até 2025 e 2,9 milhões em 2030, a fim de se atingirem as metas de descarbonização do setor automóvel.

 

Ora, tudo isso obriga a que os Estados-Membros, entre os quais Portugal, impulsionem as suas agendas nacionais para estimular o setor da mobilidade, com quadros regulatórios e sistemas de incentivos mais favoráveis à inovação e ao desenvolvimento tecnológico.

 

A mobilidade elétrica não pode escapar ao rol de prioridades do programa português da presidência do Conselho da União Europeia no primeiro semestre de 2021, com a qual possa ser politicamente consequente.

 

Se é verdade que são os compromissos que desenham as agendas políticas, é inegável que são os sinais que as dinamizam. Para que possamos ser um grande catalisador da mudança de mentalidades e comportamentos neste domínio, devemos prepararmo-nos mais e melhor para promover um debate estruturado e ambicioso neste plano (nomeadamente no contexto da revisão da Diretiva referente à criação de uma infraestrutura para combustíveis alternativos).

 

Portugal deverá sinalizar que está preparado para assumir a vanguarda desta frente. Desde logo, porque possui um tecido empresarial competitivo capaz de assegurar infraestruturas de mobilidade modernas e sustentáveis ao serviço das empresas e dos cidadãos.

 

O desenvolvimento do setor da mobilidade, tanto nas zonas urbanas como nas zonas rurais, é indissociável da disponibilização de infraestruturas de carregamento para veículos elétricos.

 

Tudo isto obriga a um caminho de transformação por parte dos agentes envolvidos – dos municípios às freguesias, dos parques de estacionamento de acesso público aos restaurantes, dos supermercados aos centros comerciais, ou até das universidades aos hospitais – na satisfação das necessidades que o mercado tem vindo a impor.

 

A melhoria da mobilidade e da qualidade de vida dos cidadãos não é algo que se possa reduzir à esfera pública; está bem para lá disso, se o objetivo conjunto for uma mobilidade para todos e não só para alguns.

 

Numa clara necessidade de adaptação à nova realidade, que se reflete num aumento gradual da procura por veículos elétricos, cada actor na transformação da mobilidade deve interrogar-se: "Estou a fazer tudo o que posso para assegurar condições para o acesso à rede de mobilidade elétrica?".

 

O desafio da descarbonização só é compatível com uma rede de infraestruturas de carregamento elétrico tão extensa quanto integrada que proporcione aos utilizadores condições para fazerem uma escolha responsável e sustentável para que o futuro da mobilidade seja real.

CEO da Power Dot

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