Opinião
As mais-valias da banca cooperativa
O sistema bancário em Portugal, poderá dizer-se, está organizado em quatro grandes grupos societários. O banco público, a banca privada, a banca mutualista e a banca cooperativa.
Quanto ao primeiro, facilmente se percebe o seu alcance e a virtualidade da existência de um banco público forte que, além do mais, desempenhe um papel de regulador do mercado bancário. A banca privada terá sempre objectivos empresariais e a sua acção funcionará sempre em qualquer lugar com interesses accionistas. A terceira funciona numa lógica social podendo desenvolver uma banca relacional.
A banca cooperativa desenvolve uma prática de banca de proximidade desempenhando um papel de integração e marcadamente territorial permitindo compensar a tendência centrípeta do negócio bancário desenvolvido em mercados amplos e globalizados, fazendo um caminho diferenciado dos restantes modelos.
Mas afinal o que é um banco cooperativo? O princípio do cooperativismo, em que "um homem, um voto", não é assim tão simples no caso das cooperativas de crédito, devidamente reguladas pelas entidades de supervisão. De forma simples define-se que uma cooperativa de crédito é uma instituição financeira cujos sócios são membros em que o capital não conta para efeitos de votos, mas sim a pessoa.
O capital dos bancos cooperativos, em geral, é em grande parte dos próprios bancos. Numa similitude com outras sociedades são equivalentes a acções próprias, não existindo efectivamente acções, mas títulos de capital cujos detentores são os seus associados.
O movimento cooperativo de crédito em Portugal tem mais de 100 anos e o seu crescimento e desenvolvimento tem vindo a consolidar-se de forma consistente, exercício após exercício, incorporando nos fundos próprios de cada uma das instituições os resultados da sua actividade, permitindo-lhe aumentar o negócio de forma crescente reforçando a sua presença no mercado e demonstrando uma solidez ímpar, patenteada na sua resiliência em contexto de crise económica que se transformou numa crise bancária.
Devido às suas características de proximidade e integração, os bancos que assentam no modelo cooperativo podem actuar em nicho de mercado, onde outros apenas vêem dificuldades. Estão focalizados no financiamento às actividades económicas das regiões contribuindo de forma decisiva para a empregabilidade indirecta dessas regiões e a fixação das populações. Por vezes, a cumplicidade das populações vai muito além da relação bancária, sendo a agência uma unidade de apoio social impossível de copiar por qualquer instituição.
A aquisição de produtos e serviços a fornecedores locais é outro elemento importante no clima relacional estabelecido entre os bancos que assentam no modelo cooperativo e a comunidade local.
Há bons exemplos de banca cooperativa na União Europeia, como é o caso do Rabobank, na Holanda, e o Raiffeisen, na Áustria, entre outros. Portugal não é excepção: a banca cooperativa é desenvolvida pelas Caixas de Crédito Agrícola, integradas no Grupo Crédito Agrícola, representando o sétimo maior grupo a operar em Portugal com operação exclusiva em mercado doméstico.
A relação, a proximidade, a confiança e a simplicidade são as características do negócio bancário das Caixas Agrícolas que desempenham um papel fundamental nos equilíbrios regionais e contribuem de forma decisiva para a redução das assimetrias entre o urbano e o rural, o litoral e o interior.
A resiliência deste grupo está pois patente no seu modelo de negócio, único, optimizado com actuação em nicho de mercado. As populações agradecem o contributo das Caixas Agrícolas pela sua acção. O país precisa deste modelo de banca.
Presidente do CAE da Caixa Central