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Opinião
26 de Agosto de 2013 às 00:01

A ameaça da aquisição hostil e os "Activist Investors"

Aquele que era no passado considerado um dos maiores mecanismos de auto-regulação de mercados – a aquisição hostil, aparenta estar a perder o seu lugar para os activist shareholders, ou accionistas activos.

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A possibilidade da Aquisição Hostil é considerada um dos maiores mecanismos de auto-regulação de mercado, pois coloca pressão sobre a equipa de gestão para maximizar o valor da empresa, sob pena de serem vitimas de um "takeover". Isto é, não é a Aquisição Hostil em si, mas a simples ameaça de poder ocorrer, que impõe disciplina na equipa de gestão.

Decorriam os anos 70 e 80 quando as aquisições hostis eram uma prática frequente. Empresas pouco eficientes, ou grandes conglomerados que pudessem ter um valor superior se separados, eram facilmente identificados, sendo então alvos de uma tentativa de aquisição, nomeadamente por parte dos conhecidos "Corporate Raiders". Muitas vezes, o ego dos investidores/gestores também influenciava largamente a decisão, levando a aquisições que não acrescentavam valor à empresa que adquire.

Apesar das inúmeras medidas de defesa face a "takeovers" e da regulação desenvolvida no campo, o frenesim prolongou-se durante os anos 90.

Desde aí, no entanto, com todas as pressões externas que obrigam as empresas a maximizar o valor para o seu accionista, tornou-se mais difícil identificar alvos. Aliado a isto, a incerteza económica que se tem vivido e o custo de oportunidade em termos de tempo para a quem adquire, têm aumentado o risco destas transações. Com efeito, durante os anos 80 e 90, assistiu-se, respectivamente, a 750 e 818 ofertas de aquisição hostil, ao passo que de 2000 até hoje fica pelos 346, contando 2013 apenas com 4 ofertas hostis. (fonte: Thomson Reuters One)

Apesar desta tamanha redução, tem-se assistido a um crescimento constante de outro tipo de pressão sobre as empresas: o "activist shareholder". Ao passo que no passado os investidores tentavam adquirir uma posição de controlo de forma a obter controlo directo sobre o "board", este "novo" tipo de investidor tem um "modus operandi" ligeiramente diferente. Através da aquisição discreta de uma posição qualificada grande (i.e perto de 10%, apesar de por vezes ser superior), o investidor tenta depois influenciar o "board" de forma a implementar a sua estratégia.

É mesmo comum estes investidores conseguirem um lugar no "board" caso a equipa de gestão aceite seguir a sua direcção estratégica. Caso não seja aceite, é então comum assistir-se às chamadas "proxy fights", nas quais o investidor aborda outros acionistas de forma a angariar votos suficientes para expulsar a atual equipa de gestão e a substituir por um CEO à sua escolha.

Esta forma de ativismo tem gerado retornos bastante positivos e contribuído para modelos de governo corporativo mais sólidos, não sendo por isso surpreendente o aumento que se tem verificado. Em 2000, apenas se registaram 31 intervenções deste tipo. Já em 2010 existiram 156 intervenções e em 2012 o numero subiu para 348, contando em 2013 já com 158 intervenções.

Dois acontecimentos recentes chamaram a minha atenção. O primeiro envolve um dos maiores fundos soberanos do mundo, o fundo Norueguês, que anunciou recentemente que vai passar a ter uma posição mais ativa nas empresas que detém, sendo a Volvo o seu primeiro alvo.

O segundo está ligado à Apple. A empresa tem uma posição de caixa elevada e não tem forma de gerar um retorno sobre este montante. Diversos investidores como Warren Buffet, David Einhorn, e mais recentemente, Carl Icahn, incentiveram a empresa a distribuir parte desse montante pelos seus acionistas, através de dividendos e planos de re-compra de acções, tendo conseguido efectivamete maximizar os seus retornos.

É certo que nem todos os investimentos têm o desfecho desejado, mas a tendência sugere que este novo tipo de investidores, e a respectiva pressão que exercem sobre as equipas de gestão de empresas, está para ficar.

*Presidente na Nova Investment Club

 

(Este artigo de opinião foi escrito em conformidade com o novo Acordo Ortográfico)

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