Opinião
Fazer da descarbonização e da eficiência energética oportunidades para um crescimento sustentado de Portugal
A descarbonização é uma responsabilidade de todos e uma excelente oportunidade para fortalecer a economia e contribuir para uma sociedade mais resiliente e socialmente justa.
O plano nacional de recuperação da economia assegura um papel primordial para a denominada Economia Verde. Afinal, é a própria Comissão Europeia, nas palavras da sua Presidente, Ursula von der Leyen a propor "aumentar os objetivos para redução de emissões de dióxido de carbono em pelo menos 55% até 2030 face a 1990", para além de assegurar com a emissão de uma dívida verde com uns astronómicos 225 mil milhões de euros.
Em Portugal, mais do que palavras de circunstância que corroboram os intentos comunitários, cabe agora a todos os agentes económicos avançar com uma estratégia que visa diminuir drasticamente os valores de CO2 emitidos para a atmosfera, sem que isso signifique uma perda da competitividade do tecido empresarial – bem pelo contrário.
Em paralelo, a transformação digital já chegou, o que motiva mudanças comportamentais, inclusivamente, na mobilidade, no trabalho ou mesmo no lazer. É uma revolução com vastas implicações na utilização de energia e da eletricidade em particular, que ganhará um destaque crescente no mix energético.
Mais a fundo, podemos falar numa "Estratégia Verde para Portugal"? O Plano de Recuperação e Resiliência, apresentado ao país em outubro do ano passado, aponta, nesse sentido, para três medidas no âmbito da transição climática: descarbonização e bioeconomia; eficiência energética e renováveis; e mobilidade sustentável. Com previsões de investimento a apontar para 2.703 milhões de euros, nestes domínios.
No caso da descarbonização da indústria, espera-se apoiar o tecido empresarial a adotar estratégias que tornem as suas atividades menos dependentes de fósseis. Menciona-se o Plano Nacional Energia e Clima 2030 (PNEC 2030), que define metas para a redução de emissões (45% - 55%) em relação a 2005, de incorporação de renováveis (47%) e de eficiência energética (35%).
Para melhorar a eficiência energética, a reabilitação do parque imobiliário é prioritária, de modo a não só cumprir as metas em matéria energética e climática, mas no aumento do seu desempenho energético e redução da pobreza energética. Também se espera que o hidrogénio verde apresente uma solução limpa para os processos industriais intensivos e, inclusive, para o armazenamento de energia produzida através de fontes renováveis. Sem esquecer o seu papel para o incremento de combustíveis renováveis, como os sintéticos, para o setor dos transportes marítimos e aviação.
Mas, que exemplos práticos temos da transição energética?
Fruto das suas características, Portugal tem elevados recursos quanto à energia eólica, os quais encontram-se a ser aproveitados há quase duas décadas. Também a exposição solar aponta para um enorme potencial, procurado por empresas nacionais e estrangeiras.
Ou seja, há potencial endémico para o país tornar-se menos dependente da importação energética. Com ganhos para a economia do país, por via de inevitáveis investimentos e do desenvolvimento das mais variadas indústrias e serviços de suporte à consecução e sucesso desses mesmos investimentos. Mas também com mais emprego, em larga medida, de pessoas com formação técnica e superior.
Também do lado da procura sente-se uma vontade de adotar novos comportamentos. Há uma responsabilidade e exigência social que não permitem outro caminho que não a definição de uma estratégia que incorpora os valores da economia verde, cada vez mais focada em energias 100% limpas e renováveis.
E tal já se verifica nos setores automóvel e dos transportes, com a adoção das melhores práticas e recomendações, quer do ponto de vista tecnológico com a crescente adoção dos veículos elétricos, quer do ponto de vista comportamental, com o consumo de energia verde e a promoção da mobilidade suave e partilhada. Também é notável a alteração de mentalidade em setores tradicionalmente reconhecidos pela sua capacidade exportadora, como os têxteis, calçado ou retalho, cujas crescentes preocupações ambientais são também fundamentais para a reputação das marcas e exemplo junto de clientes, fornecedores e outros parceiros. O consumo de energia renovável resulta para estes setores como um vetor competitivo e efetivo para a descarbonização.
A sociedade civil cumpre o seu papel e estimula os decisores políticos a cumprir um desígnio global. A descarbonização é uma responsabilidade de todos e uma excelente oportunidade para fortalecer a economia e contribuir para uma sociedade mais resiliente e socialmente justa.