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10 de Julho de 2015 às 11:31

Jornalismo de bancada

Depois da vitória do "Não", com 61%, e perante os festejos de gregos na rua com cartazes do "Oxi", uma jornalista da SIC perguntava a um comentador: "Estes gregos estão a festejar exactamente o quê?"

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Depois da vitória do "Não", com 61%, e perante os festejos de gregos na rua com cartazes do "Oxi", uma jornalista da SIC perguntava a um comentador: "Estes gregos estão a festejar exactamente o quê?" - com toda a certeza, não estavam a festejar as notas no curso de jornalismo obtidas pela pivô.

Há uma espécie de desprezo em relação ao Syriza que justifica que os jornalistas digam o que lhes apetece, no tom que mais lhes agrada. Na SIC Notícias, no dia do referendo, um pivô dizia, com ar de não há nada a fazer, não tem juízo o raio do puto - "soubemos agora que o Varoufakis foi de t-shirt para a reunião com os banqueiros" - e presumo que sem relógio nem carteira. Eu fazia o mesmo. Há "bullying" ao careca. Depois da demissão do ministro grego das Finanças, a comunicação social portuguesa não perdoou e Varoufakis é acusado de usar t-shirt e de o pendura da moto não usar capacete, acusações graves para um ex-ministro das Finanças, como nós bem sabemos.

O resultado do referendo grego foi uma dor de cabeça para esta gente porque era mais fácil chamar radical ao Tsipras e ao Varoufakis do que a um povo. Torna-se complicado diminuir uma nação sabendo que existem pessoas que usam gravata e não vão a reuniões, com bancos, com uma t-shirt mal engomada e que deixa antever os mamilos.

Um dos expoentes máximos da boca ao grego, juntamente com José Rodrigues dos Santos, é Henrique Monteiro. O jornalista do Expresso, comentando o resultado do referendo, que ele tinha previsto muito dividido, numa Grécia dividida, assumiu o papel do Mutlley, o cachorro de riso cínico dos antigos desenhos animados.

Entre várias críticas e risos, Henrique Monteiro disse que não se faz um referendo numa semana para, logo a seguir, dizer que afinal isso até não é mau, quando os colegas no estúdio apertaram com ele. Henrique Monteiro é um carrinho de choque: consegue dar a volta ao volante e, de repente, entra em marcha atrás na mesma velocidade com que ia no outro sentido. Faltou pouco para Henrique Monteiro alegar que 61 em grego corresponde a 27 na nossa numeração e foi com grande pena minha que o "Não" não atingiu os 69% porque dava para o Henrique Monteiro estar ali mais meia hora a fazer gracinhas com a Grécia antiga.

Este tipo de desinformação e comentário irónico tem sido uma constante neste assunto, o que me leva a concluir que a comunicação social é a grande derrotada deste referendo grego; e por números muito maiores do que o "Sim".

Resumindo, que estou a terminar, a nossa comunicação social fez tudo para justificar o voto e a vitória do "Sim", como se fôssemos a ir votar. Fosse eu uma pessoa desconfiada e diria que estão a treinar para qualquer coisa.


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TOP 5
Gordas da semana

1 "Quarenta obras de Joana Vasconcelos expostas em Londres" - e Londres chega?

2 "Dívida pública portuguesa é a quarta mais alta entre 43 países da OCDE" - nunca chegamos ao pódio, é uma sina nossa.

3 "Holandês detido com uma faca na Portela acusado de terrorismo" - era para cortar e comer um pastel de nata com queijo.

4 "Passos Coelho declarou guerra às desigualdades sociais" - vai desfazer tudo o que fez???

5 "Venda da TAP envolta em controvérsia. Neeleman tem acções preferenciais, mas é Pedrosa que se assume como o líder" - enquanto a UE se distrai com os "aldrabões" gregos, aldrabamos a venda da TAP: "Mas este senhor, afinal, não manda...". "Olha ali o Tsipras de roupão!"
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